“Ele nada fez, deixou as coisas andarem”, observou o presidente da CPI
“O que a CPI apurou, desde aquele depoimento do Fabio Wajngarten (ex-secretário de Comunicação do governo), é que o governo nunca teve o interesse de comprar vacinas de empresas com compliance (observância de práticas) sérias”, afirmou o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid, em entrevista ao Correio Braziliense neste domingo (1). “Quando eles viram oportunidade de ter algum lucro pessoal, aí tiveram todo interesse, uma rapidez enorme”, acrescentou o parlamentar.
Segundo Aziz, a negociação com a Precisa e a ausência de respostas à Pfizer atestam opção por atos “não republicanos”. “E, com isso, nós deixamos de comprar vacinas em quantidade muito grande; não participamos do consórcio (Covax Facility) feito pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que daria oportunidade para vacinar 50% do povo. A gente conseguiu descobrir tudo isso. É uma pena, porque quem sofreu foram os brasileiros que perderam pessoas queridas”, lamentou Aziz.
O senador afirmou que Bolsonaro sabe que cometeu crime. “Juridicamente, ele (presidente) sabe que teve, sim, crime. Só não foi possível o pagamento porque um servidor (Luis Ricardo Miranda, do Ministério da Saúde) comunicou ao presidente o que estava se passando a respeito da Covaxin”, afirmou.
“E, mesmo assim”, prosseguiu, “ele nada fez, deixou as coisas andarem. E continuam andando. No dia 20 (de março), o servidor e o irmão dele, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), avisaram: fique ligado. Mesmo assim enviaram novos invoices (recibos de importação), mensagens dizendo que pagassem US$ 45 milhões em Cingapura, e o presidente não mandou cancelar as negociações. Foram canceladas as negociações agora, depois que a CPI expôs toda essa trama”.
“Temos que mostrar, claramente, que essa empresa (Precisa) ludibriou o governo e o povo querendo receber antecipadamente sem botar uma única vacina aqui dentro. Não é a primeira vez que ela faz isso. Fez, inclusive, aqui junto ao Governo do Distrito Federal”, afirmou o senador.
Aziz afirmou que houve crime de prevaricação por parte de Bolsonaro. “Até hoje, o presidente não desmentiu o Luis Miranda. Ele cita até o nome do líder do governo (na Câmara, deputado Ricardo Barros, PP-PR), segundo o deputado, e o presidente não tomou nenhuma providência. E Barros continua sendo líder do presidente. Por que, se no dia 20 de março, no Palácio da Alvorada, você recebe um deputado e fala, segundo contou o parlamentar, que sabe quem está por trás disso, e mantém essa pessoa até hoje como líder? Eu não sei mais o que é prevaricar”, disse.
Sobre as afirmações do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de que Bolsonaro foi bem na condução da Pandemia e diversificou nas estratégias, Aziz foi duro. “Foi uma estratégia de não responder à Pfizer? Foi uma estratégia ele dizer “vachina da China”? Isso é estratégia? Será que o ministro Queiroga acha que todo o brasileiro chupa pirulito, é criancinha? Que estratégia é essa?”, indagou.
O senador afirmou que a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro “usou o povo do Amazonas como cobaia”. “Morreram, aqui, 14 mil pessoas já”, denunciou o senador, falando sobre o pedido de danos morais, reclamado pela servidora. “Ela agiu irresponsavelmente com o povo do meu estado, e ela será, sim, indiciada, e será punida pela justiça dos homens, depois pela justiça divina, por ter causado, por ter contribuído para que essa pandemia, para que crime contra a vida fosse praticado”, garantiu.
“Depois, chega na CPI e mente. Ela tem que responder aos senadores, a partir de terça-feira, quais são os cinco senadores que ela passou as perguntas para fazerem para ela. Então, não manda ela, com um processo contra mim, querer se esquivar de perguntas que tem que responder, porque, com certeza, ela não passou nenhuma pergunta para mim, para eu fazer. Temos que saber quem são esses cinco senadores”, observou Aziz, sobre o vídeo onde ela aparece sendo preparada para o depoimento.
Sobre a acusação de que teriam sido vazados documentos sigilosos da CPI, o senador rebateu. “Não tem embasamento, não existe vazamento de nenhum documento sigiloso. O que eu vi que saiu foi uma carta que ela enviou para o governo de Portugal. Inclusive, duas tevês portuguesas me procuraram para falar sobre isso. Porque pode ter consequências em Portugal essa brincadeira dela”, afirmou.
“Ela oferece um tipo de tratamento que não deu certo cientificamente, nem aqui nem em lugar nenhum no mundo. Já não bastava ela ter cometido os crimes contra a vida no Brasil, queria também em Portugal? Se é documento secreto utilizar o Ministério da Saúde para mandar uma carta ao governo português, é secreto por quê?”, acrescentou Aziz.
O parlamentar falou sobre a tentativa de obstruir os trabalhos da CPI. “Mandar perguntas para senadores fazerem para ela. Como é que não está obstruindo a investigação?”, indagou. “Se isso não for obstrução de investigação, não sei mais o que é. Você vai ser testemunha minha e eu te digo: “Olha, você fala isso, isso e isso” — que eu te oriento como acusada. Primeiro, que uma pessoa que é testemunha, ou investigada, não pode falar com o juiz. E os senadores que ela disse que enviou as perguntas são juízes. Está todo mundo (senadores governistas) calado, ninguém respondeu. Então, o certo é ela dizer quem são esses cinco senadores aliados”.
ainda, em relação ao depoimento do deputado Ricardo Barros, Aziz afirmou que a CPI não o está investigando. “(O depoimento) não vai contribuir em absolutamente nada, porque ninguém acusou o deputado de nada. Nem a CPI o acusou”, assinalou.
“Quem disse que o presidente (Bolsonaro) teria falado no nome dele foi o deputado Luis Miranda. A coisa mais tranquila para ele, e ele nem precisaria ser convocado nem ir à CPI, era o presidente fazer uma nota de desagravo, uma live ao lado dele dizendo: “Estou aqui ao lado do meu líder, confio plenamente no Ricardo Barros e o que esse deputado (Luis Miranda) falou é mentira”. É simples assim, como diz o (ex-ministro da Saúde Eduardo) Pazuello. Quem tem que desmentir o Miranda não é o Barros, é o próprio Bolsonaro — e ele não faz isso”, destacou Aziz.