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Os editores do jornal virtual ‘Brasil Sem Medo’, ligado ao guru bolsonarista Olavo de Carvalho, apelidaram o presidente do Partido Liberal (PL), ao qual Bolsonaro anunciou sua iminente filiação, de ‘Voldemort Costa Neto’, uma referência ao principal vilão da série de livros estrelados pelo bruxo Harry Potter, com direito a ilustração.
“Assim como Voldemort, Valdemar é um mestre da sobrevivência: manteve-se poderoso após todas as crises e escândalos da política brasileira nas últimas décadas”, diz o site na propaganda de uma live para debater as relações do governo com o centrão.
É apenas um sinal da chiadeira que já tomou conta do chamado bolsonarismo ‘raiz’, depois, obviamente, que o Carluxo apagou um post de suas redes sociais em que atacava o provável novo hospedeiro de seu pai.
Bolsonaro mandou avisar que as chances de se filiar do PL são de 99%, indicando que o partido de Valdemar Costa Neto ganhou, pelo menos por enquanto – pois 1% em se tratando de Bolsonaro é sempre uma possibilidade, a queda–de-braço com Ciro Nogueira, o chefe político do outro partido que disputava sua filiação, o Partido Popular (PP).
As reações adversas dos pepistas, principalmente nos estados, devem ter contribuído com a decisão de Bolsonaro.
O que muda com isso?
Para Bolsonaro, pouco ou nada, pois mesmo o discurso da “nova política”, que nunca se materializou, pelo seu caráter hipócrita, caiu por terra há muito tempo.
O gesto que se repetiu ao longo de sua trajetória medíocre de parlamentar e mais medíocre ainda como presidente exalta aquilo que muitos sabem.
Bolsonaro não tem apreço por nenhum partido. Se a Constituição lhe desse respaldo, continuaria atuando avulsamente em razão de sua aversão doentia a qualquer coletivo partidário, mesmo aos mais atrasados e reacionários.
Teria algum interesse se fosse possível na atual realidade brasileira construir um partido do tipo miliciano, a exemplo do que fizeram, respectivamente, Mussolini, na Itália, e Hitler, na Alemanha.
Partidos com esse perfil, no entanto, como já nos ensinou a história, só sobrevivem à base da propagação massiva de mentiras – as fake news da atualidade, duramente combatidas pela justiça do país e condenadas pela sociedade, entre outras barbaridades com pouco espaço para vicejar nos tempos atuais, embora não falte empenho do capitão e de sua malta.
Além disso, matéria tão cara para o bolsonarismo, como a cínica pregação da “liberdade” para difundir fake news, está prestes a ser regulamentada pelo Congresso Nacional e alguns dos mais notórios defensores dessa prática nociva estão atrás das grades ou tiveram que fugir do país.
Quis construir um partido para chamar de seu, o Aliança pelo Brasil, mas não deu certo, tendo que se render a um feirão em que impera o pragmatismo e o fisiologismo, sem nenhum compromisso programático.
Não foi diferente em suas outras migrações de legenda.
A diferença, agora, é que ele, para nosso infortúnio, é o presidente.
Como deputado, era apenas mais um, atuando nos entornos dos partidos aos quais pertenceu de forma solitária e marginal, dedicando-se às ‘rachadinhas’ e à demagogia para sobreviver.
Como presidente, tentará fazer com o PL o mesmo que tentou fazer com o PSL após a eleição presidencial de 2018 e não conseguiu.
Não importa o que tenha negociado com Valdemar. É da natureza de seu fascismo, tosco e rudimentar, retumbantemente explicitado nos movimentos golpistas desferidos ao longo de quase três anos e refreados pela frente ampla que se construiu no país na defesa da democracia.
O PL estará disposto a se submeter a essa situação? O tempo dirá.
O fato é que, hoje, Bolsonaro é uma coisa e o PL é outra. O PL, com todas as suas imperfeições, dependendo da ótica de quem faz a crítica, consegue ser melhor que Bolsonaro, assim como outros partidos do centrão, mesmo os mais alinhados ao atual ocupante do Planalto.
Por uma razão muito simples: todos, alguns mais, outros menos, têm alguma consideração pela democracia e os direitos do povo.
Bolsonaro não tem consideração nenhuma. Se pudesse, instauraria uma ditadura miliciana a serviço dos poderosos a quem se resigna de modo desprezível.
Exemplo disso é o cheque em branco entregue a Guedes desde o início do governo para promover as maiores insanidades contra a nação e o povo. O cheque continua nas mesmas mãos, mesmo depois da revelação de que o ministro escondia milhões dolarizados em paraíso fiscal.
Basta abrir a janela da realidade nacional – só se vê tragédia: na economia, na pandemia, tragédia que se verifica nas crescentes legiões de mortos, miseráveis, desempregados, subempregados, quebrados, falidos, endividados, etc, pelo país afora.
Por essas e outras, Bolsonaro, como nos demais partidos aos quais foi filiado, será, de novo, um estranho no ninho, mas não um estranho qualquer, como antes, e, mesmo num casamento de interesses, em se tratando do capitão, o futuro é absolutamente incerto.
MAC