Começaram a ser presos nos EUA integrantes da turba fascista que invadiu e vandalizou o Congresso dos EUA na tentativa de impedir a certificação da vitória do presidente eleito Joe Biden, causando cinco mortos, inclusive um policial, quebrando portas e janelas, e forçando parlamentares a se esconderem no porão, após discurso de Donald Trump de marcha ao Capitólio contra o “roubo na eleição”.
Já são mais de 90 os presos. O procurador federal do Distrito de Colúmbia (a capital, Washington) enfatizou que “todas as opções estão sobre a mesa” para encontrar e indiciar os criminosos.
A iniciativa de encontrar os facínoras partiu dos cidadãos indignados com o assalto antidemocrático, que vasculharam as redes sociais em busca da identificação dos violadores, trabalho facilitado pelo exibicionismo doentio com que agiram, o que depois foi ampliado por promotores e autoridades policiais.
Foi o que permitiu identificar alguns dos mais notórios integrantes do assalto ao Capitólio, como o “louquinho de chifres”, o brutamontes com os pés sobre a mesa da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, ou o débil mental que posou carregando, como souvenir, o púlpito de orador afanado da casa.
A procuradoria de Washington anunciou o indiciamento do “louco de chifres”, aliás, ‘Jake Angeli’, identificado como Jacob Anthony Chansley, do Arizona. ‘Jake’ foi preso no sábado.
‘Jake Angeli’, apontado como ligado à delirante milícia Qanon, foi identificado pelas fotos que ele próprio postou no dia da invasão, o que foi facilitado pelas tatuagens nos braços e torso.
No dia anterior, ‘Jake’ telefonou ao FBI afirmando ser o homem com chapéu ornamentado com chifres da invasão ao Capitólio. Aos agentes, esclareceu que a invasão foi “esforço de grupo” perpetrado por “patriotas do Arizona” atendendo a pedido do presidente Trump.
Na véspera, foram presos Richard Barnett, de Arkansas, que ficou tão à vontade no gabinete de Pelosi; Adam Johnson, o ladrão do púlpito da Câmara, preso na Flórida; e Lonnie Coffman, do Alabama, com quem o FBI encontrou armas e explosivos em sua camionete.
Outro indiciado foi Derrick Evans, recém eleito para o parlamento de West Virginia, que transmitiu ao vivo sua entrada no Capitólio, gritando “entramos, entramos! Derrick Evans está no Capitólio”. Segundo as agências de notícias, ele renunciou ao mandato.
MAIS INVESTIGAÇÕES
Estão sendo procurados meliantes em outros estados, como Kentucky, Ohio e Oregon. As acusações a que os invasores estão sujeitos vão desde entrada violenta e conduta desordeira no Capitólio, mais agressão a agentes da lei federal e ameaça a parlamentares, até conluio contra a ordem democrática.
As investigações terão de identificar ainda quem participou do assassinato do policial Brian Sicknick. Na sexta-feira, as bandeiras no Capitólio ficaram a meio mastro, em homenagem ao policial.
A morte de Sicknick, golpeado pela turba com um extintor de incêndio, quanto tentava impedir a invasão da casa legislativa e iminente ameaça a deputados e senadores, bem como o surgimento de novos detalhes, além da suspeita posse de algemas de plástico por vários integrantes da invasão, tornam tudo ainda mais grave.
Um fotógrafo da Reuters, Jim Bourg, denunciou ter ouvido de sediosos gritos de “enforquem Mike Pence”, que estava no Capitólio, para presidir a cerimônia de certificação. Em meio a turba, um dos desordeiros exibia uma réplica de um patíbulo com a respectiva corda com o nó de forca.
Há testemunhos de que também estavam na mira Nancy Pelosi e o líder da minoria na Câmara, Charles Schumer.
No comício do putsch, Trump havia dado a senha para a fúria contra Pence, dizendo que este não tivera a “coragem” para virar o resultado da eleição, isto é, para fraudar o pleito em favor do bilionário.
“ENFORQUEM PENCE”
Um deputado republicano, em relato à CNN, disse que os gritos de “peguem Pence” podiam ser ouvidos de dentro do local onde ele se encontrava com o vice-presidente e seus familiares. Ele disse jamais ter visto Pence tão irado, balbuciando “depois de tudo que fiz por ele”.
A constatação de que vários integrantes, inclusive um militar, foram encontrados portando tais algemas de plásticos, levantou a suspeita de que milicianos poderia ter a intenção de fazer reféns, segundo jornais norte-americanos.
O militar, adepto do trumpismo, deu a desculpa esfarrapada de que tinha ‘encontrado’ as algemas e ter guardado “por distração”. Mas há outras figuras, trajadas como paramilitares, vistas em fotos da invasão, que estavam transportando tais algemas.
O deputado republicano Markwayne Mullin, que estava no plenário, no momento do tiro que acabou matando uma ex-militar e atual simpatizante trumpista e da seita QAnon, deu seu testemunho de que o agente policial não tinha outra opção diante dos invasores tentando romper a porta que estava servindo de barricada e com parlamentares ainda por serem retirados para uma condição segura.
“Eles estavam tentando entrar pela porta da frente, que é onde eu estava na Câmara, e por trás estavam tentando entrar pelo lobby do orador, e isso é problemático quando você está tentando defender duas frentes”, disse Mullin.
“Quando quebraram o vidro nas costas, o tenente [da Polícia do Capitólio] que estava lá – ele e eu já tínhamos várias conversas antes disso – e ele não tinha escolha na hora”.
“A turba ia entrar pela porta, e havia muitos membros e funcionários [da Casa] que estavam em perigo naquele momento”, acrescentou ele. “E quando ele [sacou] sua arma, essa é uma decisão muito difícil de ser tomada por qualquer um e, uma vez sacando sua arma assim, você tem que se defender com força letal”.
PERFÍDIA
Mas não há apenas ações de milicianos e simpatizantes trumpistas para investigar. Há indícios de conluio, por todo lado, para facilitar o assalto ao Capitólio.
Não houve qualquer aviso de ameaça emitido pelo FBI, como é norma em caso de qualquer mobilização de porte na capital federal. Com as mídias sociais anunciando a revoada a Washington de grupos de milícias fascistas, o Capitólio estava estranhamente subprotegido por ordem do Pentágono.
O comandante da Polícia do Capitólio, que foi forçado a renunciar, sequer telefonou a qualquer momento para a presidente da Câmara, Pelosi, nem nas 24 horas seguintes.
O governador do vizinho Estado de Maryland só conseguiu autorização do Pentágono para enviar a Guarda Nacional em socorro do Capitólio depois de o Estado Maior Conjunto ser acionado em paralelo, após duas horas de enrolação por parte do nomeado de Trump.
Sem ter mais o fator surpresa, agora, para o dia 20, data da posse de Biden na presidência, as milícias supremacistas brancas e a escória nazista prometem desde os porões da internet um “segundo round” – e se arriscam a saírem muito mais tosquiadas do que até agora. Trump, por sua vez, já anunciou que não irá à posse, ao que Joe Biden agradeceu.
Em quatro anos de governo Trump a única medida coerente e correta tomada por ele foi a de não comparecer a posse de Biden, os democratas do mundo tudo agradece. Espero que as autoridades americanas identifiquem todos os nazistas e outros grupos semelhantes que invadiram o Capitólio para que sejam punidos dentro da lei.