“Esse negócio de que ele dizia que ia defecar para a CPI foi outra mentira. Você sabe que ele teve que sair de Brasília para São Paulo para conseguir fazer isso. Outra mentira dele”, disse o presidente da CPI da Pandemia
O presidente da CPI da Pandemia, Omar Aziz (PSD-AM), disse que a Comissão voltará com os depoimentos, nesta terça-feira (3), com foco em investigar as reuniões entre o governo Bolsonaro e atravessadores que ofereciam vacinas superfaturadas e o esquema de corrupção na compra da Covaxin.
Para Aziz, “há indícios sérios de que havia vontade [do governo Bolsonaro] de tirar proveito da vacina”.
“Temos que investigar por que o Brasil não respondeu e não comprou as vacinas da CoronaVac e da Pfizer”, mas respondeu e negociou com celeridade a oferta do cabo Dominguetti, representante da Davati, disse o senador, em entrevista ao jornal Estado de Minas.
Sobre Bolsonaro dizer que “cagou” “para a CPI”, Aziz respondeu que é outra mentira de Bolsonaro.
“Esse negócio de que ele dizia que ia defecar para a CPI foi outra mentira. Você sabe que ele teve que sair de Brasília para São Paulo para conseguir fazer isso. Outra mentira dele. Até no ato de defecar o presidente mente”, respondeu.
“A arma do Bolsonaro naquele cercadinho foi sempre atacar a CPI, atacar qualquer pessoa que se contrapunha a ele, mas o mais incrível é que ele conseguia cancelar uma pessoa na internet. Fez isso com jornalistas, com mulheres jornalistas principalmente, com meios de comunicação. Tudo que ele falava, o pessoal gritava ‘mito, mito’. Só que agora, o negócio está três vezes mais embaixo”, disse.
Omar comentou que o Ministério da Saúde ignorava as ofertas de “uma empresa séria, com compliance”, como a Pfizer e o Instituto Butantan, “mas dá atenção para empresas que não têm a menor credibilidade no mercado e não tinham uma vacina para entregar”.
Na avaliação do presidente da CPI, Jair Bolsonaro e seu governo “não tinham intenção de comprar vacina” e agiam propositadamente para espalhar o vírus, apostando “na imunização de rebanho e no tratamento precoce”. Aziz acredita que isso já está provado nos documentos do inquérito.
“Não há na história do Brasil ninguém que tenha feito, nesse cargo tão importante, que os brasileiros confiaram o seu voto, tanta presepada quanto esse presidente”, disse.
Em fala dirigida para Bolsonaro, Omar Aziz falou que a CPI “mostrou a realidade de como o senhor tratou esse desastre que teve aqui no Brasil, mais de 550 mil mortos e eu tenho certeza que milhares poderiam ter sido evitadas se o senhor tivesse agido com sanidade, coisa que o senhor não fez”.
“Nós não estamos falando de coisa normal, estamos falando de vidas. Essas mortes não podem virar estatística, quem foi responsável vai ser punido. Nós estamos atrás de justiça”.
“Algumas pessoas são responsáveis pelo caos sanitário que o Brasil se tornou, pelas vidas que se perderam, e isso vai estar no relatório final”, continuou.
Nesta terça-feira (3), a CPI ouvirá o reverendo Amilton Gomes de Paula, que preside a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) e ajudou os negociantes da Davati, com o próprio cabo Dominguetti, a ter acesso ao alto escalão do Ministério da Saúde.
Na quarta-feira (4), está marcado o depoimento do dono da Precisa Medicamentos, atravessadora que vendeu 20 milhões de doses da Covaxin para o governo Bolsonaro, Francisco Maximiano. Para fugir da investigação, o empresário foi para a Índia, mas Omar Aziz disse que ainda não foi notificado oficialmente e que poderá pedir prisão de Maximiano caso ele tenha viajado depois de ser convocado para depor.
Na quinta-feira (5) será a vez do depoimento do advogado da Precisa Medicamentos “que deverá dizer quem falsificou os documentos que levaram a Bharat [Biotech, farmacêutica indiana que desenvolveu a Covaxin] a romper o contrato com a Precisa”.
Sobre esse caso da falsificação de documentos, Omar Aziz avalia que pode ser feita uma acareação, que é confrontar os depoimentos divergentes em uma mesma sessão, entre a diretora da Precisa, Emanuela Medrades, e os servidores do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, William Santana e Regina Célia.
Durante o recesso parlamentar, os membros da CPI se debruçaram sobre os milhares de documentos que estão em posse da Comissão.
CPI PEDIU AFASTAMENTO DA CAPITÃ CLOROQUINA
O senador Omar Aziz ainda informou que apresentou oficialmente um “pedido de afastamento da servidora Mayra Pinheiro”, secretária do Ministério da Saúde conhecida como “Capitã Cloroquina”.
“Ela vai ter que responder criminalmente por ter usado o meu Estado, Amazonas, de cobaia para um aplicativo criminoso que eles criaram no Ministério da Saúde para fornecer aquele tratamento precoce, aquele kit Covid. Ela é a maior responsável”.
Em um vídeo divulgado recentemente, Mayra Pinheiro aparece sendo treinada para o seu depoimento na CPI da Pandemia. Na gravação, além de mostrar total desconhecimento sobre as conclusões da ciência sobre o uso de cloroquina e outros medicamentos no tratamento de Covid-19, Mayra fala que cinco senadores da CPI farão perguntas para ajudá-la e que eles poderiam combinar perguntas e respostas.
“A gente tem que rever todo o depoimento dela e cobrar isso. A primeira coisa é saber quem são os senadores, com certeza não foi para mim que ela queria passar a pergunta, não foi para o Renan ou para o Randolfe”, comentou Omar Aziz.
“É crime ela ter afirmado aquilo, não cometeu crime só ela, mas aqueles que entraram nesse jogo dela. Isso é sério, para os senadores, inclusive”, sentenciou.