O capitão cloroquina ainda quer espalhar, através de seu “Gabinete do Ódio”, que “indelicado” foi o senador Otto Alencar
Jair Bolsonaro se dirigiu ao presidente e ao relator da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz (PSD-AM) e senador Renan Calheiros (MDB-AL), respectivamente, como “patifões”. A ofensa, da lavra de quem, há alguns dias, chamou a repórter da Rede CNN, Daniela Lima, de quadrúpede, não é de causar estranheza a ninguém.
Mas, o curioso é que o ataque e a baixaria de Bolsonaro contra os senadores da CPI tenha surgido exatamente numa conversa com apoiadores do cercadinho do Alvorada, onde o assunto seria uma suposta indelicadeza que alguns senadores teriam cometido com a médica Nisia Yamaguchi, ardorosa defensora da adulteração da bula da cloroquina, droga sabidamente ineficaz, para introduzir nela a indicação para Covid-19.
Perto do linguajar de Bolsonaro, as perguntas feitas pelo senador Otto Alencar (PSD-BA) à médica bolsonarista são de uma delicadeza quase angelical. Bolsonaro disse que “foi uma covardia a maneira como a médica foi interrogada na CPI”. O que Otto Alencar fez foi mostrar, com suas perguntas, que a médica depoente não domina o assunto da Covid-19. Foi sua militância política ao lado de Bolsonaro e o seu achismo sobre infectologia que causaram as milhares de mortes no Brasil.
O que desmoralizou a médica militante foi sua insistência em defender a imunidade de rebanho e o uso da cloroquina, sabidamente ineficaz, no tratamento da Codid-19, e de desvalorizar a vacina como método mais consequente e efetivo no combate à pandemia.
O senador Otto Alencar, em sua intervenção, apenas desnudou que a médica não é infectologista e não domina o assunto da pandemia. As frequentes interrupções do senador acabaram poupando a depoente de expor ainda mais sua ignorância sobre o assunto. Nise Yamaguchi é, na verdade, oncologista sem domínio sobre a área da infectologia, o que é absolutamente natural. O que é natural é querer dar opinião em especialidade que não conhece, o que se agrava em se tratando de aconselhamentos sobre uma pandemia que continua matando brasileiros todos os dias.
Aod lado de figuras como Carlos Wizard, Arthur Weintraub, Osmar Terra, Carlos Bolsonaro e outros lunáticos, a médica age como militante bolsonarista e não como cientista oncológica. Eles estão seguindo cegamente o que Donald Trump disse a Bolsonaro, ou seja, que a cloroquina deve ser usada no enfrentamento da Covid-19, quando a ciência, após inúmeros estudos, endossados, inclusive, pela Organização Mundial da Saúde, já constatou a ineficácia da droga para esse objetivo.
Trump chegou a mudar de ideia, mas Bolsonaro, em sua cruzada contra as vacinas, insistiu em apregoar o uso da cloroquina. Seus seguidores, entre eles a doutora Nise, o acompanham acriticamente. Sua defesa da cloroquina nada tem a ver com alguma crença de que terá eficácia, mas em razão da convicção quanto à tese genocida da imunidade de rebanho. Por esse método, a população deve se infectar o mais rapidamente possível e, assim, adquirir naturalmente a imunidade. Alertado de que esse método poderia causar centenas de milhares de mortes, Bolsonaro chegou a dizer “e daí?” “Eu não sou coveiro”.
Os senadores membros da CPI interromperam a médica quando ela tentava minimizar a importância das vacinas ou valorizava a cloroquina. O alerta dos senadores buscava não contribuir para a campanha de desinformação que já infesta o país através das fake news anti-vacina espalhadas pelas milícias digitais de Bolsonaro.
O senador Otto Alencar (PSD-BA) desmentiu qualquer tentativa de desqualificar Nise Yamaguchi, no depoimento à CPI. Disse, no entanto, que desaprovou, assim como outros senadores, as manifestações equivocadas da médica sobre vacinas e tratamento precoce. Para Otto, as pessoas enganadas tinham uma falsa sensação de proteção com a cloroquina e se expunham mais ao vírus, causando muitas mortes.
“Eu quis mostrar que nunca deu certo se levar uma medicação, mesmo velha, antiga, que é a hidroxicloroquina e outras medicações, serem usadas para uma doença nova, desconhecida”, disse. O senador, que é médico, afirmou que fez várias perguntas para tentar ver a base das visões da médica e não para menosprezá-la. Disse, por outro lado, que não “suportava mais” ver negação de fatos. “Não foi para atingi-la”, observou.