Com o vice-presidente negando-se a atender ao apelo dos deputados e deixar de propor o afastamento de Trump por incapacidade, os parlamentares já decidiram iniciar processo de impeachment
A Câmara decidiu ao final desta terça-feira (12), por 223 a 205, chamar formalmente o vice-presidente norte-americano a invocar a 25ª Emenda e declarar o presidente em fim de mandato, Donald Trump, incapacitado para o cargo.
A decisão, que não tem caráter obrigatório, foi tomada tendo em vista o pronunciamento de Trump incitando a horda de apoiadores a atacar o Congresso norte-americano no dia 6, em um frustrado golpe de cunho fascista para impedir a ratificação da vitória do presidente eleito, Joe Biden.
A votação aconteceu depois de um dia inteiro de discussões e foi concluída poucos minutos antes da meia-noite (hora de Washington, que corresponde a duas horas a menos que a hora de Brasília). A carta enviada a Pence pede que este declare Trump “incapaz de executar os deveres que correspondem a seu cargo e que, imediatamente, exerça seus poderes enquanto presidente em exercício”.
Os deputados norte-americanos tomaram a decisão de formalizar o pedido mesmo depois do próprio Pence – no início da noite do dia 12 – ter enviado uma carta à presidente da Câmara, Nancy Pelosi, declarando que não faria a invocação da Emenda.
Para que pudesse acontecer o debate e a votação, os deputados foram para o Capitólio sob escolta com o prédio e as cercanias, desta vez, sob forte vigilância. O debate teve início às 18:00 do dia 12.
“Estamos buscando dizer a Pence que o momento para a 25ª Emenda chegou”, declarou o deputado democrata Jamie Raskin (Estado de Maryland) e autor da resolução aprovada pouco antes do início da votação. A ameaça “chegou à soleira de nossa porta. Invadiu o nosso hall”, arrematou.
INSTABILIDADE
Pence havia dito antes que poderia, “se Trump continuasse demonstrando-se instável”, invocar a 25ª Emenda.
No entanto, depois de uma reunião a portas fechadas com Trump no Salão Oval da Casa Branca, acabou voltando atrás em sua disposição e, na carta a Nancy Pelosi, declarou que não acreditar que “este curso de ação é no melhor interesse de nossa nação ou consistente com nossa Constituição”. Fraquejando, disse ainda que não iria “se dobrar aos esforços da Câmara de fazer jogos políticos em um momento tão sério na vida de nossa nação”.
É de se perguntar a Pence: quem se não o próprio Trump fez “jogos políticos” e tornou “o momento tão sério para a vida da nação” norte-americana e, tendo em vista, entre outros fatores, o arsenal nuclear dos Estados Unidos, para o mundo.
Aliás, Trump deu a resposta à questão colocada por Pence sobre a sua “instabilidade”. Na sua primeira aparição diante da imprensa depois dos escabrosos eventos do dia 6, Trump disse que sua fala que se seguiu a semanas de “a eleição foi roubada”, sem apresentar nenhuma prova, com o dito final de “vamos marchar sobre o Capitólio” e instando os tresloucados que o rodeavam a “mostrar força”, teve, agora, o desplante de dizer que seu pronunciamento foi “totalmente apropriado”.
É bom destacar que, no mesmo dia 12, quando a votação pela saída de Trump transcorria no Congresso norte-americano, o seu secretário de Estado, Mike Pompeo, em arenga, a poucos metros do Capitólio, no National Press Club de Washington, em uma incitação que lembrou os momentos que antecederam à criminosa invasão do Afeganistão, declarou: “Eu diria que o Irã é, de fato, o novo Afeganistão, como uma nova base geográfica para a al-Qaeda”.
“Ao contráro do Afeganistão, quando a al-Qaeda se escondia nas montanhas, a al-Qaeda hoje opera sob o escudo pesado da proteção do regime iraniano”, esbravejou Pompeo.
A carta de Pence, negando-se a exercer seu papel e tirar Trump do poder, apoiado no gabinete presidencial, como dispõe a Constituição dos EUA, desestimulou a participação dos deputados republicanos de apoiarem o uso da Emenda e apenas o deputado Adam Kinzinger, de Illinois, votou a favor da resolução.
IMPEACHMENT
Agora, os deputados devem voltar a se reunir durante esta quarta-feira (dia 13) para votar um documento pelo impeachment de Trump denunciando-o de “incitar a violência contra o governo dos Estados Unidos”.
A expectativa é que todos os democratas votem pelo impeachment e que cerca de 20 deputados republicanos os acompanhem.
Uma vez aprovado na Câmara, a resolução pelo impeachment irá ao Senado onde necessitará de dois terços dos senadores para que a penalidade seja aprovada. Para afastá-lo da disputa presidencial em 2024, uma nova votação seria necessária.