O prefeito de Nova Iorque, Bill de Blasio, afirmou que processará o governo federal se a administração de Donald Trump mantiver a sua ameaça de cortar fundos federais a cidades lideradas por democratas onde têm se registrado manifestações contra o racismo, que o presidente qualificou de “anarquistas”.
“Se Trump persistir em tentar negar o financiamento – que está mantendo a cidade de Nova Iorque em marcha – na metade desta crise, o levaremos aos tribunais e, una vez mais, o derrotaremos”, disse o prefeito em coletiva de imprensa. Ele sublinhou a frágil situação sanitária e econômica que atravessa a cidade e o restante dos municípios norte-americanos e, nesse contexto em que “a resposta do governo federal é insuficiente e torpe”, questionou os “ataques ilegais e inconstitucionais” do presidente.
Em mais uma ação para reforçar seu programa eleitoral, que está estribado no que ele chama de “lei e ordem”, Trump enviou, na quarta-fera, 2, um memorando ao diretor interino do Escritório de Administração e Orçamento, Russell Vought, e ao promotor geral, Willian Barr, pedindo revisar e cortar os fundos das que chamou ‘cidades sem lei’, aí incluídas Seattle, Portland, Washington D.C. e Nova Iorque. O argumento é que têm “permitido que persista a violência e a destruição da propriedade, e que têm se negado a tomar medidas razoáveis para combater essas atividades criminosas”.
As administrações dessas quatro cidades se uniram na quinta-feira, 3, para responder e, em comunicado conjunto, denunciaram ser vítimas de ataques “inaceitáveis” por parte da Casa Branca, insistindo que essas manobras serão derrotadas nos tribunais.
“Nossas cidades, e os milhões de norte-americanos que representamos, não são as fichas do jogo político do presidente Trump”, assinalaram na nota, lembrando que o país está tendo que enfrentar “desafios sem precedentes” pela pandemia.
“O presidente Trump precisa acordar ante a realidade com a qual nossas cidades e todo o nosso país se defrontam e perceber que ele não está acima da lei”, disseram.
A promotora-geral do Estado de Nova Iorque, Letitia James, assegurou que o plano do presidente é uma estratégia eleitoral “desesperada” e advertiu que se seguir adiante sofrerá ações legais de maneira imediata.
“Suas tentativas de governo tirano se encontrarão com uma feroz oposição”, disse James em comunicado.
Esta não é a primeira vez que Trump tenta privar de fundos federais as localidades que aplicam políticas às quais se opõe. Em 2017 pretendeu fazê-lo com as cidades que se negam a colaborar com as autoridades federais para deportar imigrantes sem documentos, mas os tribunais brecaram esse decreto ao considerar que o presidente não pode decidir sobre orçamentos municipais.
O governador do Estado de Nova York, Andrew Cuomo, um importante crítico do presidente, falou que se ele pretende levar à prática essa política é bom que visite a cidade de Nova York “acompanhado do Exército”.
“Ele não terá guardas suficientes para passear pelas ruas de Nova York, melhor trazer o Exército. Os nova-iorquinos não querem ter nada ligado a ele”, disse Cuomo ressaltando que os moradores da cidade causam raiva em Trump porque sempre o consideraram “um palhaço” e uma “atração dos jornais”.
Para Cuomo, a ação de cortar fundos de cidades governadas por democratas “é política, injustificável e ilegal”, e é mais uma medida do exterminador “de tentar matar NYC”.
Trump atacou a fala de Cuomo dizendo que ele é o responsável por milhares de mortes “por causa do vírus chinês”. O governador denunciou que a Casa Branca está promovendo a ideia de que pode haver uma vacina para os primeiros dias de novembro: “Deve ser um fármaco milagroso do dia das eleições”, ironizou, assegurando que não confia nas autoridades federais e que seu governo revisará qualquer vacina antes de recomendar seu uso.
Com a economia nos EUA no fundo do poço e um desemprego que não para de crescer aos milhões, Trump está empenhado em desviar a atenção do desastre para evitar que a votação de 3 de novembro se torne um plebiscito sobre a catastrófica política de seu governo. Na tarde de sexta-feira (4) a Universidade Johns Hopskins registrava 6,2 milhões de infectados e quase 188 mil mortos pelo vírus, um recorde planetário.