“Gritaremos em alto e bom som que a água é nossa e não pode estar nas mãos de meia dúzia de rentistas”, afirmou o presidente da UMES, Lucca Gidra, durante o ato
Na manhã deste domingo (23), estudantes e trabalhadores encerraram a semana de mobilizações em defesa da Sabesp com um ato na Avenida Paulista. Organizada pela União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP) e pelo Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), a caminhada saiu da Praça do Ciclista em direção à sede da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp), onde o ato foi encerrado.
Lucca Gidra, presidente da UMES, explicou que a semana contou com mobilizações em todas as regiões de São Paulo com o objetivo de dialogar com a população e denunciar os prejuízos, caso a proposta de privatização se concretize. “A água é um direito fundamental e essencial para a vida, não podemos permitir que algo tão importante seja transformado em mercadoria que, para se ter acesso, precisa ter dinheiro. Além disso, a Sabesp foi construída com o trabalho e suor do povo, é uma empresa lucrativa e essencial para o desenvolvimento de São Paulo e do país” disse Lucca.
“A Sabesp não só é autossustentável, como ainda coloca dinheiro nos cofres públicos. Recurso esse que tanto pode ser usado para aumentar a cobertura do saneamento, quanto ser investido em educação, saúde e moradia, por exemplo. Os estudantes cumpriram importantes tarefas ao longo da história do Brasil defendendo as riquezas e interesses do povo. Agora, assim como foi na campanha do ‘Petróleo é Nosso’, gritaremos em alto e bom som que a água é nossa e não pode estar nas mãos de meia dúzia de rentistas”, completou o líder estudantil.
A campanha começou na terça-feira (18) com uma panfletagem no Terminal Lapa (ZO), passando durante a semana, na Praça do Forró, em São Miguel Paulista (ZL), Praça Ramos, no centro histórico, Terminal Santo Amaro (ZS) e Terminal Tucuruvi (ZN), antes do ato desse domingo.
O presidente do Sintaema, José Faggian, afirmou que essa foi uma semana muito importante para a luta em defesa da Sabesp a da água como direito. “O pessoal da UMES encabeçou essa campanha, produzimos o material para poder dialogar com a população e o finalizamos num grande ato aqui na Paulista, sempre nesse intuito de dialogar com a população que será a principal prejudicado, caso os serviços públicos, em especial a Sabesp e a água, sejam privatizadas”, destacou.
“Então a gente vem aqui hoje, cumprir esse papel de dialogar com a população mostrando que a Sabesp é uma empresa pública, que presta um serviço essencial de qualidade para população de São Paulo e que se ela for privatizada, a tarifa tende a aumentar, a qualidade do serviço tende a piorar e os principais prejudicados serão o povo, então ele tem que sair dessa bolha e para isso é fundamental, lógico, que os estudantes, mas também de todos os setores da sociedade, da juventude, do movimento social entendam isso e possam ajudar a tocar essa luta. O problema da privatização do serviço essencial não é apenas trabalhadores da SABESP, mas um problema de todo o povo de São Paulo”, continuou Faggian.
ÁGUA É DIREITO HUMANO
Lucca e Faggian ressaltaram que a água é direito humano reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) já desde 2010 e que o acesso deve ser garantido independente da capacidade ou não de pagamento. “E quando a gente pega uma coisa como a água e coloca uma empresa cujo único objetivo é ter lucro prestando esse serviço, a gente perde esse principal objetivo que é de levar água, saúde, saneamento para população com serviço universalizado. O setor privado não vem para produzir água, para entregar água para população, para produzir saneamento. Vem para ter lucro e se for privatizado esse vai ser o final. Então a gente precisa conscientizar o povo e barrar o processo de privatização”, completou o presidente do Sintaema.
O ato saiu da Praça do Ciclista e terminou em frente a sede da FIESP. Durante todos os trajetos populares que passavam pela passeata se manifestaram contra a privatização buscando adesivo e panfletos distribuídos pelos organizadores.
“Essa unidade da UMES, CTB e Sintaema é uma coisa muito importante. Essa semana, essa unidade foi para a periferia conversar com o povo e o sentimento que percebemos é de que a Sabesp não deve ser privatizada. Isso porque a privatização ela tem como fundamento principal nada diferente de queda na qualidade do serviço e tarifa lá em cima em nome do lucro. Vai deixar muita gente sem água, inclusive aqui de São Paulo, que não vão conseguir pagar. Então, essa luta é uma luta muito importante para que a gente possa garantir o serviço de qualidade e garantir preço justo”, disse Ubiraci Dantas, vice-presidente nacional da CTB.
Para Renê Vicente, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil em São Paulo (CTB-SP) enfatizou a importância dos estudantes se somarem na luta contra a privatização. “Os estudantes, a UMES, ao se somarem a essa luta, eles contribuem muito para a conscientização da classe trabalhadora a respeito da importância do sistema de saneamento aqui no estado de São Paulo, que Tarcísio quer transformar em mercadoria”, disse Renê.
Luana Alves, vereadora pelo PSOL na cidade de São Paulo, lembrou que o caráter do setor privado é ter lucro e que nenhuma empresa privada vai continuar a operar em regiões onde houver prejuízo. “Empresa não faz caridade. Vou falar uma coisa pra vocês, a cidade de São Paulo tem um fundo municipal de saneamento e infraestrutura que recebe 7% do faturamento da Sabesp na cidade. A cidade de São Paulo ganha da Sabesp mais de R$ 500 milhões no ano que vai direto para esse fundo. Se privatizar, acaba o financiamento do saneamento e da infraestrutura. São Paulo vai perder recurso público. Nenhuma empresa privada que quiser comprar a Sabesp vai garantir esse recurso para a cidade de São Paulo”, disse a parlamentar.
A ex-vereadora Lídia Correa alertou sobre os impactos da privatização da água na saúde pública. “Água tratada, esgoto tratado é um bem de extrema necessidade para a saúde da população. É um serviço que precisa de grandes investimentos para levar água tratada para todos os rincões da nossa cidade, de nosso estado. É fundamental para nossa saúde pública, é preciso que seja uma empresa pública para poder realizar o trabalho que precisa ser feito nessa área. Entregar a Sabesp para iniciativa privada, para alguma empresa estrangeira que só quer lucro, nós já conhecemos muito bem a história, vivemos isso em São Paulo, olha o caso da Enel, serviço ruim e preços abusivos. Em todas as empresas que foram privatizadas o que a gente vê é o serviço se tornar cada vez mais precário e a tarifa crescer. Portanto, defender a Sabesp é defender a saúde pública, é defender este bem maior, é defender o direito à água tratada”, disse.
SABESP É A 3ª MAIOR DO MUNDO
Gabriel Gonçalves, representando o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), lembrou que a tarifa social no Rio de Janeiro com a privatização da Cedae já aumentou. “Foi para R$ 46. Quando falamos de Sabesp, não estamos falando de qualquer empresa, estamos falando da terceira maior do mundo e que tem a maior lucratividade no país. Se a gente for fazer um dado econômico, ela gera mais de R$ 2,8 bilhões, sendo que a empresa entre lucro e patrimônio tem 10% por cento, ou seja, ela é mais lucrativa do que qualquer outra empresa. Somente o banco com ações em diversos outros setores tem isso no país. A privatização da Sabesp é para atender o interesse do setor financeiro que está tentando se apropriar das empresas públicas porque elas são rentáveis”, disse Gabriel.
Antônio Pedro, o Tonhão, organizador do Movimento de Defesa da Moradia (MDM) destacou que a população da periferia e das regiões mais pobres do estado que mais sofrerão com a privatização da Sabesp. “Empresas privadas têm sobretudo o interesse do lucro não vão garantir o atendimento nessas situações de vulnerabilidade. Então essas áreas, essas regiões, essas cidades sofrerão com a falta do atendimento de saneamento. Isso seria uma tragédia para saúde pública, porque a água é fundamental para a garantia da saúde das pessoas”, lembrou.
RODRIGO LUCAS