A pandemia voltou a ser o principal tema no 2º debate. Boulos criticou as ações do tucano. Covas rebateu, reforçando que São Paulo foi melhor que muitas cidades europeias e não deixou ninguém sem atendimento
O primeiro assunto a ser tratado no debate da TV Bandeirantes desta quinta-feira (19), entre Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (Psol), foi a pandemia de Covid-19. Ao responder sobre a preocupação das mães que não estão podendo trabalhar porque seus filhos não estão tendo aula, Bruno Covas disse que entende a aflição das mães, mas frisou que, apesar do pior já ter passado, a situação ainda exige cuidados com as crianças.
Por isso, segundo ele, por decisão dos técnicos da Saúde Pública, a volta às aulas das crianças menores, do ensino fundamental e infantil, foi adiada.
“A vigilância epidemiológica do município ainda não aprovou esse tipo de retomada”, disse Covas. E reafirmou que todas as decisões sobre isso, em seu governo, são tomadas pelos especialistas da saúde que levam em conta o que a ciência determina.
VÍRUS
“Nós não vamos partidarizar a luta contra a Covid-19. O vírus não é de esquerda ou de direita, o vírus é uma realidade a ser enfrentada”, apontou Bruno Covas.
Ele aproveitou a pergunta para contestar as afirmações sobre uma suposta “nova onda” de Covid-19 na cidade de São Paulo. Disse que, na coletiva realizada no mesmo dia do debate, os especialistas esmiuçaram todos os dados e concluíram que “há estabilidade no número de casos e mortes por Covid-19 e um pequeno aumento nas internações”.
VOLTA ÀS AULAS
No comentário à intervenção de Covas, Boulos concordou que a volta às aulas e as demais ações de combate à pandemia têm que ser determinadas pelos epidemiologistas.
Boulos criticou o prefeito por não ter, segundo ele, feito o que deveria ser feito no início da pandemia. Argumentou que deveriam ter sido feitas testagem em massa da população, para uma melhor ação de combate ao vírus. E que, com isso, a curva poderia ter descido mais rápido.
Covas respondeu que no começo da pandemia não havia testes suficientes no país e informou que, agora, cerca de 700 mil pessoas são monitoradas na cidade de São Paulo pela vigilância epidemiológica. Ele criticou Boulos por apresentar “soluções” depois que tudo passou, agindo como “engenheiro de obras prontas”.
NINGUÉM PARA TRÁS
Bruno Covas lembrou que em São Paulo não ocorreu o que se viu em cidades da Europa, onde médicos tiveram que escolher quem viveria e quem morreria, quem seria entubado e quem não seria.
“Não deixamos ninguém para trás”, destacou.
Sheila Magalhães, editora da Band News FM, falou sobre as notícias animadoras da vacina e sobre os dados preocupantes de elevação de internações na rede pública de saúde nos últimos dias. Perguntou a Covas se, nessas condições, pretende estabelecer algum tipo de lockdown ou fechamento de comércio em janeiro.
Bruno Covas voltou a afirmar que a situação é de estabilidade e desmentiu o que chamou de “fake news” de que, passada a eleição, o prefeito decretaria lockdown ou qualquer tipo de fechamento.
“Tudo será feito como determinarem os técnicos da saúde”, disse o prefeito.
Boulos aproveitou a pergunta sobre a vacina contra a Covid-19 para criticar o que ele chamou de “espetáculo lamentável, que foi a transformação do tema da vacina, que é um tema de saúde pública, numa disputa político partidária”. “Isso foi promovido pelo Bolsonaro e o Doria. Transformaram esse tema, que é de interesse de todos, numa disputa oportunista e pequena”, criticou.
ATAQUE DE BOLSONARO
O “espetáculo lamentável” a que Boulos se referiu no debate foi a instrumentalização, feita por Jair Bolsonaro, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tentar paralisar a fabricação da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa chinesa Sinovac.
O Brasil inteiro condenou a atitude de Bolsonaro que, por preconceito contra a China – e para atacar Doria e Covas – tentou sabotar a CoronaVac em prejuízo da população.
Ao criticar da mesma maneira, tanto a sabotagem de Bolsonaro à vacina quanto a reação do governo de São Paulo, que saiu em defesa da população e do Instituto Butantan, desrespeitado arbitrariamente por Bolsonaro, Boulos claramente optou por aliviar Bolsonaro.
O candidato do Psol passou do tema da pandemia que, segundo ele, trouxe prejuízos às crianças, para o assunto das creches. Ele se comprometeu a zerar a fila das creches em quatro anos. Segundo Boulos, 23 mil famílias estariam na fila de espera de uma creche na cidade de São Paulo.
Bruno Covas contestou os números apresentados por Boulos sobre a fila de creches e disse que teve o orgulho de ter criado 85 mil vagas de creches e que o déficit é de apenas 6.600 vagas. Essa fila, segundo ele, “será zerada já no início de 2021”.
SOCIALISMO
Marcelo D’Angelo, diretor da Band News TV, referiu-se ao orçamento do município, de R$ 70 bilhões, o maior do país, mas que seria insuficiente para atender a todas as demandas dos paulistanos. Perguntou a Boulos como obteria mais recursos para programas defendidos por ele, como “renda solidária” e outros – e se pretendia trazer alguma experiência socialista para a cidade.
Boulos respondeu apenas que São Paulo é a cidade mais rica do Brasil e da América Latina. “Tem muito dinheiro do orçamento. A questão na cidade não é falta de dinheiro. É falta de prioridade correta”.
“Veja, só hoje em caixa existem R$ 19 bilhões, um pouco mais de R$ 10 bilhões livres, recursos que não estão atrelados a fundos. Isso poderia estar ampliando o investimento e mesmo o combate à pandemia, a reabertura de hospitais e a contratação de profissionais”, disse.
“Nós vamos usar esses recursos para inverter prioridades”, acrescentou, ao criticar “obras como a do Vale do Anhangabaú, que custou R$ 100 milhões, enquanto há esgoto a céu aberto na cidade”.
“Nós vamos recuperar de R$10 a R$ 12 bilhões de reais da dívida ativa do município em quatro anos, que hoje é de R$ 120 bilhões. Este valor é o dobro do que o Doria e o Bruno conseguiram recuperar em quatro anos. É com esses recursos que nos vamos implementar os programas sociais”, prosseguiu Boulos.
FALTA EXPERIÊNCIA
Covas rebateu mais uma vez – já tinha feito isso no debate anterior – dizendo que “é necessário ter experiência para gerir recursos públicos. O meu adversário não conhece a realidade de um orçamento público”.
“O candidato [Boulos] confunde recursos em caixa com recursos disponíveis. Todo ano a Prefeitura discute com a Câmara de Vereadores o orçamento municipal. Não cabe a liberalidade do prefeito de achar que, porque tem recurso em caixa, pode ir para este ou aquele local”.
“Recursos em caixa servem para pagar o funcionalismo no fim do ano, para pagar os contratos de obras que estão em andamento. Não significa que esses recursos podem ser usados para o que bem entender”, disse Covas.
Boulos criticou o prefeito por não ter criado uma “renda paulistana” para ajudar a população na pandemia e voltou a afirmar que vai criar o programa “renda solidária”. Ele tinha dito no debate anterior que essa ajuda seria de R$ 200, o mesmo valor que Bolsonaro queria para a ajuda emergencial que o Congresso havia criado. Agora, falou que pode chegar a R$ 400 e que pretende atingir um milhão de famílias.
Segundo o candidato do Psol, isso custará aos cofres da Prefeitura R$ 3 bilhões por ano. Boulos disse que “isso cabe no orçamento municipal”.
Covas disse que deu muito apoio à pequenas empresas e que está em boas condições para enfrentar a crise porque conseguiu recuperar a capacidade de investimento da prefeitura, depois de “assumir com um rombo de R$ 7 bilhões deixados pela administração do PT”. Boulos negou que o déficit era nesse valor. Covas sustentou o que havia dito.
O prefeito cobrou de Boulos que, em seu programa de governo, no tema da Segurança Pública, a única coisa que se fala sobre a Polícia Militar e a Guarda Municipal é que elas cometem genocídios.
Boulos retrucou dizendo que a crítica não é ao policial, “mas à orientação de governo do PSDB”, que, segundo ele, é “neste sentido”.
DIREITOS HUMANOS
Covas classificou a resposta de Boulos como uma baixaria política, já que, segundo ele, “todos conhecem o meu respeito e a minha preocupação pelos direitos humanos. Dizer isso, que eu recomendo o extermínio, é descer o debate a um nível muito baixo”.
Antes das considerações finais, ainda houve debate sobre outro ponto do programa de Boulos.
Covas leu um trecho do programa em que Boulos diz que vai reverter os convênios com entidades que administram as creches. São mais de 300 mil creches e cerca de 40 mil funcionários ligados às entidades credenciadas.
Boulos, no entanto, negou que fosse reverter os convênios. E acusou o vice de Covas, Ricardo Nunes (MDB), de ter ganhos ilegais com essas entidades conveniadas.
Bruno Covas negou que seu vice tenha cometido irregularidades nos convênios com as creches e elogiou a atuação de Ricardo Nunes na Câmara, junto com outros vereadores, na recuperação de dívidas dos bancos com a prefeitura.
Segundo Covas, Ricardo Nunes fez um excelente trabalho, enfrentando os bancos e recuperando R$ 1,2 bilhão, que eles deviam ao município.