“Brasil e China são grandes nações em desenvolvimento com impacto global. Ambas são ainda parceiras estratégicas abrangentes que possuem interesses em comum e assumem amplas responsabilidades no cenário internacional”, ressaltou Tian Min, cônsul-geral da China no Rio de Janeiro, ao abrir o encontro promovido pelo Consulado da China com jornalistas brasileiros realizado nesta quarta-feira (28).
“Desde o estabelecimento das relações diplomáticas, em 1974, a cooperação entre os dois países tornou-se um modelo para outras nações e regiões. Diante de uma situação internacional cada vez mais complexa, as relações sino-brasileiras permanecem estáveis, a compreensão entre os países segue avançando, assim como o conhecimento cultural mútuo”, acrescentou Tian Min, no encontro do qual participaram, junto à equipe de especialistas consulares, os jornalistas Alessandra Scangareli Brites, do veículo Intertelas, Henrique Gomes Batista, do jornal O Globo e Nathaniel Braia, do jornal Hora do Povo.
Pela equipe chinesa participaram, além da cônsul-geral, o cônsul, Yang Huiquan, a secretária da cônsul-geral e vice-cônsul, Cai Zhiwen e os vice-cônsules Duan Yunxuan e Zeng Can.
RELAÇÕES COMERCIAIS
“Como está a percepção chinesa a respeito da importância do intercâmbio científico e tecnológico do Brasil com a China, como tem sido o crescimento do intercâmbio comercial entre nossos países?”, perguntou Braia, que também destacou o convergência das posições do Brasil e da China por uma solução negociada para se chegar à superação do conflito na Ucrânia.
A primeira questão foi tratada pela vice-cônsul e secretária da cônsul-geral da China no Rio, Cai Zhiwen, que destacou o aumento de “21 vezes no intercâmbio comercial entre os dois países desde quando Lula fez a primeira visita do Presidente Lula à China em 2004”.
“O Brasil foi o primeiro país da América Latina a ter um volume de comércio bilateral com a China superior a 100 bilhões de dólares, ultrapassando a marca dos 100 bilhões de dólares por cinco anos consecutivos desde 2018. Desde 2009, a China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil por 14 anos consecutivos”, acrescentou Zhiwen.
Ela enfatizou a condição do Brasil como o nono maior parceiro comercial da China e o maior destino de exportação e fonte de importação da China na América Latina. “A China também é uma importante fonte de investimento para o Brasil, que é o país que mais recebe investimentos chineses na América Latina”.
CHINA E BRASIL A FAVOR DA SAÍDA NEGOCIADA DA CRISE NA UCRÂNIA
Sobre a crise ucraniana, discorreu o vice-cônsul,Zeng Can, ressaltando que “desde o agravamento da crise na Ucrânia, a China, como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, manteve uma posição objetiva e imparcial para, ativamente, promover conversações para a paz. O presidente Xi Jinping tem se comunicado com os líderes da Rússia, da Ucrânia e de outras partes, pedindo negociações de paz o mais cedo possível”.
Can destacou “os quatro princípios propostos pelo presidente Xi Jinping, de que a soberania e a integridade territorial de todos os países devem ser respeitadas, os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas devem ser observados, as preocupações legítimas de segurança de todos os países devem ser levadas a sério e todos os esforços que levam à resolução pacífica da crise devem ser apoiados”.
“Esses princípios”, esclareceu, “são base fundamental para a China contribuir para promover uma solução política para a crise na Ucrânia”.
“Em 24 de fevereiro deste ano, a China emitiu o documento ‘Posição da China sobre a solução política da crise na Ucrânia’, que apresenta 12 propostas, respetivamente, respeitar a soberania de todos os países, abandonar a mentalidade da Guerra Fria, sustar a guerra com um cessar-fogo, iniciar conversações de paz, resolver a crise humanitária, proteger civis e prisioneiros de guerra, manter a segurança das usinas nucleares, reduzir riscos estratégicos, proteger o transporte de alimentos, interromper as sanções unilaterais, garantir a estabilidade de suprimento da cadeia industrial e promover a reconstrução pós-guerra”.
Segundo o diplomata, “a China não tem interesse próprio nesta crise, não se envolve em ‘pequenos grupos’, não coloca óleo no fogo, através do envio de armas, e nem aproveita a oportunidade para obter lucros. A China sempre acredita que, para resolver essa crise, que tem raízes complexas e grande influência. É necessário não apenas promover conversações para a paz e uma trégua o mais rápido possível, mas também promover a construção de uma estrutura de segurança europeia equilibrada, eficaz e sustentável”.
“Para isso, a comunidade internacional deve aderir a um conceito de segurança comum, abrangente e cooperativo, a fim de manter melhor a paz e a estabilidade mundiais”.
Ele destacou que “o presidente Lula também trocou opiniões com o presidente Xi Jinping sobre a crise na Ucrânia durante sua visita à China em abril. Os dois lados concordaram que o diálogo e as negociações são a única saída viável para a crise na Ucrânia, todos os esforços que conduzam a uma resolução pacífica da crise devem ser incentivados e apoiados, conclamaram mais países a desempenhar um papel construtivo na promoção de uma solução política para a crise e decidiram manter a comunicação a esse respeito”.
INTERCÂMBIO CULTURAL
A jornalista Alessandra do Intertelas, tratou da importância do intercâmbio cultural para o aprofundamento das relações entre os dois povos. Também destacou o avanço tecnológico chinês na produção de trens e acrescentou que a China poderia dar grande contribuição ao Brasil no desenvolvimento e modernização da nossa malha ferroviária.
Acerca da questão cultural, a cônsul-geral afirmou que, nas áreas da educação e da cultura, é crucial a ampliação do ensino da língua chinesa no Brasil, assim como do português na China.
Tian Min aproveitou a questão levantada por Alessandra para citar adeclaração conjunta sino-brasileira “por ocasião da bem-sucedida visita à China encabeçada pelo presidente Lula”:
“A declaração menciona que ambos os lados enfatizam a importância da cooperação em áreas como cultura, turismo, educação e esportes, setores que desempenham um papel positivo em promover o entendimento mútuo entre as sociedades dos dois países. Ambos os lados vão trabalhar juntos para fortalecer o intercâmbio cultural”.
“Ambos decidiram promover a implementação de acordos relevantes para a co-produção de programas de televisão e filmes entre os dois países, a fim de deslanchar o intercâmbio no campo da produção audiovisual e fortalecer os laços sociais e culturais entre a China e o Brasil”.
Na declaração, acrescenta a cônsul, se reitera “a disposição de promover o intercâmbio entre instituições de pesquisa e educação e estudantes de ambos os países, promover ainda mais o ensino de chinês no Brasil e o ensino de português no Brasil na China, incentivar mais estudantes chineses a realizar intercâmbios acadêmicos no Brasil”.
RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS BRASIL-CHINA
Segundo ainda a diplomata, a abrangência e a reciprocidade das relações são um exemplo nos quadros multilaterais, trazendo energia positiva e estabilidade para o mundo. “A história desta relação chega, neste ano de 2023, ao seu trigésimo aniversário. Uma jornada que teve início em 1993, com o estabelecimento da parceria estratégica entre o Brasil e a China, a primeira do tipo entre países em desenvolvimento”, destacou.
“No encontro do presidente Lula com o presidente Xi Jinping se chegou a um consenso em diversas questões e foi assinada uma série de documentos que compreendem áreas como: comércio, investimento, finanças, economia digital, telecomunicações, inovação tecnológica, aviação espacial, segurança alimentar, intercâmbio de mídia, entre outros. Questões internacionais e regionais também foram tópicos centrais nesta visita como mudanças climáticas, a crise na Ucrânia e a cooperação global entre a China e a América Latina”.
JUNTOS PELA PAZ MUNDIAL E O DESENVOLVIMENTO
A cônsul Tian Min destacou ainda que, diante dos crescentes desafios globais, China e Brasil farão maiores contribuições para a manutenção da paz mundial e a promoção do desenvolvimento e da modernização comum, inclusiva e de benefício mútuo. “No campo da proteção ambiental e mudanças climáticas, o financiamento, a colaboração para promover a agricultura sustentável e o desenvolvimento tecnológico são pontos que Brasil e China têm espaço amplo para cooperação. Quanto à questão de saúde pública, a colaboração e compartilhamento no campo da pesquisa, além do suprimento de insumos médicos são a resposta para o enfrentamento de pandemias e outras situações equivalentes que podem ocorrer no futuro”.
Os diplomatas chineses também salientaram que Brasil e China são os maiores países em desenvolvimento, no Ocidente e no Oriente, respectivamente e, consequentemente, tornam-se representantes significativos de suas regiões, auxiliando o mundo em desenvolvimento a ter mais destaque e assertividade em suas demandas e objetivos perante a comunidade internacional. “É importante lembrar que o Brasil e a China estão vivenciando um estágio crítico de seus processos históricos. A China está direcionando seus esforços para o desenvolvimento de qualidade e para a abertura de alto nível ao exterior, objetivando o rejuvenescimento da nação chinesa; já o governo brasileiro quer promover ativamente a reindustrialização da economia nacional e aplicar esforços na construção moderna do país”, observou a cônsul Tian Min.
Acerca dos trens chineses, a cônsul agradeceu o reconhecimento da jornalista Alessandra quanto ao desenvolvimento em seu país e afirmou o interesse da China em contribuir com o setor. “Mas há trâmites diversos que apontam ainda a um longo caminho a percorrer até que haja a participação chinesa no setor ferroviário brasileiro”, disse Tian Min
A COMUNIDADE CHINESA NO BRASIL
.Por fim, a equipe consular referiu-se à questão levantada pelo editor de Mundo, do Globo, Henrique Gomes, sobre a relação entre a comunidade chinesa e o Brasil.
Segundo o cônsul Yang Huiquan, atualmente há mais de trinta universidades e instituições que ensinam portuguêsaos jovens chineses. Já no Brasil, ainda há falta de professores de mandarim. No entanto, a cidade e o Estado do Rio já contam com um Instituto Confúcio, que se localiza na PUC-Rio e o Confucius Classroom que fica na Universidade Federal Fluminense (UFF). Em especial, nos últimos anos, a diplomacia chinesa colaborou com programas do Governo do Estado do RJ e com os Governos Municipais para difundir o ensino do mandarim em escolas públicas cariocas e fluminenses, a exemplo do início das aulas mandarim para os policiais voltados ao turismo em convênio com a BPTur.
“A comunidade chinesa no Brasil tem em torno de 200 a 300 mil integrantes, a maioria na cidade de São Paulo e, no conjunto, com significativa atuação na economia do país, e que cada vez mais integra-se à sociedade brasileira, já considerando o Brasil como sua segunda casa”, explicou o vice-cônsul Duan Yunxuan. De acordo com o diplomata, da mesma forma que a comunidade chinesa no Brasil vem crescendo, o número de empresas chinesas que chegam ao Brasil e ao Estado do Rio vem aumentando nos últimos anos.
“Hoje há cerca de 25 mil chineses nos quatro estados que estão sob nossa jurisdição: Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. Na cidade do Rio, o bairro da Tijuca e o Centro são as regiões onde se concentra o maior número de chineses que atuam no setor do comércio de varejo de pequenos produtos e restaurantes principalmente. Ao todo, existem seis associações da comunidade chinesa na cidade e que, em conjunto com a população carioca e fluminense, atuaram para amenizar os desafios que surgiram em momentos críticos como na pandemia e em desastres naturais. Especificamente os chineses contribuíram com suprimentos médicos e cestas básicas aos mais afetados”, informou o diplomata.
NATHANIEL BRAIA
Matéria produzida em parceria com Alessandra Scangareli Brites / Intertelas