Profissionais de saúde e familiares de pacientes dos hospitais públicos da capital do Amazonas, Manaus, relatam que a falta de oxigênio nas unidades resultou na morte de pacientes no Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) e no Hospital 28 de Agosto, o maior pronto socorro da cidade.
Segundo os médicos do HUGV, a situação se agravou entre a madrugada e o início da manhã desta quinta-feira (14), resultando na morte de seis pacientes nas primeiras horas do dia. Eles alertam que mais óbitos podem ocorrer ao longo do dia, uma vez que o estoque de oxigênio da unidade deve durar apenas mais algumas horas.
No Hospital 28 de Agosto a situação é ainda mais grave. Segundo relatos de pacientes e funcionários, uma ala inteira do hospital ficou sem oxigênio. De acordo com o ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, foram 28 óbitos no hospital somente no dia de hoje.
“Somente hoje foram 28 mortos por falta de oxigênio no Pronto Socorro 28 de Agosto. Wilson Lima você é o pior governador que o Amazonas já teve e o que acontece em Manaus é assassinato aos moldes de Hitler, por asfixia. Isso é doloroso e cruel”, criticou o ex-prefeito em sua conta no Twitter.
Um médico do Hospital Universitário Getúlio Vargas fez um relato sobre a situação e apelou para a doação de oxigênio para ventilar os pacientes.
Técnica de enfermagem aposentada, Solange Batista diz em um vídeo publicado no Twitter, nesta terça-feira (14), que sua irmã está internada no Hospital Universitário Federal Getúlio Vargas, em Manaus, e que foi comunicada que lá também não tem oxigênio. “Está sendo ventilada para sobreviver com a saturação a menos de 60. E não é só ela, é muita gente com o mesmo problema. Os pacientes comprando oxigênio, eu, a família dos pacientes. É muita gente. Isso é um descaso, é um descaso, é um descaso”, diz a mulher emocionada.
“Dentro de um hospital federal, eu ter que comprar o oxigênio para um paciente? Isso é impossível de acontecer. Espero que as autoridades, o governo, alguém possa nos ajudar. Nós pagamos nossos impostos, nós temos direito de não ver tanta gente morrendo por falta de oxigênio, por asfixia”, cobra a técnica de enfermagem aposentada.
“Estou indo para o (hospital) Alvorada tentar encher um cilindro de oxigênio para trazer para o hospital. Não é só minha irmã que eu estou falando, estou falando de muita gente morrendo e cadê o governo? Cadê o poder público? Não tem ninguém para ajudar. Eu vim do 28 de agosto para cá, no hospital militar, porque era um hospital pequeno e esse aqui¿ Como é que não tem? Não existe isso!”, desabafou Solange.
A medida alternativa encontrada pelas famílias foi recorrer às empresas particulares na luta pela vida dos familiares. “Um cilindro de oxigênio que dura uma hora custa 800 reais, quem não tiver esse dinheiro irá falecer, mesmo com o pessoal da saúde dando todo o possível para tentar socorrer”, afirmou um familiar em frente ao SPA, José Lins.
Outro caso foi o de um homem que perdeu o pai, após uma falta de oxigênio. “Os hospitais estão sem oxigênio desde 6h da manhã, fomos comprar na particular para meu pai mas ao chegar ele já havia morrido, por falta de ar”, revelou.
Vídeos feitos de dentro do Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, mostram pacientes acamados ao lado de um cadáver, vítima da Covid-19, e outros que aguardam por um leito na unidade hospitalar. O corpo, que está sobre uma maca, divide espaço com os demais pacientes e profissionais da saúde em uma sala completamente lotada.
Na madrugada desta quinta-feira (14), um carregamento de oxigênio vindo do Pará pousou no Amazonas. A carga, no entanto, não parece ter sido suficiente para solucionar a crise.
Por conta do colapso da saúde na capital e a falta de oxigênio nas unidades hospitalares, pacientes de Manaus serão encaminhados para Brasília, além dos Estados Piauí, Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte.
CALAMIDADE
A tragédia do Amazonas é agravada ainda mais pelo comportamento genocida do governo Bolsonaro. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, esteve na cidade nos últimos dias, mas, ao invés de providenciar o imediato fornecimento de oxigênio e/ou o transporte dos doentes para unidades de outros estados, preferiu forçar o governo estadual e a prefeitura de Manaus a desovar cloroquina na população como “tratamento preventivo”.
O governador Wilson Lima decretou, na manhã desta quinta-feira (14), toque de recolher para o Amazonas das 19h às 6h como medida urgente de contenção da proliferação da Covid-19 no Estado.
Só poderão circular depois desse horário pessoas que trabalham em serviços essenciais. O governador citou Saúde, Segurança Pública e Imprensa. As farmácias, segundo ele, poderão ficar abertas, mas funcionando apenas no sistema de delivery (entrega em domicílio). Não foi informado o período da validação do novo decreto.
De acordo com ele, serão mantidos os transportes de produtos essenciais à vida. Segundo Wilson Lima, para algumas pessoas as medidas anunciadas hoje podem parecer duras, mas elas são necessárias e tem como objetivo proteger a vida das pessoas.