Em discurso na Avenida Paulista, Jair Bolsonaro disse que não vai mais cumprir as decisões do ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos das fake news e dos ataques à democracia, e ameaçou que se ele não mudar de postura o Supremo Tribunal Federal (STF) “pode sofrer aquilo que não queremos”.
Bolsonaro prometeu colocar 2 milhões de pessoas em São Paulo, mas a avaliação da Polícia Militar é que compareceram, durante o discurso de Bolsonaro, 125 mil pessoas, espalhadas por 11 quarteirões.
“Como logo depois tenho um compromisso em São Paulo, dia 8, pretendo ocupar um carro de som na Paulista, que deve ter uns 2 milhões de pessoas. Pelo que tudo indica, vai ser um recorde de pessoas”, garantiu Bolsonaro no dia anterior ao 7 de setembro.
Isto é, compareceram na manifestação golpista apenas 6% do que estavam esperando.
Jair Bolsonaro discursou, atacando o STF e tentando inflamar seus apoiadores contra a democracia. “Temos um ministro dentro do Supremo que ousa continuar fazendo aquilo que nós não admitimos”, disse, deixando claro que ministro do STF tem que fazer só aquilo que ele e as suas milícias querem – e não o que a Constituição manda.
“Ou esse ministro se enquadra, ou ele pede para sair. Sai, Alexandre de Moraes! Deixa de ser canalha!”, insultou o ministro e o STF.
Bolsonaro expressou seu inconformismo com a atuação de Moraes na defesa da democracia ao colocar integrantes do seu bando na cadeia, como Daniel Silveira e Roberto Jefferson, que atacaram e ameaçaram de morte os ministros do STF.
“Não se pode admitir que uma pessoa apenas turve a nossa liberdade. Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil”, disse.
Jair Bolsonaro também tentou coagir – é verdade que inutilmente – o presidente do STF, Luiz Fux, dizendo que ele deveria “enquadrar” Alexandre de Moraes para impedir novas prisões de seus jagunços que ameacem autoridades e a democracia.
“Ou o chefe desse Poder enquadra os seus, ou esse Poder pode sofrer aquilo que não queremos”, voltou a ameaçar violentamente a instituição.
“Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá! Ele, para nós, não existe mais”, esbravejou.
Essa fala de Bolsonaro provocou reações fortes de repúdio no meio político e jurídico. Diversos líderes partidários e juristas apontaram que Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade, passível de impeachment.
Pois está previsto, tanto pela Constituição, quanto pela lei de impeachment, que não cumprir decisões judiciais é crime de responsabilidade – portanto, motivo de impeachment. Aliás, ameaçar praticar um crime, já constitui um crime – nisso, aliás, o crime de responsabilidade (sobretudo quando se trata do presidente da República) é até mais grave do que outros crimes. Nenhum presidente pode dizer que não vai cumprir o que a Constituição determina. Somente isso já demanda o seu impeachment.
Jair Bolsonaro também voltou a defender o “voto auditável com contagem pública”, que já foi recusado pela Câmara dos Deputados em votação no Plenário.
A organização da manifestação distribuiu placas que atacam os ministros do STF, como Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Gilmar Mendes – em inglês.
Os cartazes pediam a demissão dos ministros ou o fechamento da Corte.
Faixas usadas na manifestação pediam “intervenção militar com Bolsonaro no poder” – com legendas em inglês.
Em suma, estavam muito preocupados em mostrar seu golpismo aos fascistas norte-americanos, como Trump e outros marginais. Esse é o ideal de vida de Bolsonaro e seus asseclas: o servilismo ao que existe de mais podre nos EUA.
Uma faixa dizia “call up the military forces to eradicate communism in Brazil” (“convoque as forças militares para erradicar o comunismo no Brasil”).
Outra dizia “in Bolsonaro we trust. Do what must be done” (“no Bolsonaro nós confiamos. Faça o que deve ser feito”).
Em um caminhão de som, que não foi o que Bolsonaro usou para discursar, estava pendurada uma faixa escrita “criminalização do comunismo” e “saída dos juízes da suprema corte”, com a tradução para o inglês embaixo.