Diferentes hospitais e unidades de atendimento médico estão relatando problemas relacionados à falta de dipirona injetável no tratamento de pacientes. O medicamento que auxilia no controle da febre e na redução da dor, é amplamente usado no sistema de saúde. O baixo estoque está relacionado com questões financeiras.
No final de março, o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) alertou o Ministério da Saúde sobre problemas com a falta do medicamento e dificuldades de reposição da dipirona injetável. Agora, o cenário vem se confirmando.
“Enviamos um ofício ao Ministério, mas gostaria de reforçar. Nós fizemos uma consulta a 23 Cosems [Conselhos de Secretarias Municipais de Saúde] que relataram falta de três medicamentos específicos: Dipirona injetável, Ocitocina e Neostigmina. Sabemos das dificuldades com o mercado, porém, queremos informar sobre a nossa preocupação com esse desabastecimento”, afirmou o presidente do Conasems, Wilames Freire.
DESABASTECIMENTO
O baixo estoque de dipirona injetável nos hospitais brasileiros está relacionada com o custo e regulação de preço dos medicamentos no Brasil. Atualmente, o analgésico não é produzido no país. Com isso, a demanda é suprida pela importação do remédio, sendo apenas o envase nacional.
O valor pelo qual este medicamento deve ser comercializado é definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed), que está ligada a diferentes ministérios e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “As farmácias e drogarias, assim como laboratórios, distribuidores e importadores, não podem cobrar pelos medicamentos preço acima do permitido pela Cmed”, explica o órgão.
A falta de incentivo à produção nacional de medicamentos agrava a situação, deixando a aquisição dos fármacos suscetível à variação do dólar e à especulação.
Em paralelo, algumas empresas farmacêuticas questionam o valor fixado e afirmam que o valor máximo de venda não cobre os custos da produção. Inclusive, um laboratório chegou a suspender a fabricação da dipirona por tempo indeterminado.
A presidente do departamento de farmácia da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), Erika Michelle do Nascimento Facundes, alerta para o risco de desabastecimento e explica que outros analgésicos podem apresentar mais efeitos colaterais.
“A gente vai ter dificuldade de manejar dor e febre no ambiente hospitalar e isso é risco, sim, à saúde, podendo levar a casos de convulsão, de eventos adversos relacionados a medicamento, que pode levar inclusive o paciente a precisar de leito de UTI e outros medicamentos, antídotos, outros insumos bem mais caros e inclusive intubação”, completa Facundes.