A bióloga e biomédica paulistana, Helena Nader, tomou posse como presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) durante cerimônia no Museu do Amanhã, na região central do Rio de Janeiro, na última quarta-feira (4).
Vice-presidente da ABC desde 2019, a cientista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) assume o cargo para o triênio 2022-2025 e sucede o físico Luiz Davidovich. O químico Jailson Bittencourt de Andrade, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e atuante no Centro Universitário Senai-Cimatec, passa a ocupar a vice-presidência.
Aos 70 anos, Helena Nader disse que ter uma presidente na Academia Brasileira de Ciências é uma vitória para a mulher brasileira.
“Eu vejo como um momento importante para as meninas olharem e dizerem que também querem ser cientistas. O Brasil acredita na ciência e o povo brasileiro é muito inteligente. Eu cheguei aqui graças a muito esforço, mas também a muita perseverança e resiliência”, declarou Nader.
E ainda deixou um recado: “Meninas, mulheres, não tem o que vocês não possam fazer, não aceitem o não como resposta e juntas vamos mudar o Brasil! Eu acho que a gente precisa de todos os gêneros para termos o país que queremos”.
A cientista defende que a ABC tenha uma presença mais incisiva dentro do Congresso Nacional, tanto com deputados, como com senadores. Ela destacou que, como a ciência é transversal, ela quer visitar todos os ministérios.
“Todos os ministérios dependem de ciência. Por exemplo, o Ministério da Infraestrutura é pura ciência. Quando você pensa em organização de porto, é ciência; é tecnologia da informação (TI), é inteligência artificial (IA). O mesmo acontece com a saúde”. Para isso, haverá uma divisão de trabalho.
Helena Nader deseja também que a ABC tenha uma presença muito forte na discussão da educação. “Por mais ciência que se tenha, sem educação, não vai adiantar. Se não tiver educação, não vai acontecer. Se olhar o que ocorreu com a pandemia (do novo coronavírus), deixou o país nu”, apontou.
A pesquisadora também criticou a redução do número de inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos últimos anos. O que significa uma redução do número de jovens que terminaram o ensino médio e estão buscando a continuidade de formação. Helena vai buscar expoentes dessa área entre os membros da ABC e também de fora, porque ela diz que a sabedoria e o conhecimento não estão concentrados em uma única pessoa, mas em várias.
Helena Nader declarou que vai continuar a luta pelo aumento da demanda de pós-graduação. A ideia é esclarecer que o pós-graduando, que acabou uma universidade, está fazendo seu mestrado e depois o doutorado, e não pode continuar recebendo bolsas com valores na faixa de R$ 1,2 mil a R$ 1,3 mil, porque muitos desses jovens são arrimo de família e têm a bolsa como única opção de renda, com dedicação exclusiva.
“Nós vamos continuar nessa luta para reverter isso, porque estamos há seis ou oito anos sem correção no valor da bolsa. O que não falta são coisas para a gente trabalhar”.
O Brasil está jogando fora uma janela de oportunidades que vai se extinguir. “As pessoas falam daqui a 40 anos; mas 40 anos é amanhã”. Segundo a pesquisadora, em 2070, a população maior de 65 anos vai aumentar e o número de jovens vai diminuir. “Começam a declinar. É nessa janela que o país tem que investir porque o velho tem todo o direito à aposentadoria, à sua saúde. Mas isso tudo o Brasil só vai poder dar se estiver preparado”.
Posse de Helena Nader inspira as mulheres, destaca Mariana Moura dos Cientistas Engajados
Mariana Moura coordenadora do Movimento Cientistas Engajados considerou que a posse de Helena na ABC é uma grande inspiração para as mulheres do país, entrando na história do movimento de emancipação das mulheres.
“Esse dia vai entrar para a história do movimento de emancipação das mulheres no Brasil. Helena Nader, Comendadora e grande oficial da Ordem Nacional do Mérito Científico, assume a presidência da Academia Brasileira de Ciências. A primeira mulher nos mais de cem anos da ABC. Foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e, até agora, era vice-presidente da própria ABC. Possui um extenso currículo acadêmico e de luta em defesa da Ciência, da Educação e da Cultura brasileiras. Mas, mais do que isso, Helena Nader é mulher, mãe e avó, professora, mestre e inspiração”, disse Mariana.
“Há alguns anos acompanho o debate sobre a ampliação da participação das mulheres na ciência e, com isso, também em todos os setores da sociedade. Existem uma série de propostas de políticas públicas para estimular a entrada e garantir a permanência de meninas e mulheres na área acadêmica. Mas, em quase todos os debates sobre o assunto, aparece o argumento de que, quanto mais exemplos de sucesso tivermos, maiores a chances das nossas jovens escolherem também este caminho. E, se isso é verdade, como creio que é, não poderíamos ter melhor inspiração do que ela”, concluiu Mariana Moura.
Vida dedicada à Ciência
Helena Nader dedicou suas décadas de estudo principalmente à heparina, um composto que evita a coagulação do sangue e impede a formação de trombos. Graças à qualidade do seu trabalho, tornou- se pesquisadora no nível mais prestigiado do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e foi agraciada com a Ordem Nacional do Mérito Científico.
A nova presidente da ABC já publicou mais de 380 artigos em revistas internacionais e ajudou a formar 46 mestres e 51 doutores. Apesar de árdua, acredita que a dedicação à ciência vale muito a pena, pois consiste em empenhar o tempo na tentativa de entender o novo. Atualmente, Helena Nader é co-presidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS) e membro do conselho administrativo do International Science Council (ISC).
Aumentar o intercâmbio da ABC com entidades de outros países é uma das metas da nova presidente da ABC. Está na pauta da nova presidente da ABC a realização de reuniões online com jovens da graduação e da pós-graduação de todo o Brasil e, depois, da América Latina. Um encontro presencial está programado para o início de 2023.