O deputado federal Luís Miranda (Republicanos-DF), vice-líder da Frente Parlamentar Evangélica, disse que “o sentimento de 95% dos parlamentares” é de que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, deve ser exonerado e investigado pelo áudio em que admite repassar verbas a pastores amigos de Bolsonaro.
“É vergonhoso saber que na Educação do nosso país, tão carente e deficitária, você tenha negociações que não são republicanas”, declarou.
“Se o governo não tem nada a ver e o presidente Bolsonaro não tem conhecimento de nada, por que não pediu para sair do cargo? Por que o Bolsonaro ainda não o exonerou?”, perguntou Miranda em entrevista ao UOL.
“Passar a mão na cabeça é o mesmo que estar envolvido”, pontuou.
A Folha de S.Paulo publicou áudios de Milton Ribeiro nos quais o ministro admite que, por “pedido especial” feito por Jair Bolsonaro, sua “prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”.
O prefeito de Luís Domingues (MA), Giberto Braga (PSDB), acusou o pastor Gilmar Santos de pedir um quilo de ouro, que vale mais de R$ 300 mil, para que a verba do Ministério da Educação direcionasse recursos para algum município.
O deputado Luís Miranda acredita que não há argumentos para a permanência de Milton Ribeiro no Ministério da Educação. “Não tem argumento, foram palavras pesadas e que demonstram total direcionamento. Há de se investigar advocacia administrativa, se não for algo pior”.
Disse ainda que tem “sensação de que algumas pessoas não conseguem entender o que é o cargo de um ministro de Estado. Um ministro não representa um partido, uma ideologia, um clero. Ele representa a população, ele executa emendas que são impostos pagos pela população”.
Enquanto Milton Ribeiro atende aos pedidos dos pastores amigos de Jair Bolsonaro, os parlamentares, independente de seus posicionamentos políticos, “não são atendidos”, relatou.
“Os bons projetos não são atendidos. Mas tem um ministro que está atendendo posicionamentos direcionados, o grupo de amigos do rei. Isso é muito ruim, não dá para aceitar a permanência do ministro”.
O esquema de Jair Bolsonaro, Milton Ribeiro e os pastores Gilmar e Arilton é “escuso, totalmente contrária daquilo que nós esperamos”.
Durante a entrevista, Luis Miranda disse que a Frente Parlamentar Evangélica não coaduna com a postura de Milton Ribeiro.
“Nosso entendimento é de que o ministro tem o direito de se esclarecer, é justo. Mas o sentimento individual é de que dificilmente o ministro tem argumentos que consigam reverter a sensação de que a permanência dele é muito danosa”.
O presidente da Frente, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), já cobrou do ministro esclarecimento diretamente de Ribeiro.
OUTROS PASTORES
Segundo seu relato, o pastor e deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) “usou a seguinte expressão: ele contamina e mancha a imagem dos evangélicos de bem, porque fica parecendo que todos temos esse tipo de atitude”.
Na quarta-feira (23), Marco Feliciano disse que a comunidade evangélica foi “exposta ao ridículo” pelo ministro Milton Ribeiro. “Pesou demais sobre nós. Mais uma vez, como evangélicos, fomos expostos ao ridículo. É péssimo para nós. O ministro deve uma explicação para o Brasil todo. Eu não vejo ele [Milton Ribeiro] como aquilo que nós esperávamos que fosse”.
Outro parlamentar, o deputado David Soares (União Brasil-SP), que é filho do pastor R.R. Soares, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, também criticou Ribeiro e disse que o caso tem que ser investigado.
Até o pastor Malafaia, bolsonarista assumido, cobrou uma posição de Milton Ribeiro.
Segundo Malafaia, da Assembléia de Deus, “o ministro é pastor, e tem que provar que é honesto”. Para isso, “ele não pode ser genérico nas afirmações. Ele tem que mostrar, com documentos, o que esses dois caras pediram no ministério, se era lícito, o que foi liberado e onde o dinheiro foi parar”.
PGR
Após várias cobranças para agir, o procurador-geral da República, Augusto Aras, saiu da inércia e pediu na noite desta quarta-feira ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para investigar a conduta do ministro da Educação, Milton Ribeiro. A relatora da ação será a ministra Cármen Lúcia.