“A missão que o general me passou foi de acompanhar os grandes fornecedores, os grandes contratos. Você sabe que o orçamento do Ministério da Saúde é um dos maiores que nós temos na nação, o maior da União, cerca de R$ 150 bilhões”, declarou o bilionário Carlos Wizard, que continua fugindo da CPI.
O empresário Carlos Wizard afirmou em vídeo de maio de 2020, publicado nesta segunda-feira (21) pela revista Isto É em rede social, que recebeu a “missão” do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, de acompanhar contratos e de deixar o Brasil “forrado” de medicamentos como cloroquina e hidroxicloroquina, cientificamente comprovados como ineficazes contra a Covid-19.
Esta foi mais uma, das tantas descobertas da CPI, que ajudarão a provar que o governo optou, conscientemente, pelo chamado “tratamento precoce”, em detrimento da compra, com antecedência, dos imunizantes.
Aqui está uma contradição interessante. As mesmas redes sociais que foram relevantes na eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018, agora servem em 2021, para expor a ação política deletéria de integrantes do “gabinete paralelo”, na difusão dos fármacos que se mostraram muito lucrativos para alguns e desastrosos para outros milhões de brasileiros, que acreditaram no chamado “tratamento precoce”.
O resultado disso, em grande medida, está no escandaloso e trágico escore de mortes por Covid-19, que nesta segunda-feira completou 503.025 óbitos.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) anunciou a ineficácia do medicamento para tratamento da Covid-19 em outubro de 2020, embora desde maio daquele ano estudos científicos já apontassem o uso da cloroquina como ineficaz contra o novo coronavírus. A distribuição do medicamento pelo ministério como forma de tratar a Covid-19 é um dos principais pontos de investigação da CPI da Pandemia no Senado.
A CPI no Senado foi instalada em 27 de abril para investigar as ações, omissões e inações do governo federal, sob a liderança do presidente Bolsonaro, na gestão da pandemia do novo coronavírus.
“GABINETE PARALELO”
Integrantes da CPI suspeitam que Wizard integre o chamado “gabinete paralelo”, que teria assessorado o presidente Jair Bolsonaro em assuntos relacionados à pandemia.
A convocação do empresário bilionário para depor à CPI foi aprovada em maio. O depoimento estava marcado para o último dia 17. O empresário, no entanto, não compareceu. Segundo a defesa, ele está nos Estados Unidos. O depoimento foi remarcado para o próximo dia 30.
No vídeo publicado pela revista Isto É, Wizard conversa com jornalista em “live” da qual o próprio Pazuello participou. O empresário disse que o então ministro — à época ainda como interino; ele foi efetivado em setembro — confiou na “habilidade negocial” dele ao pedir que fizesse o acompanhamento dos grandes contratos do ministério.
A MISSÃO
“A missão que o general me passou foi de acompanhar os grandes fornecedores, os grandes contratos. Você sabe que o orçamento do Ministério da Saúde é um dos maiores que nós temos na nação, o maior da União, cerca de R$ 150 bilhões”, declarou Wizard, que atuava como colaborador informal, sem cargo oficial no ministério.
Na sequência, o empresário complementa:
“Logo, logo, você vai ver aí que o Brasil vai ser forrado de medicamentos na fase ainda inicial do tratamento, cloroquina, a hidroxicloroquina. Ou seja, então, alguns fornecedores são nacionais, mas tem muita coisa que não é fabricada no Brasil e que nós dependemos de fornecedores estrangeiros.”
Em depoimento à CPI da Covid-19, em 20 de maio, Pazuello disse acreditar que “nenhum medicamento” possa ser distribuído sem prescrição médica. Acrescentou que, na gestão dele no ministério, não houve compra de “nenhum grama” de hidroxicloroquina.
“Não comprei nenhum grama de hidroxicloroquina, não fomentei o uso da hidroxicloroquina. Mandei distribuir tudo o que me foi pedido. Se o Estado pedia, eu tenho, eu entrego”, declarou.
O QUE DIZEM AS ENTIDADES
A OMS afirma desde março deste ano que a cloroquina não deve ser usada como forma de prevenção da Covid-19.
No Brasil, a AMB (Associação Médica Brasileira) entende que o uso de cloroquina e outros remédios sem eficácia contra Covid-19 deve ser banido, e a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) diz que a cloroquina não tem efeito e deve ser abandonada.
Ao prestar depoimento à CPI da Covid-19, no último dia 9, o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, disse que a pasta comprou cloroquina em 2020 para tratamento de malária, e não de Covid-19.
Franco era secretário-executivo do Ministério da Saúde na gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello.
“Por solicitação do general Pazuello, eu informo que durante a nossa gestão não ocorreu aquisição de cloroquina para o ano de 2020 para o combate a Covid-19”, afirmou Élcio Franco na ocasião.
“Porém, identificamos que, para atender ao programa antimalária do primeiro semestre deste ano, em 30 de abril de 2020, foi assinado um termo aditivo ao TED [Termo de Execução Descentralizada] com a Fiocruz no valor de R$ 50 mil, visando a aquisição desse fármaco para entrega posterior. Enfatizo que é para o programa antimalária”, completou.
M. V.
Com informações do portal G