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Faleceu no último domingo (14) o juiz aposentado Theodomiro Romeiro dos Santos, o primeiro homem condenado à morte pela ditadura militar brasileira, em março de 1971, quando tinha 18 anos.
Theodomiro havia sido acometido por um AVC hemorrágico em 2018. A notícia da morte foi divulgada pelo escritor e jornalista Emiliano José e confirmada pelo Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região.
Militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) na luta contra a ditadura, Theodomiro foi preso no dia 27 de outubro de 1970. Meses depois, foi condenado à morte pelo Conselho Especial da Aeronáutica, sendo o primeiro brasileiro a receber essa sentença desde a Proclamação da República. Teve sua pena revertida em perpétua, passando mais de oito anos em cárcere. Fugiu da prisão em 1979, às vésperas da Anistia tendo se exilado na França.
Theodomiro retornou do exílio em 1985, quando sua condenação expirou. Na época, graduou-se em Direito e assumiu o cargo de juiz do Trabalho no TRT de Pernambuco, onde atuou até a aposentadoria.
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Leia o texto de Emiliano José sobre a partida de Theodomiro:
Theo partiu,
EMILIANO JOSÉ
Para nossa geração, tempo de partidas.
De homens partidos.
Porque quando um dos nossos se vai, vamos um pouco também.
Theodomiro Romeiro dos Santos, meu querido amigo, companheiro de luta, de prisão.
Teve um grave AVC hemorrágico em 2018.
Resistiu até hoje, 14 de maio de 2023.
Partiu serenamente.
A notícia de Virgínia, amorosa companheira dele, amorosa assim num limite pouco conhecido, agora, pouco depois das 19 horas, me envolveu em tristeza profunda.
Theo é um dos nossos heróis.
Está certo: triste do país que precisa de heróis.
Nós precisamos – a ditadura cobrou a existência deles.
Primeiro, militante cristão em Natal. Cedo, muito cedo, liga-se ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, e foi na condição de militante desse partido a chegada dele à Bahia.
Foi durante um bom tempo o mais famoso preso político do País.
Aos 18 anos, em Salvador, reagiu a uma prisão arbitrária, como todas do período.
Matou um sargento da Aeronáutica, e por muito pouco não foi assassinado pelos militares, e aquele era um momento de pura barbárie.
Fui preso pouco depois dele, e por quatro anos convivemos na Galeria F da Penitenciária Lemos Brito, em Salvador.
Condenado à morte em março de 1971, tornou-se o símbolo de uma campanha nacional e internacional, e a ditadura foi obrigada a recuar.
Tornaram a pena de morte perpétua, e no vai e vem dos tantos recursos, terminou condenado a coisa de 16 anos e alguma coisa.
Depois de quase nove anos de prisão, pede liberdade condicional a que teria direito.
Negado liminarmente.
Resolveu fugir, às portas da anistia, em agosto de 1979.
Tinha convicção: libertados os demais companheiros, ele sozinho na Lemos Brito, seria morto de um jeito ou de outro.
Estava jurado de morte pelos militares.
Foge, e termina na embaixada do Vaticano em Brasília.
De lá para o México, depois pra Paris.
Volta somente em 1985, com o fim da ditadura.
Contei tudo isso no número um da revista Caros Amigos, na matéria “Fuga histórica”.
Torna-se juiz do Trabalho em Pernambuco, e conhece Virgínia.
Casam-se.
Tiveram uma vida de muito amor e companheirismo.
Creio tenha ele conseguido viver com algum conforto durante esses anos graças a Virgínia, aos cuidados extremados dela, muito amor.
Estive com ele mais de uma vez depois do acidente hemorrágico.
Em uma delas, conseguimos alguma interlocução.
Um momento de rara emoção.
Um revolucionário partiu.
Um homem bom.
Fui testemunha, na prisão e depois, do espírito solidário dele.
Como poucos, exercitava a solidariedade.
Como poucos, sabia ser amigo.
Triste, muito triste.
O bom é poder recordar dele com tanta amizade, admiração, amor.
Meu filho leva o nome dele.
Adeus, meu querido companheiro e amigo.
Jamais o esqueceremos.
A história de Theodomiro foi contada em documentário do projeto “Nossas Histórias”, produção criada através do Projeto Marcas da Memória da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Assista abaixo: