“É possível reduzir a tarifa, mas quem for prefeita tem que ter coragem de assumir a Câmara de Compensação Tarifária, como, aliás, a licitação manda”, afirmou Manuela D’Avila (PCdoB) candidata a prefeita de Porto Alegre (RS), durante o debate realizado, nesta terça-feira (27), pelo jornal Correio do Povo, Rádio Guaíba. O preço da passagem de ônibus em Porto Alegre é R$ 4,70, os mais alto entre todas as capitais do país.
O debate foi dividido em quatro blocos, utilizando o sistema de perguntas diretas de um candidato para o outro, com direito a réplica e tréplica.
Durante um desses enfrentamentos, o candidato Sebastião Melo (MDB), pediu para ser perguntado por Manuela. A candidata, que está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto na capital gaúcha, perguntou sobre a intenção de privatizar a Companhia Carris Porto-Alegrense (conhecida por Carris) que é a maior empresa operadora do transporte público de Porto Alegre e estatal.
“Nós sabemos que a próxima prefeita ou prefeito de Porto Alegre terá que lidar, necessariamente, com a crise do transporte público. Tu tens falado bastante disso e eu queria ouvir a sua opinião sobre a Carris, porque li e fiquei surpresa, que defendes a privatização e nós sabemos que a Carris é a balizadora da qualidade do transporte coletivo em Porto Alegre. Como prefeito você vai privatizar a Carris? Como manter a qualidade então ?”, questionou Manuela D’Avila.
“Se for necessário para repactuar o sistema ter uma passagem mais barata e atender o cidadão, não tenho nenhuma dúvida em privatizar a Carris”, respondeu o candidato do MDB.
Melo ainda afirmou que o futuro prefeito precisará repactuar a licitação do transporte coletivo e que sentará com vereadores para rever algumas isenções, como para pessoas acima de 65 anos. Segundo ele, a isenção não deve ser para todos, somente para aqueles que tenham necessidade. Também falou que considera equivocado que governos cobrem impostos sobre o que incide sobre o transporte.
Em sua resposta ao comentário do adversário, Manuela afirmou: “Porto Alegre tem a passagem mais cara entre as capitais. Isso faz com que muitas mulheres e homens deixem de andar de ônibus. Nós temos muitos trabalhadores formais e informais que não recebem vale transporte e que querem voltar a andar e querem voltar a andar de ônibus de qualidade. É por isso que eu quero ser a prefeita que retomou a Câmara de Compensação Tarifária para a Prefeitura”.
“Quero ser prefeita de verdade, ou seja, gerir, administrar. Quero construir um Fundo de Mobilidade Urbana. Esse fundo terá recursos do IPVA, parte deles, terá recursos das multas e estacionamentos da cidade e terá recursos de um aplicativo que nós queremos criar para garantir que os motoristas de aplicativo possam pagar menos e contribuir para a mobilidade da nossa cidade. É possível reduzir a tarifa, mas quem for prefeita tem que ter coragem de assumir a Câmara de Compensação Tarifária, como aliás, a licitação manda”, salientou a candidata do PCdoB.
O debate abordou diversos temas, dentre eles: educação, saúde, segurança, transporte público, contas públicas, retomada da economia depois da pandemia.
RUSGAS
Mas o momento de maior tensão, ocorreu entre as candidaturas de ex-aliados que romperam pouco antes da eleição. O prefeito Nelson Marchezan (PSDB) bateu boca com o seu vice, Gustavo Paim (PP) que também disputa a Prefeitura da cidade.
Paim questionou Marchezan sobre a instabilidade e falta de diálogo de sua gestão. “Porto Alegre precisa de liderança e estabilidade. A instabilidade na administração faz mal à cidade. Foram 59 trocas em 46 meses de governo, entre secretários e adjuntos”, disse Paim.
Marchezan respondeu: “na minha gestão, o dinheiro público foi respeitado e a ética foi respeitada”, disse o prefeito citando casos de corrupção na Procempa, no Demhab, no DEP e na Carris, envolvendo partidos aliados da sua gestão, como o PTB e o PP.
Marchezan ainda atacou Paim. “Desliguei alguns secretários, alguns por incompetência. Tu foste um deles, Paim. Tu não eras bom na Secretaria de Relações Institucionais, tive que te desligar e aprovei todas as reformas”.
Aí os ânimos ficaram exaltados e Paim replicou. “No dia 10 de maio, o teu chefe de gabinete ficou me cercando para assinar contratos de 20 milhões de reais em contratos de publicidade. Tu queria me sacanear, prefeito? Eu me recusei a assinar. Na segunda feira, esses 20 milhões viraram 10 milhões. Onde foram parar os outros 10?”.
A contradição foi explorada por Manuela D’Ávila: “Porto Alegre não precisa escolher entre o atual prefeito, o atual vice, o ex-prefeito e o ex-vice-prefeito”, disse a candidata também se referindo a Jose Fortunati (PTB) e Sebastião Melo.
Ao longo do debate, Marchezan, Paim, e Melo mostraram que rezam pela mesma cartilha que apostam em privatizar Porto Alegre como saída para os problemas da cidade.
Respeitando os protocolos sanitários e cumprindo o distanciamento social, participaram do debate os seguintes candidatos: Fernanda Melchionna (PSol), Gustavo Paim (PP), João Derly (Republicanos), José Fortunati (PTB), Juliana Brizola (PDT), Manuela D’Ávila (PCdoB), Nelson Marchezan Jr. (PSDB), Rodrigo Maroni (PROS), Sebastião Melo (MDB) e Valter Nagelstein (PSD).
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