![](https://horadopovo.com.br/wp-content/uploads/2023/09/criancas-foram-amarradas-em-viga.webp)
Indígenas yanomamis denunciaram ameaças feitas por garimpeiros invasores do território a crianças da etnia, que foram amarradas num poste de madeira na região de Surucucu, no estado de Roraima.
A denúncia foi feita pela associação yanomami Hutukara e enviada a órgãos como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Polícia Federal (PF), Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Exército e Ministério Público Federal (MPF).
Na denúncia, a entidade afirma que na última terça-feira (19) recebeu a informação em vídeo de que garimpeiros na região do Hakoma ameaçaram crianças yanomamis e as amarraram depois de tê-las acusado de furtar telefones celulares do grupo.
Um vídeo mostra imagens de duas crianças e um adolescente yanomami amarrados a troncos de árvores e ameaçados por garimpeiros invasores, no meio da mata, na Terra Yanomami. Episódio é encarado como tortura, o que é crime.
Em um trecho da gravação, os invasores acusam os yanomami de terem furtado celulares. Na tentativa de recuperarem os objetos, os garimpeiros os amarraram e ameaçaram.
Enquanto grava, o homem grita: “Tira o cartucho, tira o cartucho, traz o celular, traz o celular. Cadê o celular? Pode amarrar. Vá buscar os cartuchos da espingarda”. Em outro trecho, os três indígenas estão amarrados a postes de madeira.
A Hutukara diz ainda que não tem conhecimento do desfecho das ameaças nem da data exata em que elas ocorreram e pede que as forças de segurança atuem para dar uma rápida resposta. A região é de difícil comunicação e o vídeo foi enviado do Papui, uma área em que há acesso à internet.
Os relatos chegaram ao conhecimento da associação por meio de um sistema de alertas, que tem como objetivo fortalecer a comunicação entre as comunidades da terra indígena e levar os problemas aos órgãos responsáveis mais rapidamente.
O líder yanomami Dário Vitório Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara, qualificou o episódio como de uma “violência brutal”.
Por meio de nota, o Ministério dos Povos Indígenas afirmou que “situações como esta são inadmissíveis (…) Reafirmamos nosso compromisso com a defesa e proteção aos territórios indígenas, bem como o empenho do Governo Federal em acabar de vez com o garimpo na TI Yanomami”. O órgão diz ainda articular com demais instituições e ministérios citados na denúncia da associação Hutukara.
Na quarta, a PF deflagrou a Operação Eldorado em Roraima, Amazonas, Goiás e Distrito Federal, com o objetivo de prender supostos envolvidos num esquema de contrabando e venda de ouro venezuelano obtido por meio da extração em garimpos ilegais.
De acordo com a PF, quase R$ 6 bilhões foram movimentados no esquema e os principais investigados também teriam elo com a exploração ilegal do ouro na Terra Indígena Yanomani.
Além do garimpo irregular, o povo yanomami também sofreu nos últimos anos com sérios problemas de saúde.
Imagens divulgadas pelos indígenas da etnia no começo do ano mostravam crianças e idosos em situação de desnutrição e precisando de amparo e auxílio médico.
Em novembro do ano passado, ainda no governo de Jair Bolsonaro (PL), PF e MPF fizeram uma operação para combater suposto desvio de recursos públicos destinados à compra de medicamentos para os yanomamis.