A falta de menção à visita de Bachelet à região chinesa de Xinjiang e a ausência de sua assinatura no relatório levam a crer que o mesmo já estava pronto, argumenta Elias Jabbour
No Meia Noite em Pequim da TV Grabois desta semana, o pesquisador e escritor Elias Jabbour, após esmiuçar o relatório da ONU que acusa a China de graves violações dos direitos humanos em Xinjiang, conclui que lhe falta “credibilidade científica”.
Para começar, a chefe do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, a ex-presidente chilena Michelle Bachelet, foi à China encabeçar uma avaliação da situação dos direitos humanos no país, especialmente em relação a Xinjiang, esteve na região autônoma, mas o relatório não faz qualquer menção a essa visita.
Esse relatório que condena a China quanto aos direitos humanos – assinala o pesquisador – não usa a palavra genocídio mas dá a entender que existe um genocídio.
O que acontece ali é estranho: ou Bachelet se negou a assinar esse relatório ou foi demitida por conta da negativa em assinar esse relatório, ele destaca. Tanto assim, que o relatório sai dia 31 sem a assinatura dela, que visitou Xinjiang em 2022. A falta de menção à visita de Bachelet leva a crer que já estava pronto
“São 48 páginas e eu nunca vi um relatório, nem de iniciação científica, em que as palavras ‘talvez’, ‘possível’ , ‘aparente’ surgissem tanto”, observa o pesquisador. O que fere o critério científico da credibilidade.
Existe uma completa ausência de protocolo de pesquisa destinada elevar a confiabilidade das entrevistas feitas, aponta Jabbour. Foram 40 entrevistas para esse relatório, todas elas feitas fora da região de Xinjiang, e isso é citado.
Diversos diplomatas de países islâmicos, inclusive dos mais radicais, têm emitido opiniões sobre direitos humanos na região de Xinjiang altamente positivas à China. Mas esse relatório não cita as opiniões de diplomatas de países muçulmanos, ou seja, que estariam interessados na situação de seus companheiros muçulmanos.
Aliás, muito mais preocupados do que os EUA. Se a preocupação de Washington fosse realmente com os muçulmanos, não teria matado tantos no Iraque, no Afeganistão e agora no Iêmen, numa guerra de procuração via Arábia Saudista.
Para alguém acostumado a fazer pesquisa, sob o ponto de vista técnico, o relatório tem muito furo. Essa questão das palavras ‘talvez, aparente, possível’, de não citar os entrevistados e o fato das entrevistas serem realizadas fora de Xinjiang, já dão um caldo para pôr em xeque esse relatório.
Há dois institutos no relatório que são citados nominalmente. Um é o think tank Instituto Australiano de Política Estratégica (ASPI) – que recebeu 5 milhões de dólares dos EUA no ano de 2020. O outro, aquela famosa Fundação Memorial das Vítimas do Comunismo, que tem como curador Adrian Zenz.
Zens – que nunca foi a Xinjiang – produziu um relatório que foi amplamente aceito pela comunidade internacional e na própria ONU em que diz que lá há ‘um milhão de prisioneiros em campos de concentração’, com base em oito entrevistas. Para Jabbour, essa questão de Xinjiang é “a grande mamadeira de piroca da geopolítica internacional no momento”.
O pesquisador relata que conhece Xinjiang e pode falar que é uma região que teve imensos avanços na vida social. Também uma região muito tensa por conta do terrorismo islâmico que existe lá e a China tem que enfrentar isso. E, ao invés de invadir países, a China prefere agir dentro do seu próprio território, e não dá pra brincar com esse tipo de coisa, a penetração das correntes wahabitas.
Lá eles falam que tem campos de Reeducação que são semelhantes aos que tem na França. E ninguém fala que tem campos de concentração na França. Então eles chamam campos de Reeducação, que na verdade são campos de desradicalização, onde as pessoas aprendem uma serie de ofícios.
Pela falta de confiabilidade dos dados do relatório – acrescenta Jabbour -, trata-se de mais uma arma dos EUA e do Ocidente para desestabilizar a China no âmbito internacional. Ao concluir, ele convida todos a lerem esse relatório: é só procurar Relatório ONU e tirar as próprias conclusões.
Elias Jabbour é professor dos Programas de Pós-Graduação em Ciências Econômicas e em Relações Internacionais da UERJ.