Operação conjunta da Polícia Civil de São Paulo e do Exército cumpriu na sexta-feira (12) mandados de busca e apreensão em endereços de CACs (caçadores, atiradores e colecionadores) suspeitos de ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
O objetivo é apurar se o grupo criminoso vem usando pessoas que possuem autorização concedida pelo Exército para comprar armamento a ser empregado em ações criminosas, os chamados “laranjas”. As buscas foram autorizadas pela Justiça paulista.
Na mira da polícia estão dirigentes da UPBus, entre eles Rogério Gomes Coelho, diretor operacional da empresa de ônibus que atua na zona leste da capital, e Anísio Amaral da Silva, “Biu”, apontado pelos investigadores como um dos chefes do PCC responsáveis pelo controle da UPBus.
No final de junho, a polícia realizou uma operação em endereços à empresa, quando encontrou uma rifa, uma antiga modalidade usada pelo grupo para arrecadar recursos. Durante a ação, os policiais encontraram também armas e munições nos endereços dos investigados. Todo o material estava legalizado em nome de pessoas com registros de CAC.
A polícia suspeita que o armamento identificado nesses endereços seja ainda maior. Para os investigadores, isso seria indício de que as armas estivessem naquela ocasião emprestadas ilegalmente a terceiros.
O desfecho da nova operação foi divulgado pela nova operação, mas segundo apuração da Folha de São Paulo, assim como havia ocorrido em junho, nenhuma arma foi encontrada nos endereços ligados a Coelho. Pelas informações do Exército, a polícia esperava encontrar um fuzil, uma pistola e um revólver.
Os próximos passos agora são levantar onde estariam as armas. Como o diretor da empresa também não foi encontrado, os policiais estão tentando localizá-lo para prestar esclarecimentos.
Se estivesse no endereço e sem as armas, Coelho poderia ter sido preso, conforme a polícia. Isso porque, de acordo com documentos entregues à Justiça, para conseguir autorização, o CAC deve indicar os endereços onde as armas serão guardadas, para eventual fiscalização do Exército.
Nos outros endereços alvos da operação nesta sexta-feira, os policiais encontraram todas as armas buscadas, diferentemente do que havia ocorrido em junho. Nos endereços de Silva, antes, a polícia havia encontrado apenas uma arma em nome dele, enquanto os registros indicavam quatro.
As três armas que faltavam foram apresentadas aos policiais nesta sexta-feira.
No endereço de Silva, a polícia havia apreendido, em junho, seis armas registradas em nome do genro dele, também CAC, entre fuzil .556, submetralhadora e pistola 9 mm.
A polícia suspeita que esse arsenal pode pertencer ao próprio Biu, por não ser compatível com a renda do parente dele. Segundo apuração, o genro tem um salário de pouco mais de R$ 2.000 e as armas estão avaliadas em cerca de R$ 50 mil no total.
Na casa de outro investigado, Ubiratan Antônio da Cunha, o Denarc havia encontrado em junho farta munição, mas apenas duas pistolas. A expectativa era localizar outras 18 armas, entre pistolas, rifles, submetralhadora – e até um fuzil.556 – plataforma AR15 (T4).
Esse arsenal foi apresentado nesta sexta, com a documentação, o que justificou a não apreensão do material, segundo relataram os agentes.
Os rumos da investigação agora é descobrir onde as armas buscadas na operação anterior. Se for confirmada alguma irregularidade, os proprietários podem perder o registro no Exército.
FACILIDADE
No governo de Jair Bolsonaro, os criminosos encontraram os meios e facilidades para ter acesso à armas e munição fartamente. Desde que tomou posse, o presidente defensor da tortura e do lobby armamentista, tem atuado para espalhar armas pelo país.
Sob a falácia de que armar os cidadãos para fortalecer a segurança da população, desde 2019, Bolsonaro vem adotando ações, por meio de decretos e portarias, alterando e enfraquecendo o Estatuto do Desarmamento.
As mudanças na legislação, na prática, têm servido para armar o crime organizado, que está conseguindo driblar a legislação. Facções como o PCC recrutam “laranjas” para se alistarem no Exército a fim de conseguirem o título de CAC.
Além disso, a política pró-armas de Bolsonaro também conseguiu baratear o preço dos armamentos.
“Eles (integrantes do PCC) pagavam de R$ 35 mil até R$ 59 mil num fuzil no mercado paralelo e agora pagam de R$ 12 mil a R$ 15 mil um (fuzil calibre) 556 com nota fiscal”. A afirmação é do promotor de Justiça Lincoln Gakiya, sobre a facilidade com que os criminosos estão tendo para comprar armas, beneficiados pelos decretos do “governo da morte”.
Importante fornecedor de cocaína para o Narcosul, o cartel da droga da facção, Santa Fausta comprou uma empresa de ônibus em São Paulo, a UPBus, alvo da operação conjunta da Polícia Civil e Exército, nesta sexta-feira.
Essa empresa mantinha contrato de R$ 600 milhões com a Prefeitura, para lavar dinheiro do tráfico. Santa Fausta acabou assassinado por pistoleiros em dezembro de 2021, no Tatuapé, na zona leste da capital paulista.
De acordo com Gakiya, foram detectadas em várias investigações feitas em São Paulo pelo Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) determinações de integrantes da facção para que bandidos obtivessem o registro de CAC e comprassem armas e munição para a quadrilha.
“Em termos de negócio, comprar 10 fuzis no CAC gera uma economia significativa para eles (os bandidos)”. O promotor, que é jurado de morte pela facção em razão de seu trabalho, foi responsável pela transferência de toda a cúpula da organização, incluindo Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, de São Paulo para presídios federais.
Lincoln Gakiya, responsável também por investigações como a Operação Sharks, que localizou bilhões lavados pelo PCC com o tráfico, citou ainda outra economia obtida pela facção com as regras atuais: facilidade de logística.
“Imagine o custo, o peso e o trabalho para trazer de helicóptero do Paraguai ou da Bolívia 6 mil munições de calibre 556 (usadas em fuzis) se com apenas um CAC você pode fazer isso no Brasil. Compensa e bastante”, analisou.
Além de armar o crime, as medidas de Bolsonaro também vêm servindo para sujar de sangue as mãos de civis e ceifar a vida de brasileiros. Conforme tem divulgado o HP nas últimas semanas, uma onda de assassinatos foi registrada em vários estados do país.
Só em São Paulo, ocorreram dois na semana passada. Os responsáveis pelas mortes, todos tinham registro de caçadores, atiradores e colecionadores.