Para Reginaldo, dirigente da Nova Central, “reforma trabalhista é responsável pelo desemprego monumental e desmantelamento dos sindicatos”
A seguir, um resumo das consistentes considerações e propostas de José Reginaldo, diretor de formação da Nova Central, às vésperas da Conclat (Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras), que se realizará no dia 7 de abril, feitas durante entrevista virtual ao HP. Reginaldo, eletricitário de Minas Gerais, considera “que Bolsonaro é a soma dos defeitos de todos os presidentes de Collor para cá e desse governo não devemos esperar nem aproveitar nada”.
Para ele, “as reformas trabalhista e da previdência foram responsáveis pelo desemprego monumental, pela fome de 19 milhões de brasileiros, pelo trabalho semiescravo e pelo fim da aposentadoria para o pobre. A metade da população está desempregada ou subempregada, no desalento, na terceirização e quarteirização, na informalidade ou no trabalho intermitente, só ganhando quando trabalha, nas plataformas, sem nenhum direito, trabalhando 16 horas por dia”. “É o bico organizado”, sintetizou.
Reginaldo afirmou que a reforma acabou com a rede de proteção ao trabalho: dificultou o acesso à Justiça trabalhista e sufocou financeiramente o movimento sindical, acabando com a contribuição sindical obrigatória para toda categoria. “Isso amarrou as mãos até dos dirigentes sindicais mais autênticos e combativos. O objetivo, que alguns não entendem, era ferir de morte o sistema de representação do sindicato por categoria, e o que é mais drástico, a autonomia das assembleias”.
INFLAÇÃO É ASSALTO AO POVO PARA LATIFUNDIÁRIOS, GRINGOS E RENTISTAS
Esse governo aprofundou a crise energética, esvaziando a Eletrobrás. Desmontou a Petrobrás. “Vendeu refinarias. Vendeu a BR distribuidora. O custo de produção do Pré-Sal é de 20 a 25 dólares o barril. O Preço do barril lá fora está 120 dólares. Então, a Petrobrás deveria se fortalecer, aumentar investimentos e ainda abastecer com muito lucro o mercado interno pela metade do preço que está hoje a gasolina nos postos. Há mais de 15 anos somos autossuficientes. Produzimos três milhões de barris por dia, bem acima do que consumimos”. “Por esse assalto, tem inflação, carestia, arrocho salarial e fome. Os lucros astronômicos vão todos para os acionistas, na maioria, americanos”.
Na opinião do dirigente sindical, “na área do minério a coisa é ainda mais feia. Exportamos minério de ferro e importamos vergalhões. Entregamos nossa riqueza mineral, que deveria ser base da nossa indústria, na mão de um monopólio privado irresponsável” – isso sim, é um pleonasmo – “que quase acabou com o Estado de Minas”. “Cresceu a agricultura dos latifúndios, submissa e dependente do capital estrangeiro e financeiro. O governo acabou com os estoques de alimentos. O chamado agronegócio ficou mais à vontade, totalmente voltado para a exportação. Não paga imposto, invade ilegalmente terras indígenas e destrói o meio ambiente. Produz monocultura para exportação, comida para os porcos do mundo inteiro”.
“Possuem 220 milhões de cabeças de gado, enquanto 19 milhões de brasileiros passam fome e padecem nas filas para comprar osso, carcaça de frango e param os caminhões de lixo para a cata de alimento”, declarou.
É PRIORITÁRIO, URGENTE E FUNDAMENTAL DERROTAR BOLSONARO
“Esse governo tem aporofobia, fobia a pobre. O mais grave, que está em curso, é a desestruturação da sociedade brasileira. O prioritário, urgente e fundamental é derrotar Bolsonaro. Para derrotar tem que passar para o eleitor que o novo governo vai acabar com a fome, com o desemprego, com a inflação, etc. E, ai do novo governo se não acabar”, avaliou.
Para Reginaldo, “a política de dolarização da economia, com o real valorizado artificialmente, os juros altos, a concorrência desleal com os produtos manufaturados importados, que acabou com a indústria no país, não vem de agora. Começou com Collor, depois FHC, Lula não interrompeu e estourou com a Dilma. O que Temer e Bolsonaro colheram com a reforma trabalhista e da previdência foi semeado em 40 anos”.
“O sinônimo de Conclat tem que ser unidade dos trabalhadores. Antes de tudo, para derrotar Bolsonaro. Temos que criar polos de produção industrial, recriar nossa indústria. Apoiar o desenvolvimento tecnológico, a pesquisa de ponta, criar universidades. Em 1980, tínhamos um PIB maior que o da China. Hoje o gigante asiático tem um PIB dez vezes maior que o do Brasil. É fundamental a valorização do salário mínimo. O novo governo deve promover a reforma tributária progressiva, cobrando mais dos lucros e dividendos, das grandes heranças, do latifúndio. Colocar o Estado na produção, quando for necessário. Reestatizar o que for estratégico. Fazer a reforma agrária para modernizar a agricultura, voltada principalmente para alimentar o povo. Revogar as reformas trabalhista e da previdência, especialmente as intervenções na vida sindical. Fortalecer o servidor público. Assinar e aplicar as convenções 151 e 190 da OIT. Repor o que foi roubado dos salários dos servidores pela inflação”, propõe José Reginaldo.
CARLOS PEREIRA