O canal Tutaméia, no Youtube, que dedicou sua programação desta segunda (06) à memória de Sérgio Rubens, conversou com João Lopes Salgado, militante do MR8, que juntamente com Sérgio participou da ação revolucionária que resultou na captura do embaixador norte-americano, durante a ditadura.
“Esse programa é dedicado à trajetória desse grande lutador, dessa grande figura da resistência democrática no Brasil, que foi também um grande líder do movimento estudantil, estudou no Colégio Pedro II”, destacou Eleonora de Lucena, apresentadora do canal, juntamente com Rodolfo Lucena.
João Salgado fez um relato da sua vivência política ao lado do dirigente comunista entre 69 a meados de 72, no Rio de Janeiro, quando organizaram e executaram diversas ações revolucionárias, como expropriações a bancos, panfletagens em portas de fábricas, as ações clandestinas de agitação e propaganda política e de maior destaque entre elas – a captura do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969. “Conheci o Sérgio no primeiro grupo armado do MR-8. Ele entrou para substituir um companheiro”, explica.
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Desse grupo, fizeram parte Cid Benjamin, João Sebastião, Vera Sílvia, Daniel Aarão Reis, Cláudio Torres e Franklin Martins, citados por Salgado durante a homenagem.
“O Sérgio teve uma participação muito correta. Era muito determinado em todas as ações que a gente participou”, afirma. “Era muito articulado nas suas intervenções armadas”, prossegue João Salgado. Ele destaca também outro perfil de Sérgio Rubens: “Usava – e dominava muito bem – a teoria marxista e a teoria da luta revolucionária”, afirma. Era também “uma pessoa muito estudiosa. Já eu, era mais praticista e nisso a gente se completava”, explica.
“Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”. João Salgado citou o poema de Bertolt Brecht para definir a estirpe de militante de Sérgio Rubens. “Sérgio era desse nível de imprescindível”, destaca.
Outra frase que o ex-militante do MR8 cita para qualificar o grande revolucionário é a de outro também grande revolucionário, Che Guevara: “Hay que endurecer, sin perder la ternura”. “Era o próprio. Sérgio era muito determinado, muito corajoso. Defendia com máximo afinco as suas posições, mas não fazia inimigos”, diz.
“Acabavam as discussões, era a pessoa doce de sempre, que irradiava a doçura. A delicadeza foi sempre a sua marca”, completa João Salgado. “Vai fazer muita falta ao Brasil”, conclui.
O Tutameia reprisou vários trechos de uma entrevista com Sérgio Rubens, concedida em 2011, em um carro, enquanto ele se deslocava de sua casa, no bairro da Pompeia, em direção ao cinema, destacando o quanto ele apreciava essa arte. Na entrevista, Sérgio fala da sua trajetória política, da captura do embaixador, de outras operações na clandestinidade e dos motivos da mudança de membros do grupo revolucionário, incluindo ele próprio, para São Paulo, entre outros assuntos, seguidos de comentários de João Salgado.