Três ministros do governo Chávez, juntamente com o líder da Marea Socialista, Gonzalo Gomez, representando a Plataforma Cidadão em Defesa da Constituição (PCDC) e a Plataforma pelo Referendo Consultivo, foram recebidos pela representação venezuelana da Cruz Vermelha Internacional, no dia 7, e concordaram que a ajuda humanitária necessária diante da crise econômica e de desabastecimento que se abate sobre a Venezuela não pode servir de fachada para uma intervenção dos Estados Unidos.
Os líderes venezuelanos representam um conjunto de organizações e lideranças que se distanciaram do governo de Maduro, mas não aceitam a intervenção externa como saída para a situação da Venezuela e propõem um Referendo Consultivo (como previsto no artigo 71 da Constituição do país) para que o povo determine se deseja ou não eleições em todos os níveis para a renovação da vida pública nacional.
Os líderes venezuelanos foram conhecer os detalhes das Convenções Internacionais que regem tais ajudas, tendo em vista a decisão unilateral do autoproclamado ‘presidente’ Guaidó, assim como dos EUA, de introduzirem a suposta ajuda desse tipo na Venezuela, sem a autorização do governo ou do presidente Maduro e “como presumível fachada de uma intervenção militar”, como já foi ameaçado pelo presidente dos EUA e ou integrantes de postos chave na Casa Branca.
Segundo o informe divulgado pela Plataforma sobre a reunião com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, divulgado no dia 10, “ficou muito claro que a emergência em que vive a população venezuelana não pode ser objeto de manipulação política nem militar de uma potência e que só pode ser canalizada por organismos multilaterais conectados com os direitos humanos, a saúde e a alimentação de maneira acordada com as instituições nacionais, com a presença do Estado venezuelano e com a participação da sociedade civil, mas em nenhum caso como uma suposta ajuda forçada com violência ou com a intromissão de outra nação”.
Eles informam também que “ficou claro que, para que isso seja possível, os governos devem reconhecer a emergência e abrir-se à recepção de tal ajuda, para evitar piores sofrimentos a seus cidadãos. Fazê-lo de outra forma pode levar a que as consequências possam ser mais graves, incluso do que a situação que se pretende aliviar, especialmente ao agregar novos detonadores ao perigo de que estalem ações de guerra”.
O chefe do Comitê Internacional da Cruz Vermelha na Colômbia, Christoph Harnisch, que participou do encontro, assegurou que a instituição não participará na distribuição da assistência que vem dos EUA, ao considerar que a “ajuda” é de um governo que tomou parte em um conflito interno de poder e não tem nada de humanitária. “Nós não participamos naquilo que é não é para nós uma ajuda humanitária”, pontuou Harnish.
“Estamos falando de uma ajuda que um governo decidiu e não que foi solicitada ou acordada”, acrescentou para esclarecer que o “humanitário” deve ser protegido por princípios fundamentais que norteiam a CV, tais como “a independência, a imparcialidade e a neutralidade.
“Para nós é importante que realmente haja um respeito ao termo humanitário e um respeito aos princípios, isto é fundamental”, reiterou.
Os emissários da Plataforma foram postos a par de várias condições que devem existir e ser respeitadas para o manejo da ajuda internacional humanitária de organismos e países para outros:
1) Reconhecimento da situação por parte do Estado.
2) As partes devem se por de acordo para a abordagem da situação.
3) Não utilização do tema da ajuda com fins políticos.
4) Trabalho com as instituições que devem ser as primeiras a canalizar os apoios e recursos humanos, e que devem avaliar a situação aos organismos internacionais para fazer possível a ajuda.
5) Supervisão da sociedade e de organismos autorizados para evitar o desvio dos recursos e assegurar que cheguem à população destinatária e necessitada.
Os integrantes da Plataforma também manifestaram aos representantes da CV seu ponto de vista sobre o caráter do governo Maduro, frente ao qual sustentam fortes questionamentos “nos planos moral, democrático, social e, econômico”, mas que, de “maneira nenhuma reconhecem a legitimidade de seu contendor, que pretende se impor – segundo ele mesmo – por meio de manobras anticonstitucionais, antidemocráticas, violadoras da soberania e autodeterminação do país”. Frente a “um cenário pré-bélico”, que lutam por “evitar ou impedir”, os preocupa a situação muito crítica da população venezuelana. Afirmaram que “ainda que considerem necessária a cooperação internacional, frente à muito crítica situação de emergência social da população venezuelana”, rechaçam “taxativamente sua manipulação política como possibilidade de disfarce de uma intervenção militar”.
Também expuseram as “implicações do bloqueio econômico e financeiro, assim como do confisco de ativos e contas do país, para a população venezuelana, especialmente em matéria de saúde e alimentação”.
PARLAMENTARES DOS EUA DIZEM NÃO À INTERVENÇÃO
Parlamentares do Partido Democrata, se posicionaram de forma contrária às declarações do autoproclamado Guaidó, em entrevista concedida à agência France Press de que poderia chegar a “autorizar” uma intervenção militar por parte dos Estados Unidos.
Entre eles, o mais sarcástico foi o recém-eleito Ro Khanna, pela Califórnia, que lhe disse: “Mr. Guaidó, o senhor pode se autoproclamar líder da Venezuela, mas não tem a condição de ‘autorizar’ uma intervenção militar dos EUA. Somente o Congresso pode dar luz verde para o envio de tropas para outros países. E nós não vamos fazer isso com relação à Venezuela”.
É claro que o senhor Ro Khanna sabe que os Estados Unidos interviram em muitos países sem pedir autorização ao Congresso norte-americano mas, neste caso, não é o que mais importa, o que pegou mal para Guaidó foi ser reduzido a sua real insignificância enquanto capacho. Onde já se viu alguém, que atua como joguete da Casa Branca, “autorizar” a intervenção estrangeira? Ela é feita – em especial pelos EUA – de acordo com a determinação dos interesses de Washington e sem pedir a autorização de ninguém do país invadido ou ocupado.
O deputado Khanna também se posicionou sobre as ameaças de Trump, Pompeo e Bolton de “opção militar” que, no caso da Venezuela, estaria colocada: “Também não cabe aos neoconservadores que atuam no Departamento de Defesa ou aos lobistas dos fornecedores do Pentágono autorizar intervenções”.
O senador Bernie Sanders, que disputou com Hillary Clinton a indicação para a candidatura democrata na últimas eleições presidenciais, declarou que “chega dos Estados Unidos permanecerem no negócio de mudanças de regime ou de apoiar golpes”.
A deputada democrata, Ilhan Omar, afirmou que “golpe bancado pelos EUA não é solução para os problemas da Venezuela” e acrescentou que “Washington não pode sair catando líderes para outros países”.
A deputada Tulsi Gabbard, que já lançou sua candidatura a representar os democratas nas próximas eleições presidenciais, foi taxativa: “Deixem que o povo da Venezuela determine o seu futuro” e prosseguiu dizendo que “os EUA devem ficar fora da Venezuela. Nós não queremos que outros países escolham nossos líderes, portanto, devemos parar de tentar escolher os líderes dos outros”.
NATHANIEL BRAIA