“O vírus não respeita fronteiras. Mostra nossas interconexões e aponta para nossas vulnerabilidades. O combate a esta pandemia exige uma resposta global com espírito de solidariedade, que seja transparente, robusta, coordenada, de larga escala e baseada na ciência. Estamos fortemente comprometidos a apresentar uma frente unida contra essa ameaça comum”, afirma a declaração conjunta formulada pelos países que compõem o G20 (grupo que reúne as 20 maiores economias mundiais).
A reunião desta quinta-feira, 26, foi realizada por videoconferência para tratar de medidas mundiais para o enfrentamento da pandemia causada pelo coronavírus, em especial para deter o desemprego e restabelecer o crescimento econômico.
No documento, os líderes dos países se propõem a “tomar todas as medidas de saúde necessárias e buscar garantir financiamento adequado para conter a pandemia e proteger as pessoas”, além de elevar a capacidade de produção no setor relacionado à Saúde para atender à demanda por suprimentos médicos, que, segundo o documento, devem ser disponibilizados “a preço acessível de forma ampla e equitativa”.
O G-20 exorta todos os países a “apoiarem ainda mais a Organização Mundial da Saúde (OMS)” e se comprometem a destinar “de forma voluntária recursos para as organizações Fundo de Resposta Solidária ao Covid-19, da OMS; à Coalizão para as Inovações e Preparo para o Enfrentamento de Epidemias e à GAVI, Aliança Mundial para Vacinas”.
O documento também fala em um aporte de US$ 5 trilhões de dólares para a adoção de “medidas imediatas e vigorosas” para evitar que as economias dos países colapsem em especial as dos países mais frágeis economicamente, neste ponto referindo-se especialmente aos países africanos a quem se propõem o “financiamento humanitário e apoio ao desenvolvimento”.
No entanto, o documento, no qual se propõem a “fazer o que for necessário”, para “minimizar o dano social e econômico da pandemia, manter a estabilidade do mercado e retomar o crescimento econômico mundial e elevar a resiliência”, não especifica os processos que permitirão a arrecadação daquele valor, limitando-se a acepções vagas como aportes advindos de “políticas fiscais, medidas econômicas e títulos garantidos”, mediante “ação coordenada dos ministros de finanças e presidentes dos Bancos Centrais”. Também não especifica a forma ou rumos da destinação destes recursos.
Diz o documento que tal aporte pelas nações “será voluntário” e adianta que a ação coordenada envolverá organizações internacionais, especificando a OMS, a ONU e (os mais do que suspeitos) Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial.
Em seu pronunciamento, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou que a gravidade da crise demanda mudanças. Ele propôs o que chamou de “corredores verdes de comércio”, com a suspensão de todas as sanções impostas por iniciativa dos EUA, contra países como Irã, Síria e Cuba. Também advogou a unificação dos esforços globais no terreno farmacológico, na produção de testes, medicamentos e na materialização de uma vacina contra o Covid-19.
Diante da falta de medidas objetivas, organizações sociais e economistas criticaram a postura ainda “alienada” que o documento manifesta frente a gravidade da crise.
Nick Dearden, diretor da organização de advogados, Global Justice Now, destacou que a pandemia urge mudanças profundas. “Mesmo no melhor cenário, no qual a crise humanitária seja contida, a economia não pode retornar ao status quo anterior, onde prevalece a desigualdade global”.
“Bolsonaro ESTÁ FORA DA REALIDADE”
Ele se referiu a assertivas de alguns dos presidentes, aí incluído o do Brasil, Bolsonaro que “no seu desespero de voltar aos ‘negócios como de costume’ se mostram totalmente fora da realidade”, na qual os dados do número de infectados já mostram que a pandemia atinge mais de meio milhão de pessoas em todo o planeta.
“Chega de apenas jogar dinheiro aos que dirigem a desigualdade e a vulnerabilidade do nosso sistema econômico”, afirmou a Chema Vera, diretora executiva da Oxfam International.
“No apoio aos países em desenvolvimento, as pessoas mais ricas e as corporações – por meio de impostos – podem ajudar nisso”, acrescentou Vera.
“Somente uma muito ampla intervenção nos mercados, cancelamento sem precedentes das dívidas, reforma financeira e massivo fortalecimento do setor público em nível mundial pode restaurar o emprego e tratar dos problemas da desigualdade que apresentam uma ameaça à sociedade global”, afirmou Dearden.
Os países da União Europeia assistiram à conferência virtual e a presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen, fez uma crítica aos líderes dos países filiados ao organismo que preside: “Quando a Europa realmente precisou de um espírito de ‘todos por um’, muitos inicialmente deram a resposta de ‘só por mim’”.
O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, considerou que as medidas econômicas tomadas pela União Europeia para mitigar a falência econômica devido ao Covid-19 “não chegam nem perto do suficiente, são muito tímidas”.
Ele disse que tanto ele quanto o premiê da Espanha, Pedro Sanchez, enfatizam que é necessário mais para atender à carência dos países mais atingidos.
Conte classificou o aporte proposto pela UE até agora como “inaceitável” e declarou que o momento exige “medidas financeiras inovadoras”.