A escassez de medicamentos para intubação de pacientes com Covid-19 nas Unidades de Terapia Intensiva parece não ser de grande incomodo para membros do governo Bolsonaro. Alertado repetidas vezes para a gravidade da crise, o Ministério da Saúde deixou de enviar um representante para a reunião da Comissão Externa da Câmara dos Deputados realizada na terça-feira (23) para debater o assunto.
O encontro aconteceu e tratou da falta de kit intubação e oxigênio nos hospitais do país.
O Brasil vive um cenário critico no atual momento da pandemia com o risco de desabastecimento de oxigênio para pacientes em ao menos seis estados. Segundo dados do Conselho de Secretários de Saúde Municipais (Conasems), os estoques dos medicamentos necessários para a intubação de pacientes só devem durar 20 dias no Brasil.
A expectativa era de que o coronel Luiz Otávio Franco Duarte, secretário de Atenção Especialista à Saúde, fosse ao encontro, mas ele não compareceu.
Estiveram no encontro secretários estaduais e municipais de Saúde, a empresa White Martins, que monopoliza do fornecimento de oxigênio no país, representantes da Anvisa, de hospitais e da indústria farmacêutica.
A reunião foi convocada após diversos estados relatarem ao governo federal que o aumento no número de internações causadas pela Covid-19 no início deste ano levaram à redução nos estoques de anestésicos utilizados no processo de intubação de pacientes graves da doença. Diante da crise, o Ministério da Saúde anunciou, na semana passada, a requisição administrativa de medicamentos que estavam em estoque nas indústrias.
No início da reunião desta terça-feira, a deputada Carmen Zanotto (Cidadania-SC), anunciou que Luiz Otávio Franco Duarte, havia sido convidado para participar do evento para dar explicações sobre o tema, mas não compareceu.
A ausência gerou reclamações entre os presentes. “É lamentável que nós façamos uma reunião num momento como esse sem um representante sequer do ministério porque temos um ministro demitido que está no cargo e um escolhido que não consegue assumir depois de oito dias de escolhido. Isso é uma tragédia também para o povo brasileiro”, afirmou o 1º vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PR-AM) em referência ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e ao recém-empossado Marcelo Queiroga.
As reclamações também partiram de representantes do setor médico. Foi o caso do presidente da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), Breno Monteiro, que representa estabelecimentos de saúde privados.
“É uma pena que o representante do Ministério da Saúde não esteja aqui neste momento para que a gente possa ouvir as estratégias do Ministério da Saúde e para que ele possa nos ouvir”, afirmou Monteiro.
SEM RESPOSTA
O presidente da Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Mirócles Veras, criticou a atuação do ministério na condução da crise de escassez de medicamentos. Segundo ele, a entidade enviou um alerta à pasta há 10 dias, mas não obteve resposta.
“Encaminhamos ao Ministério da Saúde um alerta, há 10 dias mas, infelizmente, não tivemos nem a resposta do ofício. Ligamos e não conseguimos falar com os secretários para que dessem uma resposta às instituições. Hoje, numa comissão de tanta importância, temos a ausência do ministério da saúde”, afirmou.
Além das críticas à ausência de um representante do ministério, participantes da reunião também reclamaram das requisições administrativas feitas pela pasta como forma de obter os medicamentos para intubação no curto prazo.
A requisição administrativa é um dispositivo que permite ao ministério ter acesso aos estoques de um determinado produto de forma compulsória mediante a pagamento no futuro.
Na avaliação do presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini, disse que as requisições poderão prejudicar o abastecimento de hospitais particulares que também estão com suas UTIs lotadas com pacientes com Covid-19.
“A partir do momento que há requisição administrativa sem olhar o todo do Brasil, vai vestir um santo e despir vários outros. Temos que tomar muito cuidado com isso”, disse.