O aumento dos contágios e das internações por coronavírus deixaram o Rio Grande do Sul em uma situação critica. Com 87% de lotação nas UTIs do estado registrada nesta terça-feira, e um saldo de quase 12 mil mortes por Covid-19, o governador Eduardo Leite voltou a alertar a população gaúcha e os prefeitos municipais para a possibilidade de um colapso na saúde por conta da pandemia.
O governo gaúcho publicou um novo decreto restringindo as atividades no estado. A suspensão geral de atividades acontece diante da rápida piora dos indicadores que determinam a classificação das bandeiras do modelo de Distanciamento Controlado, que culminou em 11 regiões Covid em bandeira preta.
Além da proibição de abertura de qualquer estabelecimento para atendimento ao público entre 22h e 5h, também ficam vedadas festas, reuniões ou eventos, formação de filas e aglomerações nos recintos ou nas áreas internas e externas de circulação ou de espera, bem como nas faixas de areia das praias, calçadas, portarias e entradas de prédios e estabelecimentos, públicos ou privados.
O anúncio foi feito pelo governador Eduardo Leite em transmissão ao vivo pelas redes na tarde da segunda (22), após reuniões com o Conselho de Crise para o Enfrentamento da Epidemia Covid-19 e com a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e associações regionais.
“Estamos observando o mais acelerado e agressivo crescimento de internações desde o início da pandemia. Diante disso, convocamos prefeitos eleitos e reeleitos não para terceirizar, mas para compartilhar a responsabilidade. Todos nós recebemos a confiança da população para protegê-la, tanto do ponto de vista sanitário quanto econômico, e para encontrarmos a melhor medida das nossas ações neste momento especialmente crítico que estamos vivendo”, afirmou o governador.
Ficam de fora da aplicação do decreto farmácias, hospitais e clínicas médicas, serviços funerários, serviços agropecuários, veterinários e de cuidados com animais em cativeiro, assistência social e atendimento à população vulnerável, hotéis e similares, postos de combustíveis e estabelecimentos dedicados à alimentação e hospedagem de transportadores de cargas e de passageiros, estabelecimentos que funcionem em modalidade exclusiva de tele-entrega e Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa). A suspensão geral também não atinge atividades industriais noturnas.
De acordo com o Executivo estadual, as normas municipais que conflitem com essas determinações estão igualmente suspensas. Ou seja, a suspensão geral de atividades vale para todo o estado, inclusive regiões em bandeira vermelha e regiões que aderiram ao sistema de cogestão regional.
“Os prefeitos são determinantes no processo de fiscalização. Se vamos manter a cogestão, precisamos do compromisso de todos para que a fiscalização seja exercida com muito rigor. Precisa ter um caráter pedagógico, com visibilidade. Se não atuarmos com rigor, pode ser que, logo adiante, não seja possível interromper o sistema de colapso no sistema de saúde. Não é um alarme falso ou um teste: é preciso que os municípios se debruçam com total dedicação para exercer a fiscalização”, alertou Leite.
As forças da Segurança Pública estão em esforço concentrado nas ruas para evitar aglomerações. Neste fim de semana, foi preciso realizar abordagens em quase 300 estabelecimentos abertos após o horário determinado.
HOSPITAIS
Em nota, os dirigentes dos hospitais e clínicas gaúchas, que estão funcionando diretamente com os casos da pandemia, emitiram uma nota em defesa do decreto e das medidas tomadas pelo governo acerca de frear a pandemia.
A nota enfatiza a suspensão também das atividades noturnas como uma forma de eliminar as aglomerações que vêm ocorrendo de forma irresponsável, vide as batidas realizadas pelas forças de segurança pública.
Os dirigentes solicitaram, ainda, do governo alternativas urgentes para a aquisição de vacinas que imunizem de forma massiva e em alta velocidade da população, com o objetivo de aumentar os níveis de proteção e reduzir o número de novos casos da doença.
Veja a nota na íntegra:
Exmo. Sr. Governador,
Nós, dirigentes de hospitais e clínicas de Porto Alegre, manifestamos apoio às medidas apresentadas na última sexta-feira (19).
Da mesma forma, defendemos a efetiva suspensão das atividades noturnas como forma de eliminar as aglomerações que vêm ocorrendo de forma irresponsável.
Estamos diante de uma situação de alto risco a toda a coletividade. Um cenário que exige, para os próximos dias, decisões duras mas necessárias, a fim preservar o bem maior: a vida.
A situação atual de lotação nos hospitais é a pior desde o início da pandemia. Os doentes, de todas as idades, chegam em condições cada vez mais críticas, inclusive aqueles que internam em enfermarias. Muitos destes têm necessitado de equipamentos de ventilação mecânica — itens não disponíveis em quantidade necessária.
As aglomerações registradas no feriado de Carnaval deverão repercutir no aumento de casos de Covid-19 nas próximas semanas. Se isso ocorrer em grandes proporções e com os hospitais mantendo o cenário de superlotação – e nada indica uma mudança em curto prazo –, o resultado será grave. Se medidas rígidas de distanciamento social não forem tomadas, as consequências serão ainda mais complicadas.
Solicitamos, ainda, o empenho do Governo do Estado em encontrar alternativas urgentes para a aquisição de vacinas que deem conta da imunização massiva e em alta velocidade da população, com o objetivo de aumentar os níveis de proteção e reduzir o número de novos casos da doença.
Esse conjunto de medidas, buscando controlar a questão sanitária e reequilibrar o sistema de saúde, é indispensável. Apenas assim a sociedade terá condições de se dedicar, de forma estável e continuada, à retomada da economia e da normalidade.
Contamos com sua sensibilidade, visão agregadora e capacidade de articulação junto às entidades representativas e a toda a sociedade.
Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre (Sindihospa)
Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Grupo Hospitalar Conceição
Hospital Moinhos de Vento
Hospital São Lucas da PUCRS
Instituto de Cardiologia/Fundação Universitária de Cardiologja
Hospital Ernesto Dornelles
Rede de Saúde Divina Providência