Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, informou que dados sobre a terceira fase deverão ser apresentados em outubro
O ensaio clínico da terceira fase da vacina Coronavac está evoluindo rapidamente no Brasil, sem qualquer intercorrência registrada até o momento, afirmou Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan. A expectativa é que até o fim de setembro todos os 8.870 voluntários já tenham recebido as duas doses do imunizante desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac Biotech e que a análise da eficácia tenha início em meados de outubro.
“Havendo comprovação da eficácia, a vacina poderá ser registrada pela Anvisa e, em seguida, disponibilizada ao Ministério da Saúde. Em dezembro o Butantan terá 46 milhões de doses disponíveis para o Ministério da Saúde dar início ao programa de imunização. Entendo que esta é uma perspectiva realista”, analisou Dimas Covas, durante coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes.
Até o momento, mais de 4 mil voluntários brasileiros já receberam a primeira dose da vacina contra o novo coronavírus (Covid-19). Uma parte deles também já recebeu a segunda aplicação. Os testes da vacina chinesa contra a Covid-19 são realizados, sob a coordenação do Instituto Butantan, em 12 centros de pesquisa em 9 estados brasileiros.
“Na etapa atual, além da inclusão dos voluntários, fazemos o seguimento de segurança e o monitoramento dos casos de Covid-19 entre os participantes. Caso algum deles apresente qualquer sintoma respiratório é feito o teste de RT-PCR, capaz de detectar o material genético do vírus em amostra biológica, para confirmar se contraiu ou não a doença. Mas ainda não temos resultados preliminares sobre a eficácia”, disse o médico Esper Kallás, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e coordenador do estudo clínico no Brasil.
Como explicou Kallás, a eficácia da vacina será medida por sua capacidade de prevenir casos de Covid-19 entre a população vacinada e não pela análise da resposta imune induzida. Segundo o pesquisador, o ensaio clínico de fase 3 não tem como objetivo primário avaliar o quanto a formulação é capaz de induzir a produção de anticorpos.
Dados divulgados no início desta semana pela empresa Sinovac Biotech – referentes aos ensaios clínicos de fase 1 e 2, indicam que a resposta imune induzida pela Coronavac é mais fraca entre os idosos, público considerado de maior risco e prioritário para a imunização. Os testes incluíram 421 voluntários com mais de 60 anos e 98% deles desenvolveram anticorpos contra o vírus após a imunização.
“A notícia é muito boa, na verdade. Com uma dose intermediária, que é a que estamos usando no ensaio clínico de fase 3, 98% dos idosos desenvolveram anticorpos suficientes para neutralizar o vírus. Com uma dose mais alta o índice chegou a 99%. É um resultado muito bom, muito superior a outras vacinas. A da influenza não chega a 90%, por exemplo”, comparou Covas.
Segundo Kallás, a menor resposta entre idosos já era um resultado esperado. “Essa é a regra. Uma vacina de vírus inativado com desempenho entre os idosos igual ao observado entre os jovens seria algo para se desconfiar, pois vai contra os preceitos fundamentais do sistema imune. Uma vacina extraordinária talvez consiga, no máximo, minimizar o efeito da idade”, afirmou.
O pesquisador ressalta, no entanto, que ainda não está totalmente esclarecido qual é o principal marcador de proteção contra a Covid-19. Estudos em modelos animais mostraram que a presença de anticorpos neutralizantes, administrados ou induzidos, protege contra a progressão da doença e reduz a carga viral após a infecção experimental. Algo que ainda não foi demonstrado claramente em humanos.
“Quando observamos a resposta imune de pessoas que tiveram infecção assintomática, a quantidade de anticorpos no sangue não necessariamente é maior que a dos demais infectados. É possível que outros componentes do sistema imune tenham um papel importante. Enquanto não sabemos ao certo, resta-nos buscar a imunidade induzindo a produção de anticorpos. Por enquanto é por onde conseguimos navegar”, disse Kallás.