A tentativa de criar um fato consumado com a “ajuda humanitária” que passaria à Venezuela à força, no dia 23, numa ação abertamente coordenada pelos Estados Unidos utilizando o autoproclamado ‘presidente interino’, Juan Guaidó, passando por cima do governo venezuelano, se verificou, ao final do sábado, um rotundo fracasso.
Na fronteira com o Brasil eram esperados 20 caminhões para levar 200 toneladas de mantimentos (incluindo doações norte-americanas de alguns kits de gaze e seringas), mas só chegaram 2 caminhonetes que não conseguiram passar pelo bloqueio da Guarda Nacional venezuelana, que garantia o fechamento da fronteira decretado na quinta-feira pelo presidente Maduro.
No limite da Venezuela com a Colômbia o fracasso ficou mais evidente ainda. Dias antes, Guaidó, blefando, falava que havia um processo de recrutamento de voluntários (àquela altura já com 600 mil inscritos) e que, até o sábado, este número poderia chegar a um milhão.
A ideia, dizia Guaidó, era entrar na Venezuela em triunfo à frente de um comboio de 20 caminhões trazendo ajuda humanitária ao povo necessitado ou, na impossibilidade de tal marcha triunfal, fazer os produtos passarem da cidade colombiana de Cúcuta, onde estão estocados, através de uma imensa corrente humana, superando todos os possíveis bloqueios, até o interior da Venezuela.
Com isso, o ‘presidente interino’ contava intimidar e levar à defecção e desobediência os militares venezuelanos.
Chegou o sábado. Na véspera, Maduro, que já havia ordenado o fechamento da fronteira com o Brasil, mandou cortar a passagem na fronteira com a Colômbia. A multidão anunciada por Guaidó era uma fantasiosa mentira. Apareceram algumas dezenas de rapazes que atiraram pedras e tiveram como resposta gás lacrimogêneo e balas de borracha. Na fronteira com o Brasil, a polícia venezuelana, chegou a trocar pedradas com ativistas pró-Guaidó.
Enquanto isso, Maduro, que as agências de notícias destacavam seu silêncio até o início da tarde, acabou reunindo uma multidão no centro de Caracas para denunciar a tentativa norte-americana de violar a soberania venezuelana e anunciar que a “ajuda” ficará no mesmo lugar onde estava no início da manhã. Declarou ainda o rompimento de relações com o país vizinho, a Colômbia e que os integrantes do corpo diplomático colombiano tinham 24 horas para deixar o território venezuelano.
Em meio ao vexame do evento do pretenso “Dia D”, aconteceu a queima de caminhões lotados de mantimentos no lado colombiano da fronteira e a “informação” midiática de que teriam sido elementos da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) os causadores do fogo, o que foi logo desmentido, pela direção da rede TeleSul, com fotos da localização dos caminhões (distantes do bloqueio venezuelano no seu lado da fronteira), assim como a de rapazes subindo nos caminhões com galões de combustível na mão.
A este incidente, juntou-se o tiroteio resultando em mortos e feridos a 70 quilômetros da fronteira do Brasil e ainda o atropelamento de uma jornalista chilena nas proximidades da fronteira venezuelano-colombiana, a demonstrar o grave risco embutido na farsa de operação “ajuda humanitária” sob orientação da Casa Branca: criar desastres envolvendo vidas para culpar o governo da Venezuela, forjando pretextos para uma ação militar estrangeira na região.
Em meio aos distúrbios, fotos mostram ativistas pró-Guaidó tentando passar com mantimentos usando camisetas com o símbolo da Cruz Vermelha, que já havia declarado que não participaria do evento por considerar que “ajuda humanitária tem que atender a princípios fundamentais e não pode estar tingida de interesses políticos”. A Cruz Vermelha condenou o uso indevido de sua insígnia. Os ativistas fantasiados de CV “colocam em risco danificar nossa neutralidade, imparcialidade e independência. Instamos que parem de fazer isso”, declarou, em nota oficial, a Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.
Evidenciando suas más intensões através de ações de bandeira trocada na Venezuela, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, disse que houve “violência perpetrada pelos bandidos de Maduro” (a quem chamou de “tirano doente”) e que “os EUA apoiam as famílias daqueles sofreram em sua demanda por justiça”, acrescentando mais ameaças escancaradas: “Os Estados Unidos vão entrar em ação contra os que se opõem à pacífica restauração da democracia na Venezuela”.
Demonstrando a frustração com a fraca defecção entre os militares da Venezuela, o assessor de Segurança, John Bolton, fez novas ameaças: “Os militares venezuelanos têm uma escolha: abraçar a democracia, proteger os civis, e permitir a passagem de ajuda humanitária, ou enfrentar ainda mais sanções e isolamento”.