Werner Rempel (PCdoB), de Santa Maria, disse que é possível a convergência por um futuro grandioso para o Brasil. “Temos que deixar de ser viúvas do passado e viabilizarmos um vigoroso projeto de construção nacional”, disse ele, manifestando insatisfação com a nota de Braga Neto
O vereador de Santa Maria (RS), Werner Rempel (PCdoB), defendeu na tribuna da Câmara Municipal no último dia 31 de março, que o país “deve se unir para viabilizar a construção de uma grande nação”. Ele cobrou o desarmamento dos espíritos e o olhar para o futuro, ao criticar a nota de ministro Braga Neto em “comemoração” ao golpe de 1964.
“Todos aqui conhecem de décadas o meu pensamento sobre as Forças Armadas. Não considero ser possível um país soberano sem elas. Há os que falam em revolução e outros em golpe, eu digo que 1964 foi golpe. Eu nunca pensei as FFAA como um bloco monolítico. Sempre que analisei a história do Brasil e os sucessivos presidentes militares que nós tivemos vi diferenças entre eles. Um grupo, Castelo Branco e Geisel, e outro grupo, Costa e Silva e Médici.
1930: VENTOS QUE MUDARAM O BRASIL
Geisel lançou o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), que buscava dotar o Brasil da indústria pesada, da indústria de base. Sem essa indústria nenhum país pode se arvorar se independente do ponto de vista econômico. Quando ele assinou o acordo nuclear com a Alemanha, a política dos Estados Unidos passou a chamar o Geisel de nazista. Porque ele pensava um Brasil soberano e não submisso a nenhuma das grandes potências.
Cito também general Antônio Carlos de Andrada e Serpa, que muitos talvez nem se lembrem dele ou não o conheçam, que escreveu um Manifesto em Defesa da Soberania e Integridade do Brasil, um dos maiores libelos em relação a uma questão nacional que nós tivemos no país.
Assista ao discurso de Werner Rempel
Depois desse preâmbulo, eu quero fazer referência à ordem do dia que foi assinada pelo Ministro da Defesa, General Walter Souza Braga Neto e pelos comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica. Vamos analisá-la. Em uma certa altura, ela diz que o século XX foi marcado pelo avanço de ideologias totalitárias que passaram a constituir ameaças à democracia e à liberdade.
Ao fim e ao cabo diz que ao final da II Guerra, a bipolarização geral que fez emergir a guerra fria afetou todas as regiões do globo, o que trouxe ao Brasil um cenário de incertezas e de grave instabilidade política econômica e social, comprometendo a paz nacional. E segue para 1964. Com isso, essa ordem do dia quer dizer que a justificativa do movimento de 1964 foi a guerra fria e as possibilidades dela ameaçar o Brasil
Vamos recordar, porque recordar é viver. A guerra fria foi formulada por um diplomata norte-americano em 1947, chamado George Kennan. Ele formulou a questão da guerra fria como uma política para segurar o avanço do socialismo, já que a partir da II Guerra, várias nações do Leste Europeu aderiram aos regimes socialistas. Mais tarde ele reformulou isso, dizendo que isso não era mais necessário. Notadamente quando caiu o socialismo na URSS.
EM 1954 QUISERAM DERRUBAR GETÚLIO. SE ATRASARAM DEZ ANOS
Entretanto, em 1954 haviam forças que queriam derrubar o Getúlio. O Getúlio, que ninguém em sã consciência pode chamar de comunista ou de socialista. Era um nacionalista. Ao atingir seu próprio coração com um tiro, ele retardou o golpe que haveria de acontecer em 1954, por dez anos.
Ainda o golpe tentou ser dado em 1961, quando nós tivemos o Movimento da Legalidade e cuja garantia da democracia brasileira, de governos legitimamente eleitos foi conseguida pelo Marechal Lott. Porque o general Machado Lopes, que comandava o Sul, seguiu as ordens do Lott. O Marechal Lott que teve no regime de 1964 o seu neto barbaramente torturado.
Aí veio 1964. Em 64 , aqui a nota da ordem do dia fala que houve um grande movimento nacional pela liberdade e pela democracia porque “grupos propagavam promessas falaciosas que depois fracassou em diversas partes do mundo”. Justifica-se o golpe com isso. Mas, o golpe, na verdade era a continuação da guerra fria. João Goulart não era comunista, era um pupilo direto de Getúlio Vargas.
E diga-se de passagem, o Brasil foi o país capitalista que mais cresceu no mundo entre 1930 e 1980 graças à política nacional-desenvolvimentista de Vargas e dos seus seguidores. O milagre econômico que aconteceu no período militar foi consequência daquele movimento que se esgotou logo depois. Se esgotou porque se adotou uma política de ingresso maciço de capital estrangeiro no Brasil, sem a proteção nacional.
O que era o programa da reformas de base de Jango? Era a reforma agrária. Qual país capitalista do mundo que não fez uma reforma agrária? Todos já fizeram. Não ameaça em nada a questão de um modelo capitalista. A reforma educacional, cujo pensador foi o grande Anísio Teixeira, que depois morreu exilado, fora do Brasil, um dos maiores pensadores da Educação que nós já tivemos.
REFORMAS DE BASE POR UM BRASIL GRANDE
A reforma fiscal que tentava conter a remessa de lucros para o exterior, a espoliação, o sangramento da economia nacional. A reforma eleitoral que estendia o direito de voto ao analfabetos e militares de baixa patente e a liberdade para os partidos políticos no Brasil. A reforma urbana, que acabou se consumando agora, há pouco tempo. A reforma bancária que previa dar crédito aos produtores indistintamente.
Pois bem, não é possível que se afirme ainda agora que o movimento de 64 foi um movimento para salvar o Brasil. Não foi. Foi para brecar o desenvolvimento autônomo que nós estávamos tendo. Esse movimento foi capitaneado pelos EUA, que saiu da II Guerra como a nação mais potente do planeta e na Conferência de Breton Woods impôs ao mundo a dólar como moeda mundial. Quebrou a paridade do ouro com a sua moeda porque antigamente a moeda valia segundo om lastro de ouro que cada país tivesse, Fort Nox, nos EUA, a libra esterlina era a moeda que mais valia no mundo porque a Inglaterra tinha mais ouro. Ou seja, tinha lastro para sustentar sua moeda.
E aí giraram a maquina de emitir dólar sem lastro e conquistaram o mundo. Eram esses ditames que estavam obedecendo no golpe de 1964. Nós precisamos praticar no Brasil a convergência e não a divergência. É hora, mais do que nunca, já foi o tempo, de virar essa página da história nacional. E eu não estou falando apenas aos que louvam 1964, estou falando de todos os brasileiros. Precisamos virar essa página e construir um projeto de nação. Um projeto de nação em que caiba todo mundo. Em que todos os brasileiros possam pactuar um desenvolvimento. Temos possibilidade de convergir. É possível isso!”
Ele relatou que o general Mioto, ex-chefe do III Exército, depois de uma conversa fez um discurso chamando chamando à essa convergência e creditando a Werner o conteúdo de seu discurso de despedida do comando. Werner lembrou que seu partido, o PCdoB, tem um projeto de resgatar o nacional- desenvolvimentista e já construiu um Programa de Reconstrução Nacional. Estamos colocando isso em discussão para o Brasil, para todos, sem ranços do passado. Precisamos construir um novo momento na vida do país.
NOSSAS FFAA SÃO EXEMPLO EM TODO O MUNDO
“As nossas FFAA são exemplo em várias partes do mundo. Vejam as missões humanitárias. As tropas brasileiras são queridas pelos povos por onde vão. Isso acontece pelo simples fato de pertencerem ao povo brasileiro. Porque o nosso povo é um povo maravilhoso. Um povo quem se tiver oportunidade, tudo pode construir. É nesse sentido que eu reforço que nós precisamos virar a página, nós precisamos fazer o Brasil voltar a crescer. Em 1990 a indústria era responsável por 38% da riqueza nacional e hoje não atinge 10%. Nós estamos transformando o Brasil numa colônia, nós precisamos convergir, nós precisamos nos entrelaçar para avançar”, destacou.
Rempel citou uma estrofe do hino do PCdoB que enaltece a bandeira do Brasil e disse que “nós não podemos ficar como viúvas do passado”. O vereador disse isso manifestando sua inquietude com o teor na ordem do dia de Braga Neto. “Se ficarmos remoendo o passado desse jeito, sem união nacional, nós não conseguiremos fazer desse país uma grande nação como queria Tiradentes. Vamos convergir. É possível fazermos um plano nacional que dê para todos”, finalizou.