O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, confirmou, em ofício enviado à Polícia Federal, que o presidente não encontrou “óbices ou embaraços” para trocar a segurança pessoal dele
Caiu por terra a versão inventada por Jair Bolsonaro de que estava falando do Gabinete de Segurança Institucional, quando afirmou, na reunião ministerial do dia 22 de abril, que teve dificuldade para trocar o comando da segurança no Rio de Janeiro. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, confirmou, em ofício enviado à Polícia Federal, que o presidente não encontrou “óbices ou embaraços” para trocar a segurança pessoal dele.
O ofício foi enviado porque a PF pediu a Heleno que se manifestasse no inquérito que apura se Bolsonaro tentou interferir politicamente na corporação, O ex-ministro Sérgio Moro denunciou que as ameaças de intervenção, feitas por Bolsonaro, na reunião, não se referiam ao GSI, como foi aventado pelo Planalto, mas sim à Polícia Federal. Dois fatos confirmaram Moro. O primeiro foi a demissão de Maurício Valeixo do comando da PF logo após a reunião e o segundo foi que Bolsonaro havia trocado, como Heleno confirma agora, sem “embaraços”, dois integrantes de sua segurança no Rio, assim que assumiu a presidência.
Sempre que questionado sobre o tema, Bolsonaro afirma que, ao mencionar a palavra “segurança”, se referia à segurança pessoal dele no Rio de Janeiro, não à Polícia Federal. No vídeo ele se contradiz. Afirma que teve dificuldade para trocar a segurança no Rio. E prossegue: “Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu (sic), porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, disse Bolsonaro.
Ao pedir ao GSI que se manifestasse sobre o caso, a PF pediu: “Detalhamento de eventuais óbices ou embaraços a nomes escolhidos para atuação na segurança pessoal do Exmo. Sr. Presidente da República ou de seus familiares nos anos de 2019 e 2020.” Heleno, então, respondeu: “Não houve óbices ou embaraços. Por se tratar de militares da ativa, as substituições do Secretário de Segurança e Coordenação Presidencial, do Diretor do Departamento de Segurança Presidencial e do Chefe do Escritório de Representação do Rio de Janeiro foram decorrentes de processos administrativos internos do Exército Brasileiro.”
A PF também perguntou se houve: “Eventual extensão, nos anos de 2019 e 2020, da segurança pessoal do Exmo. Sr. Presidente da República ou de seus familiares, conforme art. 10 da Lei 13.844/2019, a outras pessoas que não aquelas expressamente previstas no referido dispositivo legal.” O ministro respondeu: “Não houve.”
Foram feitas ao menos duas trocas na segurança pessoal do presidente Jair Bolsonaro, uma delas ocorreu um mês antes da reunião ministerial de 22 de abril. De acordo com as informações enviadas por Heleno, no dia 30 de março deste ano, o GSI dispensou o coronel do Exército André Laranja Sá Corrêa da função de Diretor do Departamento de Segurança Presidencial da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial. A saída ocorreu sem dificuldades, fragilizando a defesa do presidente. Laranja Sá assumiu o comando da 8ª Brigada de Infantaria Motorizada de Pelotas (RS). O até então diretor-adjunto Gustavo Suarez assumiu o posto.
As informações pedidas a Augusto Heleno estão no inquérito aberto em abril pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR). As investigações têm como base a acusação do ex-ministro da Justiça Sergio Moro de que Bolsonaro tentou interferir politicamente na PF ao demitir o diretor-geral da corporação e ao cobrar a troca no comando da PF no Rio de Janeiro.