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Em seu primeiro desafio depois da eliminação na Copa do Catar, o Brasil sofreu uma derrota para a seleção de Marrocos no último sábado (25), no Estádio Ibn Batouta, na cidade de Tanger. O time comandado por Ramon Menezes perdeu por 2 a 1 e iniciou o ciclo para a Copa do Mundo de 2026 sem vitória.
Novamente a CBF preferiu afastar a Seleção da sua torcida, reforçando a desconfiança dos brasileiros com um time cada vez mais desconhecido do conjunto da população.
A seleção do Marrocos segue mantendo seu nível e escrevendo história no futebol mundial. Depois de terminar a Copa do Mundo do Catar com o quarto lugar e ter a melhor posição de um país africano na história. Para o treinador da equipe, Walid Regragui, o triunfo merece ser valorizado, apesar da falta de algumas estrelas brasileiras. Foi a primeira vitória do país sob um campeão mundial.
“Não é fácil vencer a nação referência mundial no futebol. Sabíamos que o jogo seria intenso e disputado nos detalhes. Foi uma partida do nível de uma Copa do Mundo. Esta é a primeira vitória do Marrocos contra o Brasil. Mesmo sem alguns dos seus principais jogadores, continua sendo o Brasil. É uma grande vitória”, comentou o técnico ao jornal marroquino L’Opinion.
Para Regragui, a seleção marroquina se portou bem durante os 90 minutos de jogo contra o Brasil. O treinador valorizou demais a postura da primeira etapa e reconheceu a luta no segundo tempo, momento em que a seleção brasileira foi superior.
“Os jogadores cumpriram o seu dever. Fomos muito bem no primeiro tempo. Eu realmente apreciei a reação dos jogadores durante o segundo tempo. Não estivemos tão bem, mas os jogadores não desistiram. Estou muito feliz por esta vitória que oferecemos ao público marroquino”, enfatizou o treinador.
SEM TÉCNICO
O Brasil segue pelo terceiro mês consecutivo sem um técnico, desde que Tite saiu do comando da seleção. No entanto, a contratação de um estrangeiro, que predomina na cúpula da CBF, para comandar a seleção brasileira divide opiniões e a discussão está mais forte após o fim da Copa do Catar.
O nome mais citado após a saída de Tite é do italiano Carlo Ancelotti, hoje no comando do Real Madrid. Porém, ainda há resistência quanto ao acerto com um profissional do exterior, mas há também a constatação de que nunca houve uma proximidade de acerto tão grande como agora.
Isso ocorre, além da globalização do futebol, por causa do sucesso recente de treinadores estrangeiros no futebol brasileiro: Abel Ferreira (Palmeiras), Jorge Jesus (Flamengo) e Vojvoda (Fortaleza) são exemplos. Mas não há, tão forte como em anos anteriores, uma possibilidade de choque cultural em relação ao jogo. Ideias de futebol, questões táticas e gestão no dia a dia nos clubes são situações que o futebol brasileiro já está acostumado por causa do sucesso de técnicos do exterior no Brasil.
“O próprio Tite tem ideias bastante europeias sobre o jogo, tanto em filosofia quanto em métodos de treinamento e abordagens para os jogos. Os atletas, evidentemente, estão mais acostumados com a cultura europeia do que brasileira quando falamos de futebol. Nesse sentido, não há preocupação”, falou o jornalista Gabriel Dudziak, comentarista da Rádio Globo CBN.
A CBF não deve se prender a respeito de uma “escola de futebol”. Técnicos portugueses, por exemplo, são considerados as primeiras escolhas para clubes brasileiros no atual momento do futebol.
Em Portugal, porém, é possível encontrar treinadores que fazem trabalhos que valorizem a posse de bola, outros que adotem o jogo reativo e quem tenham a mescla dos dois estilos. A impressão que fica, por parte da opinião pública e da falta de clareza da CBF, é que busca-se uma escola vitoriosa.
“Me parece que não se trata de uma escola portuguesa, por exemplo, mas sim de ganhar. Se estivéssemos em 2020 se falaria de Renato Portaluppi e se fosse 2021, seria o Cuca. Infelizmente, a escola que o brasileiro e a CBF procuram é a escola ‘vencedora’, como se ela pudesse existir. Há um debate mais profundo sobre isso. Ele contrapõe identidade nacional com globalização. O orgânico com o artificial. A essência com o condicionamento. Infelizmente, ele está longe da nossa realidade aqui”, citou Gabriel Dudziak.
O estilo de Carlo Ancelotti, que é italiano, está longe de ser defensivo, como por anos o futebol italiano foi conhecido. No Real Madrid, velocidade, posse de bola, variações táticas e futebol ofensivo integram o trabalho do experiente treinador.
“Diante da globalização e da universalização do que se pratica em campo, avaliar escolas de futebol está complicado. Não se trata disso, e sim de aprimorar ainda mais os métodos”, opinou o jornalista do Sportv, Alexandre Lozetti. Parte da resistência é externa, mas de envolvidos com o futebol, como treinadores, ex-jogadores e parte da mídia.
“O que existe explicitamente é a resistência da comunidade do futebol brasileiro. A CBF é um enigma. O choque que existe dentro da entidade nos últimos anos é moral, não cultural. O futebol de elite está globalizado e, dentro disso, cultivar algum brasileirismo na seleção é um desafio para qualquer treinador, nativo ou estrangeiro”, complementou Alexandre Lozetti.