O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou nesta quarta-feira (11) que o estado entrará a partir de segunda-feira (15) na fase emergencial do Plano São Paulo, que estabelece medidas mais restritivas do que a atual, vermelha. As restrições estão previstas para durarem até o dia 30 para tentar conter o avanço da pandemia de Covid-19. O objetivo é diminuir a circulação de mais de 4 milhões de pessoas e reduzir a contaminação do vírus.
Em vídeo divulgado horas antes da entrevista coletiva de anúncio das novas medidas, Doria havia antecipado que tomaria uma “decisão impopular”. As novas restrições têm como objetivo desacelerar o avanço da pandemia de covid-19 e evitar mais colapsos no sistema de saúde. Cinquenta e três municípios já registram 100% de ocupação dos leitos de UTI para a doença, segundo o governo.
“Não é fácil tomar essa decisão, uma decisão impopular, difícil, dura. Nenhum governante gosta de parar as atividades econômicas do seu estado – eu, principalmente. Eu entendo o sofrimento de todos. É difícil, é difícil não poder sair para trabalhar, é difícil não sair para batalhar pelo sustento da sua família, é difícil não poder ir para escola, para faculdade, ter restringido o seu convívio social, não poder ir para o seu esporte, não pode ir para a sua academia.”
O secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, relatou qual é a situação que São enfrenta. “Esse é o pior momento da pandemia no nosso estado, na verdade é o próprio país que vive, mas especialmente nosso estado enfrenta uma das maiores, se não a maior crise sanitária de todos os tempos. Nem mesmo a gripe espanhola assolou tantas vidas, não teve a repercussão tão dramática e por períodos tão prolongados como a do Covid-19 em nosso meio. Com a velocidade da pandemia, muito mais rápida, acometendo de forma impiedosa, o maior número de pessoas num curto espaço de tempo, os nossos hospitais estão começando a comprometer, vários deles já estão comprometidos, chegando a 100% da sua ocupação. Estamos, portanto, no limite”, afirmou.
Em duas semanas, São Paulo anunciou 1.118 novos leitos hospitalares, sendo 676 leitos de UTI. “Todos estarão operando neste mês de março”, disse Doria, com o alto índice de transmissão da covid-19, nem o aumento de leitos resolve o problema.
No início de 2020, São Paulo contava com 3,5 mil leitos de UTI e, até abril, terá 9,2 mil leitos UTI SUS, quase o triplo de antes da pandemia.
“É uma pandemia diferente da que vivíamos ano passado, no começo da pandemia, as internações eram de idosos, portadores de doenças que agravam suas doenças clínicas. Hoje, em muitas UTIs, já são compostas com 50% de pessoas com a idade menor que 50 anos, ou seja, mais jovens estão sendo comprometidos, a maioria deles com 30, 29 ou 26 anos em estado grave”, disse Jean Gorinchteyn.
“Foram 20 dias consecutivos de um recorde batido atrás do outro, superando internações e também mortes no nosso estado. Hoje temos na central regulatória do CROSS 1065 pacientes aguardando a regulação do nosso sistema, isso inclui 35% de pacientes que vão para UTI, fora as regulações que ocorrem nas regionais, o que totaliza aí 2046 casos, aguardando as regulações para exame, para internações em enfermarias e UTIs. E é exatamente por isso que nós precisamos implementar uma fase emergencial, nós não podemos só ampliar leitos, nós estamos fazendo mais, nós vamos dar assistência no que pudermos, mas todos fazem parte desta história, todos são responsáveis para nós diminuirmos o número de mortos”, afirmou o secretário estadual de Saúde.
Por causa da segunda onda do novo coronavírus, entre até 31 de março, o Estado contará com 11 hospitais de campanha em diferentes regiões. Com a expansão, o Estado de São Paulo passará a ter 15 hospitais de campanha para tratar exclusivamente pacientes com covid-19.
Apesar da fase vermelha, a situação no estado se agrava a cada dia.
Nesta terça, ao menos 38 pacientes com Covid-19 morreram na fila de espera por leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no estado. As mortes de pacientes que aguardavam liberação de leitos intensivos ocorreram em cidades localizadas na Grande São Paulo e no interior do estado.
Nesta quarta-feira (10), foi registrada a maior média móvel de mortes de toda a pandemia, 312 óbitos. O índice superou o recorde de agosto de 2020, quando o índice chegou a 289 mortes diárias, pelo terceiro dia seguido.
Foi a primeira vez que o índice supera 300 mortes. O número representa um aumento de 34% em relação ao verificado há 14 dias, o que, segundo os especialistas, indica tendência de alta.
O estado registrou também 517 novas mortes por Covid-19 nas últimas 24h, além de 16.058 novos casos confirmados da doença.
A taxa de ocupação de UTIs do estado de São Paulo também alcançou seu maior índice histórico, com 82% dos leitos ocupados. Na Grande São Paulo, a taxa média é de 83,6%.
Neste cenário catastrófico a necessidade de ampliar a vacinação é latente. O Brasil já registra queda de infecção e internação entre as pessoas dos grupos já vacinados, por isso imunizar a população é tão importante.
Porém, apesar dos esforços do governo de São Paulo, responsável por 90% de toda vacinação do país com a CoronaVac, vacina produzida pelo Instituto Butantã em parceria com o laboratório chinês Sinovac, é preciso mais.
O governo Bolsonaro boicota a compra de doses de imunizante contra a covid-19 desde o ano passado. Não fecha contratos com nenhuma farmacêutica, enquanto isso, brasileiros morrem nas filas das UTI país afora.
Novas restrições
Entre as mudanças, está a proibição de eventos esportivos profissionais, cultos e missas em igrejas.
O comércio também terá regras mais rígidas. Lojas de material de construção, por exemplo, não poderão abrir. Demais lojas e restaurantes estão proibidas de operar com serviço de retirada presencial, apenas delivery (24h) ou drive-thru, das 5h às 20h.
Atividades administrativas não essenciais terão de instituir o teletrabalho de maneira obrigatória. Essa medida vale tanto para empresas privadas quanto para órgãos públicos.
As regras da chamada “fase emergencial” começam a valer na segunda-feira, 15, e valem até 30 de março.
As escolas estaduais também sofrerão mudanças, com adiantamento de férias por 15 dias. Já as escolas municipais e particulares terão autonomia para decidir se fecham ou não. Na rede estadual, merendas continuarão sendo servidas para os alunos que precisarem.
Também ficará proibido o uso de parques e praias em todo o estado durante o período.
Além disso, o estado passará a adotar toque de recolher das 20h às 5h. O governo, no entanto, ainda não esclareceu no que ele se diferencia do toque de restrição, que já está em vigor, apenas adiantou que a fiscalização será ampliada.
Recomendações
O governo paulista ainda recomenda que as empresas façam o escalonamento do horário de entrada de funcionários da indústria, comércio e serviços, para evitar aglomerações no transporte público.
A recomendação é seguinte:
5h-7h: trabalhadores da indústria
7h-9h: trabalhadores de serviços
9-11h: trabalhadores do comércio
A gestão estadual ainda recomenda o uso de máscara em ambientes internos, inclusive entre familiares de residências diferentes.
A ampliação de regras mais rígidas foi necessária porque a sensação do centro de contingência do coronavírus no estado é que a atual fase vermelha, adotada no dia 6 de março, não diminuiu a circulação de pessoas, nem freou o avanço do coronavírus.