No Meia Noite em Pequim desta semana da TV Grabois, o pesquisador e escritor Elias Jabbour analisa a posição chinesa sobre o conflito entre a Ucrânia e a Rússia e o significado da abstenção na votação na ONU.
“Na medida em que Pequim considera que existe uma “preocupação legítima dos russos sobre sua segurança nacional” em razão da expansão da Otan em ondas desde 1991, a China “não condena e também não apoia”.
Ele observa ainda que entre Pequim e Moscou existe uma aliança estratégica, que vem se aprofundando em todos os campos. E, ao mesmo tempo, Pequim mantém excelentes relações com a Ucrânia.
Na ONU, a abstenção pode significar tanto um ato de condenação ou de não-condenação. Ou seja, a Índia, a China, Brasil, vários países se abstiveram de condenar um ataque de um país sobre outro, em tese, o que representou um “apoio velado” à Rússia.
É a China que quem vem ocupando esse papel de moderação no cenário internacional: não condena, se abstém, chama à mediação.
Na semana anterior, o presidente Xi pediu ao presidente da França Emmanuel Macron e ao primeiro-ministro alemão Olaf Scholz, o máximo de moderação possível por causa da situação, que pode levar a Europa a seríssimos problemas de perda de competitividade industrial por conta da dependência energética da Rússia.
Há soluções possíveis, desde que a Otan não englobe a Ucrânia. O próprio Henry Kissinger aconselhava em 2014 tornar a Ucrânia em um estado-tampão.
Para o pesquisador, a ação sem precedentes dos EUA contra a Rússia, acompanhada pelos europeus, só faz aumentar a confluência da China e da Rússia.
Ele lembra ainda que a China e a Rússia entregaram ao secretário-geral da ONU em fevereiro um documento propondo uma nova ordem mundial multipolar, que Jabbour chama de “uma nova Westfália”.
Se levadas ao extremo as sanções contra a Rússia, a possibilidade de surgimento de uma ordem financeira e monetária paralela ao dólar pode entrar na ordem do dia, ele sublinha. As sanções chegaram ao ponto de “assaltarem as reservas da Rússia em bancos ocidentais”.
A questão – assinala Jabbour – é se interessa à China o surgimento imediato de um sistema financeiro paralelo capaz de enfraquecer o dólar demais. Esse é o x da questão. Porque intuitivamente é muito desejável, já que os Estados Unidos têm uma bomba nuclear financeira que usam “a torto e a direito”.
Mas ser o capitão em uma nova ordem financeira internacional tem um custo muito alto e resta saber se à China interessa essa rápida ruptura do padrão dólar no mundo atual.
Quando envolve essas grandes questões – conclui – “tem que pensar mais com a cabeça e menos com o coração”.
Elias Jabbour é professor dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Econômicas e em Relações Internacionais da UERJ.