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“O Mourão faz o seu trabalho, tem uma independência muito grande. Por vezes, aí, atrapalha um pouco a gente”, completou o presidente da República, que vive perseguindo o vice-presidente Hamilton Mourão
Sem traquejo ou respeito, o presidente da República Jair Bolsonaro comentou, nesta segunda-feira (26), sobre a relação dele com o vice-presidente Hamilton Mourão. O mandatário comparou o general a um “cunhado” e relatou que o vice possui “independência muito grande” que por vezes, na visão de Bolsonaro, acaba atrapalhando.
Uma no cravo e outra na ferradura. É assim a relação política entre o presidente e o vice. Bolsonaro vive às turras com Mourão. O chefe do Executivo não perde a chance de criticar publicamente o vice dele.
“O Mourão faz o seu trabalho, tem uma independência muito grande. Por vezes aí atrapalha um pouco a gente, mas o vice é igual cunhado, né. Você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado. Você não pode mandar o cunhado embora. Então, estamos com Mourão, sem grandes problemas, mas o cargo dele é muito importante para agregar aí. Dele, não. O cargo de vice é muito importante para angariar simpatias quer seja para candidatura à Presidência, governador ou prefeito”, apontou em entrevista à Rádio Arapuan.
“EM CIMA DA HORA”
Bolsonaro falou ainda que a escolha da composição de bancada dele, assim como a de vice, ocorreu em cima da hora em 2018. “A escolha do meu vice foi muito em cima da hora. Assim como a composição da bancada, especial para deputado federal. Muitos parlamentares depois de ganhar as eleições com nosso nome, transformaram-se em verdadeiros inimigos nossos”, disse.
“Então, a gente não quer sofrer desse mesmo problema por ocasião das eleições do ano que vem, caso eu venha ser candidato a presidente, obviamente. Não estou batendo o martelo que serei, nem que não serei. O vice é uma pessoa importantíssima para agregar simpatias. Alguns falam que um bom vice ia ser de Minas Gerais, ou de um Estado do Nordeste, ou uma mulher ou de perfil mais agregador pelo Brasil. Isso está no radar de qualquer candidatura majoritária no Brasil”, agregou tentando disfarçar que não pretende a recandidatura.
FAZ QUESTÃO DE LEMBRAR
Desde o começo do ano, a relação entre Bolsonaro e Mourão ficou ainda mais estremecida após, em janeiro, o vice ter indicado a jornalistas que o presidente colocaria em prática uma reforma ministerial e que uma das trocas que deveriam ocorrer era no Ministério das Relações Exteriores, com Ernesto Araújo, que deixaria o cargo.
O mandatário rebateu secamente na ideia dizendo que o governo não precisa de “palpiteiros”.
Em seguida, outro ocorrido ajudou a aprofundar a crise, quando um dos assessores do general alertou o chefe de gabinete de um parlamentar sobre a possibilidade de o Congresso ter de começar a se preparar para analisar pedido de impeachment contra o comandante do Palácio do Planalto. Mourão exonerou o assessor envolvido no caso, Ricardo Roesch Morato Filho.
VICE DESCONVIDADO PARA REUNIÃO
A demonstração mais recente da falta de sintonia entre Bolsonaro e Mourão e da truculência do primeiro contra o segundo foi o episódio que envolveu o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Bolsonaro fez o possível para livrar o general de punição do Exército após a presença dele em manifestação a favor do governo.
Organizou até reunião, sem convidar o vice, com o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira, para defender Pazuello.
A reunião acontecera em 15 de junho. Perguntado por repórteres sobre o episódio, o vice-presidente da República afirmou que sente “falta” de ser convidado para participar das reuniões de trabalho do presidente com os ministros do governo federal.
Em contrapartida, Mourão não escondeu o incômodo com a participação do ex-ministro no ato político. Conforme disse, o Exército precisaria dar resposta para não banalizar a participação de integrantes das Forças Armadas em outros atos políticos para “evitar que a anarquia se instaure”.
Desde então, ele havia sido excluído de reuniões ministeriais. Sete meses depois, o presidente, enfim, o chamou para participar de encontro com representantes da Esplanada.
BOLSONARO NÃO DÁ ESPAÇO PARA MOURÃO
O ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro não dá nenhum espaço para o general reformado do Exército Hamilton Mourão. Mourão assumiu a Presidência interinamente apenas uma vez desde a posse, em 1º de janeiro de 2019.
Foi em 15 de maio do mesmo ano, por ocasião de viagem do presidente ao Texas (EUA). Bolsonaro se ausentou do Brasil para receber prêmio de Personalidade do Ano, que foi concedido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.
A homenagem é entregue anualmente a duas pessoas, uma brasileira e outra norte-americana, que se destacam na relação entre ambos os países.
Nem quando teve problemas de saúde e precisou se internar, como ocorreu na semana passada, Bolsonaro deu vez a Mourão transmitindo-lhe o cargo para o exercício interino da Presidência. Para o chefe do Executivo, o vice-presidente é “persona non grata” e descartável.