“Em breve o povo saberá que foram enganados por esses governadores e por grande parte da mídia nessa questão do coronavírus”, disse ele em entrevista à TV Record
Na tarde desta segunda-feira (23) Jair Bolsonaro não permaneceu na entrevista coletiva, convocada após reunião remota do governo federal com governadores do Nordeste e da Região Norte. Bolsonaro não quis permanecer na coletiva para não ter que responder sobre os motivos que o levaram a assinar a MP que cortava empregos e salários e por que depois ele voltou atrás.
Não ficou também para explicar o que quis dizer, quando, em entrevista, um dia antes, na TV Record, acusou os governadores e a mídia de estarem “enganando o povo” na questão do combate ao coronavírus.
Na noite de domingo (22), Jair Bolsonaro deu uma entrevista ao programa Domingo Espetacular, da Rede Record, e disse que “em breve o povo saberá que foram enganados por esses governadores e por grande parte da mídia nessa questão do coronavírus”.
Além de acusar os governadores e a mídia de enganadores, o presidente disse também que os representantes dos estados estavam exterminando empregos. “Sejam responsáveis. Não exterminar empregos, senhores governadores”, disse ele.
Depois da agressão, ele voltou a minimizar os riscos da pandemia do Covid-19 e dizer que há exageros nas medidas tomadas. “Estou achando que é um exagero as previsões que estão sendo feitas”, afirmou. “Não temos que entrar em pânico. Você não pode comparar o Brasil com a Itália. Nós não podemos extrapolar na dose”, acrescentou Bolsonaro.
E, na contramão de tudo o que se diz e se faz no mundo, ele tirou números do bolso para sustentar sua tosca opinião. “O número de mortos na epidemia H1N1 foi de 800 pessoas. A previsão é não chegar à essa quantidade de óbitos no tocante ao coronavírus”, argumentou.
Na mesma noite da entrevista, Bolsonaro assinou uma Medida Provisória (MP 927) autorizando as empresas a suspenderem os contratos de trabalho sem pagamento de salários e sem direitos trabalhistas. A medida, esta sim um estímulo ao desemprego em massa, foi rechaçada por toda a sociedade, pelo Poder Judiciário e pelo Poder Legislativo. A pressão foi tão forte e ampla que Bolsonaro foi obrigado a rever o artigo da MP que previa a demissão em massa.
Um integrante do governo, Bruno Bianco, assessor de Guedes, explicou que o artigo foi suspenso porque havia a necessidade de definir antes a possibilidade de liberação do seguro desemprego. Todo o restante, que, na prática, derruba a CLT está, segundo ele, mantido.
Pesquisa do Instituto Data Folha, divulgada nesta segunda-feira (23), mostrou que a população apoia amplamente as decisões e orientações dos governadores e do Ministério da Saúde e reprovam, também amplamente, as atitudes e opiniões de Bolsonaro sobre o coronavírus.
Com sua insanidade e seu boicote às ações de combate à pandemia, Bolsonaro vê seu capital político derreter-se rapidamente. Deve ser por isso que, nesta segunda-feira, ele fez uma encenação, dizendo, antes da coletiva, que “há harmonia total com os governadores”. Depois de dizer isso, ele se retirou e não respondeu à pergunta sobre o que ele quis dizer sobre os governadores estarem enganando o povo.
Depois que ele se retirou da coletiva, seus auxiliares anunciaram algumas medidas que vinham sendo exigidas pelos governadores e prefeitos. De acordo com o Planalto, entre repasses de fundo a fundo, suspensão de dívidas, renegociação de dívidas de estados e municípios com bancos, transferências diretas para ações sociais e operações com facilitação de créditos, haverá uma disponibilização que poderá chegar a R$ 85,8 bilhões.
Bruno Bianco, representante da área econômica, fez questão de defender a MP do desemprego. Ele afirmou que ela é moderna. Disse que uma nova MP está sendo elaborada para permitir a suspensão do contrato de trabalho. Segundo ele, o governo estuda outras compensações para a perda do emprego, já que na MP do domingo à noite, a única coisa oferecida em troca do emprego era um curso à distância.