Dr. Jairinho é indiciado pela terceira vez por torturar uma criança de 3 anos

Vereador foi preso pelo assassinato de Henry Borel, de apenas 4 anos - Foto: Tânia Rego/ Agência Brasil

Jairo Souza Santos Junior, o Dr. Jairinho, foi indiciado na última terça-feira (1º) pela Polícia Civil do Rio de Janeiro por torturar um menino de três anos, filho de uma mulher com quem ele namorou e chegou a morar. As torturas aconteceram em 2016. 

Este é o terceiro indiciamento do vereador afastado pelo crime de tortura contra crianças.

Jairinho está preso desde 8 de abril e responde por tortura e morte de seu enteado Henry Borel, de quatro anos, filho de sua namorada Monique Medeiros, que também está presa. Ele também já era réu por torturar a filha de outra namorada, entre 2011 e 2012.

A mãe da criança, Débora Melo, também foi indiciada, por omissão, porque não impediu Jairinho de ter contato com o filho mesmo sabendo de pelo menos um episódio de violência. O relacionamento entre ambos se manteve até 2020.

Durante a investigação das agressões a Henry, a polícia descobriu relatos de que Jairinho já tinha agredido filhos de namoradas anteriores. Débora Melo Saraiva seria um desses casos – uma pessoa denunciou ter flagrado Jairinho agredindo o filho dela. Débora então foi à Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) no dia 22 de março e contou que mantivera um relacionamento conturbado com o vereador, a partir do final de 2014, quando ela trabalhava na Câmara Municipal (e ele já era vereador). Mas ela omitiu as agressões.

Em 16 de abril, oito dias após a prisão de Jairinho, Débora voltou à delegacia e mudou sua versão: disse ter sido agredida pelo vereador em várias ocasiões, tendo até quebrado um dedo dela, e também narrou agressões dele ao filho.

A criança também foi ouvida e relatou agressões. “A criança reviveu parte de episódios sofridos, como sufocamento com saco na cabeça, pisões na barriga e uma grave fratura de fêmur”, contou nesta terça-feira o delegado Adriano França, titular da DCAV.

Segundo a polícia, em 2016 o menino de três anos foi obrigado por Jairinho a entrar no carro e, com medo, vomitou dentro do veículo. Depois, na tentativa de fugir, pulou do carro e quebrou o fêmur. Ao levar a criança ao hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca (zona oeste), Jairinho e Débora contaram que o menino havia sofrido um acidente casual, e negaram agressão, por isso o casal está sendo indiciado também por falsidade ideológica.

Nos documentos relativos àquele atendimento, apresentados à polícia pelo hospital Lourenço Jorge, uma psicóloga relatou que o menino, ao ser atendido ferido, contou que não queria entrar no carro do qual havia saltado. No prontuário, além da fratura, constam hematomas nas bochechas e assaduras nos glúteos – sinais das agressões que ele havia sofrido e devido às quais tentara fugir.

Débora não comunicou o episódio do carro às autoridades nem à equipe de profissionais de saúde que atendeu a criança. Mesmo ciente das agressões de Jairinho ao filho, ela permitiu que o vereador saísse com a criança, que, segundo a polícia, acabou “sofrendo novo episódio de intensa dor e sofrimento”. Ela também continuou dividindo a casa com Jairinho, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio.

“Débora continuou a ficar na condição de amante até o fim de 2020, ainda com alguns encontros esporádicos em 2021, preferindo fingir que nada aconteceu com seu filho”, disse o delegado.

Segunda denúncia

Em 3 de maio a Justiça do Estado do Rio aceitou denúncia contra Jairinho por tortura praticada nos anos de 2011 e 2012 contra uma menina de quatro anos, filha de uma cabeleireira que conheceu Jairinho em 2010 e manteve um relacionamento com ele até 2013. Nesse intervalo, chegaram a ficar noivos. A menina, que à época tinha de três a cinco anos e hoje tem 13, disse que o vereador bateu a cabeça dela contra a parede do box de um banheiro e pisou sobre o corpo dela no fundo de uma piscina, tentando impedir que ela emergisse para respirar. 

“À época, essa criança tinha entre três e cinco anos. Essa criança sofreu uma série de violências e até tortura”, disse o delegado Felipe Curi, diretor do Departamento-Geral de Polícia Especializada (DGPE), em entrevista coletiva concedida quando o indiciamento foi anunciado, em 30 de abril.

“A criança tinha pavor e pânico ao ver o carro de Jairinho. A figura dele trazia lembranças das agressões. Ela ficava segurando na perna da avó para não ir ao encontro do doutor Jairinho. Quando identificaram a ânsia de vômito e o pânico da criança, ela foi afastada do convívio (com ele). A criança foi praticamente criada pela avó por questões familiares”, contou o delegado Adriano França, titular da DCAV, em 30 de abril.

“Por medo, a mãe da criança acabou não denunciando. Com o caso do Henry, ela criou coragem e acabou denunciando. Esse caso não tem nada a ver com o caso Henry, mas surgiu no bojo da investigação e serve para corroborar o perfil de violência do doutor Jairinho contra os menores filhos das pessoas com quem ele têm relacionamento amoroso”,  completou o delegado Felipe Curi.

A mãe da criança é considerada pela polícia vítima de violência doméstica e não foi indiciada por não ter denunciado as agressões dele à filha.

Bloqueio de bens

O Ministério Público do Rio vai pedir o bloqueio de bens do Dr. Jairinho e Monique Medeiros, acusados da morte do menino Henry Borel. O promotor Fábio Vieira pedirá indenização de, no mínimo, R$ 1,5 milhão em favor de Leniel Borel, o pai do menino.

Segundo o MP, o objetivo é evitar que as famílias de Jairinho e Monique vendam os seus patrimônios e que não sobre dinheiro para indenizar Leniel.

Jairinho e Monique foram indiciados pela polícia por homicídio duplamente qualificado. Eles estão presos desde o dia 8 de abril.

O menino, que estava no apartamento da mãe e do padrasto, foi levado por eles ao hospital, onde chegou já sem vida na madrugada de 8 de março. Eles alegam inocência e afirmam que houve um acidente, mas laudos descartaram a hipótese.

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