O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, avaliou que as declarações prestadas pela pediatra Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, conhecida como Capitã Cloroquina, perante a CPI da Pandemia mostram que o foco da gestão Jair Bolsonaro na crise sanitária decorrente da proliferação da Covid-19 se limitou à prescrição de cloroquina e na aposta da chamada “imunidade de rebanho”.
“O fato de Mayra Pinheiro seguir no Ministério da Saúde com [o atual ministro Marcelo] Queiroga mostra que o objetivo principal do governo na pandemia continua sendo a imunidade de rebanho e recomendar cloroquina é parte central da estratégia porque as pessoas se sentem seguras – sem estar – pra ir pra rua”, escreveu em uma rede social.
Em seu depoimento, na última terça-feira (25), a secretária voltou a defender o uso de cloroquina – e outros medicamentos sem eficácia – no tal tratamento precoce da Covid. O medicamento é usado no tratamento e profilaxia de malária, mas é cientificamente inútil para tratar do novo coronavírus.
Já a imunidade de rebanho, ou imunidade coletiva, consiste na tese segundo a qual uma parte da população se torna imune ao contrair uma doença infecciosa, limitando sua propagação.
“Como boa bolsonarista, Mayra Pinheiro tenta eximir o mito, mas assume na CPI: querem imunidade de rebanho, por isso temos 450 mil mortos”, afirmou Freire.
Ele também comentou a polêmica sobre o TrateCov, aplicativo lançado em janeiro pelo Ministério da Saúde com o propósito de orientar as equipes médicas no diagnóstico da Covid-19 e que sugeria uso de cloroquina no tratamento dos pacientes.
O app não está mais disponível pelo link original, mas é possível acessá-lo através de um site que arquiva versões antigas das páginas da internet. Na CPI, Mayra entrou em contradição com o depoimento do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. O ex-ministro tinha dito que o aplicativo não estava pronto e tinha sido alterado por um “hacker”. A secretária admitiu que o aplicativo não foi hackeado e que toda a base para o cálculo já estava pronta.
“[O] TrateCov não foi hackeado, objetivo era distribuir cloroquina; orienta tratamento precoce sem competência p/ tal: não é sua área no Ministério”, apontou o presidente do Cidadania em mensagem no Twitter.
Freire elogiou a participação da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que demonstrou o desprezo do governo às recomendações da ciência ao questionar a médica sobre a recomendação de cloroquina no tratamento de crianças com sintomas de Covid-19.
“De novo brilhante na CPI, a senadora Eliziane mostrou que a Sociedade Brasileira de Pediatria, área de Mayra Pinheiro, não recomenda cloroquina para crianças. Ela [a secretária] recomenda. É a própria tia do Zap, que pensa saber mais que entidades técnicas e científicas. Sua atuação é política”, argumentou.
Roberto Freire destacou ainda os equívocos do governo no enfrentamento da Covid entre o público infantil, observando uma comparação feita por especialista brasileiro, que apontou que a morte de crianças de zero a quatro anos no Brasil foi o dobro de todos os óbitos de pessoas abaixo de 40 anos na Espanha.
“A comparação está na última live do biólogo Átila Iamarino. Taí o resultado da criminosa imunidade de rebanho da PEDIATRA Mayra Pinheiro e de Bolsonaro”, postou em sua conta no Twitter.