As investigações da Polícia Federal no inquérito sobre os atos antidemocráticos, manifestações que tinham o intuito de defender ações inconstitucionais, como o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, além da adoção de um novo AI-5, revelaram que a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo Bolsonaro, quando chefiada por Fabio Wajngarten, defendeu que a verba de publicidade da Caixa Econômica Federal privilegiasse veículos de comunicação classificados como “mídia aliada”, as mesmas que apoiam as posturas e manifestações golpistas e antidemocráticas do presidente.
Segundo um relatório da PF, em abril de 2019, depois de assumir o comando do órgão, Wajngarten se aproximou do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, dono do site Terça Livre e amigo dos filhos do presidente. O ex-chefe da Secom expressou preocupação com o atraso no pagamento de verbas de publicidade a quem classifica como “aliados”.
Ele diz que foi informado de que a “Caixa”, em provável referência à Caixa Econômica Federal, estaria “devendo dinheiro” à Band e RTV (provável citação à Rede TV!). “Os aliados estão furiosos. General sentou em cima e não paga nenhuma nota passada. Provocando iminentes tumores. Totalmente desnecessário”, comentou.
O relatório da PF não identifica o “general” citado por Wajngarten, mas, na época das mensagens, a Secom era vinculada à Secretaria de Governo, então comandada pelo general Carlos Alberto dos Santos Cruz. O general foi alvo de ataques bolsonaristas e acabou sendo demitido.
No diálogo, Wajngarten também diz que tentou aproximar Bolsonaro da cúpula da Band. Em seguida, Allan dos Santos avalia a Wajngarten que era preciso aproximar “esses caras” do governo, o que o chefe da Secom na época concordou.
Outras trocas de mensagens entre Wajngarten e Allan dos Santos também foram listadas pela PF. Em uma delas, datada de 6 de maio de 2019, o blogueiro critica o então ministro-chefe da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, e sugere: “Coloca o Carlos no lugar dele”. Wajngarten responde: “Quem tem essa caneta?”.
Há também registros de cobranças de Allan dos Santos sobre acesso a vídeos da TV Brasil. Em conversa datada de 30 de junho de 2019, o blogueiro reclama: “Há um canal que consegue antes de qualquer um. NÃO É NO SITE!”.
Wajngarten responde: “Deixa comigo. Já pedi para a Secom entender o funcionamento e distribuição desses vídeos”.
Os diálogos foram revelados pelo jornal “O GLOBO” neste domingo (13).
O general Santos Cruz classificou como “esdrúxula” e “inadequada” as conversas entre o então titular da Secom e o blogueiro.
“Isso aí aconteceu nas sombras, fora do ambiente de trabalho, até porque o próprio Allan dos Santos nunca foi funcionário público, nunca trabalhou na Secom, nunca trabalhou na Segov, nunca trabalhou no governo. Assuntos de serviço desse tipo nem poderiam ser tratados com uma pessoa que nem é do ambiente de trabalho. Então, é uma conversa absolutamente esdrúxula”, afirmou.