“Temos que ter uma bancada de conhecimento, não é só pedir mais dinheiro para ciência. Temos que inserir o conhecimento científico na formulação de políticas públicas”, afirmou o ex presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o físico Ricardo Galvão, que será candidato a deputado federal por São Paulo.
Ricardo foi demitido após Bolsonaro questionar os dados do Inpe sobre queimadas na Amazônia, que alarmaram o mundo em 2019
O físico foi demitido, mas agora entra para a política para tentar “colocar a ciência no Congresso Nacional”. Ricardo Galvão será candidato pela Rede, partido ao qual se filiou à convite da ex-ministra Marina Silva.
Para Galvão, diante dos problemas enfrentados pelo país (em especial na Amazônia), os cientistas decidiram tentar não só cobrar recursos e políticas públicas, como participar do processo.
“Nós temos, no Senado e na Câmara, comissões de ciência e tecnologia. Mas são políticos que estão lá por representatividade de outros grupos. Nós vamos ter desafios, como o aquecimento global de 3ºC. Isso vai afetar violentamente o país, a nossa produção agrícola. Nós vamos ter que ter políticas públicas embasadas na ciência e tecnologia”, disse Galvão, em entrevista ao UOL durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada na Universidade de Brasília (UnB), onde comandou duas mesas de debates na área ambiental.
Agora na política, Galvão diz que é preciso trazer mais pessoas para a defesa da causa ambiental, sejam elas de esquerda ou de direita.
Segundo Galvão, quando ele estava no Inpe, ele percebeu que quando participava de reuniões com o ex-ministro Ricardo Sales, quando ele chefiava a pasta do Meio Ambiente. “Tudo o que eu falava de pauta defendida pela ciência, ele dizia: ‘Vocês têm posição de esquerda'”, lembra. Mas para o cientista, é urgente refazer pontes e criar diálogo em defesa do meio ambiente entre as pessoas de diferentes posicionamentos ideológicos, mas que defendam a ciência.
Galvão ainda destacou que apesar do seu posicionamento contra Bolsonaro e toda polêmica que isso gerou no Inpe, o órgão continua sendo a referência na medição da destruição dos biomas brasileiros.
“Aquela reação forte que tive na imprensa junto com a reação internacional e da academia tornou impossível cercear a divulgação dos dados do Inpe. Os dados dos sistemas Prodes e Deter [que detectam desmatamento] já deram origem a mais de 1.400 teses no mundo todo” diz.
Apesar disso, ele afirma que o governo federal conseguiu agir para afetar as ações de combate ao desmatamento.
“O plano predatório com relação ao Inpe e outros órgãos teve muito êxito. No Inpe, os recursos orçamentários caíram pela metade em cinco anos. Eles não deram mais recursos para fazer satélites. Mesma coisa que vemos no Incra, no Ibama, no ICMBio”, afirma, citando outros órgãos de proteção ambiental.
“Não é só que o presidente Bolsonaro seja um tosco: ele tem um planejamento predatório a essas instituições, porque acha que todas essas questões ambientais e de preservação, além do desenvolvimento científico, vão contra interesses de grupos econômicos”, disse Ricardo Galvão.