
Desgaste já vinha com a sabotagem às vacinas e o descaso com a proteção da população. A explosão da inflação e os escândalos de corrupção agravaram a situação de Bolsonaro nas regiões mais populosas do país
Quase metade da população das duas regiões mais populosas do país, Rio e São Paulo, estão avaliando o governo Bolsonaro como ruim ou péssimo, revela uma pesquisa feita pelo Instituto Datafolha, divulgada neste sábado (9). 48% avaliam negativamente o governo federal; 23% dos entrevistados acham o governo apenas regular e 28% acham bom ou ótimo.
Bolsonaro já havia se desgastado bastante durante a pandemia da Covid-19, ao sabotar a compra das vacinas, defender que toda a população se infectasse, receitar remédios ineficazes e provocar tumultos que ajudaram a espalharam o vírus. O resultado dessa atuação criminosa de Bolsonaro foram mais de 660 mil mortos, colocando o Brasil como o segundo lugar no mundo em número absoluto de óbitos por Covid-19.
Agora, com a explosão da inflação, a queda vertiginosa na renda, o emprego nas alturas e a fome batendo à porta dos brasileiros, a irritação da população está aumentando. É isso o que essa pesquisa está mostrando. Ao invés de apresentar soluções para os problemas do país, o ‘capitão cloroquina’ vive passeando, fazendo campanha e atacando os outros. Não se vê o chefe do Executivo reunido com auxiliares para achar soluções para os problemas do país. Ele só fala em campanha, só arranja confusão e só faz politicagem.

Outra coisa que está levando quase metade dos cariocas e paulistas a acharem o governo Bolsonaro ruim ou péssimo, além do que já foi dito, são os escândalos de corrupção que estão vindo à tona. Na semana passada caiu o ministro da Educação por corrupção. Prefeitos denunciaram que os municípios só conseguiam verbas se pagassem propina a dois pastores indicados por Bolsonaro para atuarem ilegalmente no MEC.
Os dois pastores, Gilmar Santos e Arilton Moura, íntimos de Bolsonaro, e indicados por ele, exigiam propina dos prefeitos mesmo sem serem funcionários do governo. Quem não pagava propina aos pastores não recebia nada.
Num áudio vazado de uma reunião, o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, aparece dizendo que a atuação dos dois pastores junto ao Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), que administra uma verba de R$ 60 bilhões, era uma determinação de Jair Messias Bolsonaro.
O mesmo Jair Messias que se elegeu prometendo combater a corrupção mas, que, quando assumiu, interferiu nos órgãos de fiscalização para que não houvesse mais investigação da roubalheira. Ele interferiu na PGR, no Coaf, na Receita e na Polícia Federal. Por isso é que os pastores, segundo os prefeitos, falavam abertamente sobre as propinas. Achavam que não iam ser descobertos nunca. Um deles pediu a propina em barra de ouro.
Kelton Pinheiro (Cidadania), prefeito da cidade de Bonfinópolis, contou que, apesar de precisar de uma escola nova, se negou a aceitar a proposta de pagamento de propina feita pelo pastor Arilton Moura. O prefeito afirmou que, por intermédio do pastor Gilmar, conseguiu ser recebido pelo ministro da Educação numa reunião com vários prefeitos. Kelton disse que os prefeitos foram almoçar e que, nesse momento, o pastor Arilton, que também estava no encontro, fez o pedido de propina.
Segundo Kelton, o pastor disse: “‘Papo reto aqui. Eu tenho recurso para conseguir com você lá no ministério, mas eu preciso que você coloque na minha conta hoje R$ 15 mil. É hoje. E porque você está com o pastor Gilmar aqui, senão, pros outros, foi até mais’. Achei muito estranho, não tinha interesse”. “Olha, eu precisava muito da construção de uma escola nova. Tem uma escola lá que é de placas de muro, escola antiga, que a gente precisava substituir lá no município. Então ele disse: ‘Olha, tudo bem, eu consigo isso para você, mas eu quero que você me dê hoje R$ 15 mil aqui na minha mão. Hoje, uma transferência, que você faça isso hoje’”, relatou o prefeito.
Diante das pesquisas mostrando a indignação de boa parte da população brasileira com o descaso do governo com os problemas graves vividos pela população e o cinismo de Bolsonaro nos casos da corrupção, ele acabou admitindo que está tendo roubo em seu governo, mas disse que as pessoas que estão roubando em seu governo estão fazendo isso “com boas intenções”.
Disse isso em sua live de quinta-feira (7). Naquela mesma semana em que ocorreu do escândalo dos pastores, o Tribunal de Contas da União (TCU) barrou uma licitação do FNDE, órgão controlado pelos pastores, por denúncias de que o governo estava comprando ônibus escolares superfaturados, dando um prejuízo de mais de R$ 700 milhões aos cofres públicos.
Depois que veio à tona o escândalo mostrando que o governo Bolsonaro estava pagando R$ 480 mil por cada ônibus que custavam, segundo os técnicos do próprio FNDE, no máximo, R$ 270,6 mil, o pregão foi suspenso e o governo foi obrigado a votar atrás nos preços superfaturados.
Ou seja, o que a pesquisa Datafolha, que ouviu 1.218 pessoas no estado do Rio e outras 1.806 no estado de São Paulo entre terça (5) e quinta-feira (7), detectou é que nas regiões mais populosas do país, quase metade da população já percebeu que Bolsonaro é uma fraude e que, além de não governar, de não se preocupar com o povo brasileiro, e viver passeando, o “mito” está promovendo uma verdadeira roubalheira nas verbas públicas do Brasil.