Levantamento de consultoria mostra que as classes sociais D e E, com rendimentos familiares mensais de até R$ 3,1 mil, eram estimadas em 50,6% da população em 2018 e passaram para 55,4% neste ano
A pobreza cresceu entre 2018 e 2022 e atingiu mais que a metade da população brasileira, revela um estudo da Tendências Consultoria.
O levantamento aponta que as classes sociais D e E, com rendimentos familiares mensais de até R$ 3,1 mil, eram estimadas em 50,6% da população em 2018, último ano do governo Temer, e passaram para 55,4% neste ano.
O estudo foi divulgado pelo jornal O Globo neste sábado (15).
Nestes últimos quatro anos de governo Bolsonaro, houve uma redução no volume de brasileiros classificados na classe C. No último ano do governo Temer, 31,7% da população estava na classe C. Neste ano, segundo a Tendências, são 28,8% da população. Ou seja, a classe C empobreceu mais ainda e migrou para as classes D e E.
O economista e analista da Tendências, Lucas Assis, destaca que as famílias de classe média estão “à mercê dos ciclos econômicos”.
“Houve migração das famílias de classe média para as classes mais baixas. O Brasil, assim como outros países de economia emergente, tem uma parte da classe média muito próxima da situação de pobreza”. “A classe média é muito dependente do rendimento do trabalho e a conjuntura econômica do Brasil na última década acabou jogando os mais vulneráveis deste grupo para a camada mais pobre da população”, explica o especialista em mercado de trabalho e estudos regionais de classes.
O avanço da pobreza no Brasil reflete o ambiente de estagnação econômica que persiste no país no último período, o que dificulta uma melhora do mercado de trabalho brasileiro, que se demonstra fragilizado após a crise sanitária de Covid-19, com mais de 9,7 milhões de pessoas em busca de emprego no país e outros 39,3 milhões de pessoas obtendo seu sustento da informalidade do trabalho, vivendo do famosos “bicos”, com jornada de trabalho excessiva e renda que muitas vezes não chega sequer a um salário mínimo.
De acordo com cálculos do economista José Luis Oreiro, considerando que a economia brasileira cresça 2% este ano, o crescimento do Brasil baterá a marca de 1% por cento ao ano, na média, nesse período do governo Bolsonaro. “Um por cento ao ano de crescimento médio é 0,2% de crescimento da renda per capita. Com 0,2% de crescimento da renda per capita vai levar exatamente 144 anos para o Brasil dobrar a sua renda per capita”, alertou.
De acordo com o estudo, ainda, há dez anos, as famílias das classes D e E recebiam, em média, R$ 2.756 mensais, em valores já corrigidos pela inflação. Atualmente, ganham R$ 2.675, o que representa uma queda de 2,93% no período. Segundo estimativas da Tendências Consultoria, levará uma década para a massa de renda dessas classes superar o patamar anterior.
Na avaliação do economista da Tendências, “nos próximos anos, a gente deve ver uma mobilidade social no Brasil muito reduzida, algo típico de países com alta desigualdade de renda. O mercado de trabalho brasileiro deve ainda seguir com baixas remunerações, elevadas desigualdades, altas taxas de informalidade e uma marcante heterogeneidade entre os setores produtivos”, diz Lucas Assis.
Nestes últimos dez anos, a proporção de brasileiros na classe A, com renda mensal domiciliar superior a R$ 23,2 mil, passou de 3,7% para 3,1%. Apesar do recuo, os mais ricos estão ganhando mais. A renda mensal média da classe A avançou 19,1% no período. Em 2012, eles recebiam R$ 54,1 mil mensais. Neste ano, o rendimento foi de R$ 64,2 mil, em média, ou seja, 24 vezes a renda dos mais pobres.