O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, bloqueou na quarta-feira (30) a votação da lei, já aprovada na Câmara dos Deputados, controlada pelos democratas, inclusive com votos de 40 parlamentares republicanos, que aumentava de US$ 600 para US$ 2.000 o cheque de ajuda emergencial. O auxílio, previsto para acontecer uma única vez, é parte do pacote recém sancionado de US$ 900 bilhões, embora com atraso, pelo presidente que está se despedindo, Donald Trump.
Até mesmo Trump apoiava o cheque de US$ 2.000, mas McConnell se recusou a encaminhar a votação, pois haveria necessidade do apoio de pelo menos 60 senadores, sob o argumento de que não admitia “outra enxurrada de dinheiro emprestado que abrange outras pessoas que estão indo muito bem”, e que seria apenas uma ajuda “inteligente” e “direcionada”.
O senador e ex-pré-candidato a presidente, Bernie Sanders, denunciou como “hipocrisia” gritante a alegação de McConnell para impedir a votação. A triplicação do valor do cheque de emergência fora aprovada na Câmara por maioria de dois terços dos deputados (275-134), sendo que 44 republicanos votaram a favor e 22 se abstendo.
Também o presidente eleito, Joe Biden, havia se manifestado favoravelmente ao aumento do valor do cheque emergencial.
Como na lei de apoio emergencial aprovada em de março, o cheque emergencial seria enviado para quem ganhasse até $75.000 por ano e, em caso de casal que tivesse renda anual somada de até US$150.000. Do plenário, Sanders inclusive leu tuitadas de Trump defendendo o cheque de US$ 2.000, no esforço para ampliar o apoio à votação.
Como enfatizou o senador progressista, sobre a cínica proposição da liderança republicana no Senado, quando se trata de “reduções fiscais para pessoas ricas ou para beneficiar empresas ou orçamentos militares inchados, aí tudo bem”. “Mas quando alguém se levanta e diz que as famílias da classe trabalhadora precisam de alguma ajuda, ‘Oh meu Deus, o mundo vai ruir'”.
“Estou farto dessa hipocrisia”, acrescentou Sanders. “Estou cansado de empresas como a Amazon fazerem bilhões e bilhões de dólares sem pagar um centavo de impostos federais – ninguém fala sobre isso. Mas quando se está ajudando uma mãe a tentar alimentar os seus filhos, ‘Meu Deus, não temos dinheiro para isso’. Isto é hipocrisia”.
McConnell teve o desplante de chamar o aumento do cheque emergencial de “presente para os amigos ricos dos Democratas que não precisam de ajuda”, e que iria “agravar o déficit fiscal”. Aliás, o déficit norte-americano foi agravado especialmente pelo corte de impostos para ricaços e corporações de US$ 1,5 trilhão, aprovado em 2017, e pelos orçamentos-monstro alocados ao Pentágono para as guerras e intervenções promovidas pelo governo dos EUA.
“De repente, Mitch McConnell e os republicanos do Senado estão preocupados que alguém ‘que não precisa’ possa receber um cheque de $2.000”, retrucou Sanders em uma postagem. “Engraçado. Eles não tiveram problemas em dar uma isenção fiscal de $1,4 bilhão a Charles Koch e à sua família com riqueza líquida de US $113 bilhões. Que hipocrisia!”
O cheque de US$ 2.000 “é uma questão de vida ou morte” para muitos norte-americanos, insistiu Sanders.
Devido à demora de Trump em assinar o pacote-ponte, a ajuda só chegará às famílias depois do ano novo, podendo haver atrasos até de semanas quanto à parte da extensão do seguro-desemprego pelos Estados.
Para dificultar ainda mais que um cheque emergencial maior chegue às famílias norte-americanas no país do mundo mais afetado pela Covid-19, o líder da maioria republicana no Senado apresentou proposta de lei que condiciona o cheque de US$ 2.000 à formação de uma comissão parlamentar para ‘investigar a fraude eleitoral’ e a revogação das normas que protegem as empresas de internet de serem acionadas em decorrência do conteúdo que postam (ou que vetam, como as fake news sobre fraude eleitoral).