O jornal El Comercio, de Lima, integrante do conglomerado midiático que deu sustentação à candidatura de Keiko Fujimori à presidência do Peru, decidiu romper com a filha do ditador – preso por crimes contra a Humanidade – e defendeu em editorial no último domingo (27) que “Já basta”.
Afinal, passadas três semanas, Keiko continua sem reconhecer a vitória do professor Pedro Castillo, do partido Peru Livre, nas eleições presidenciais, mesmo com a comissão eleitoral e os observadores internacionais tendo se pronunciado sobre a lisura do processo.
“As semanas que se seguiram ao segundo turno vêm colocando nosso sistema democrático à prova. Ainda estamos à espera de que o Júri Nacional Eleitoral Nacional (JNE) proclame o vencedor e hoje está claro que o que começou com a utilização de recursos legais legítimos para questionar a idoneidade de algumas atas – através de impugnações e pedidos de anulação – se transforma em uma tentativa de diferentes setores políticos de atrasar o processo o máximo possível”, assinalou o El Comercio.
Conforme esclareceu o jornal, todas as acusações de fraude por parte do partido Força Popular – de Keiko – “que até agora não foram comprovadas e que, também, já serviram de pretexto para sugerir o rompimento do Estado de Direito, quer através de um golpe, quer pela anulação das eleições de 6 de junho”. “Tudo em meio a um clima de polarização e tensão nacional, que ameaça levar o país ao abismo”, alertou.
Como recordou o El Comercio, grande parte da incerteza recai sobre o próprio JNE. “Suas idas e vindas quanto à prorrogação dos prazos para interposição de anulações e, em geral, sua relutância em analisar o mérito das denúncias apresentadas, não contribuíram para passar a transparência que um processo como este exige”.
A renúncia de um dos membros do plenário do JNE, de acordo com o editorial, é uma amostra das claras tentativas que foram feitas para atrasar o processo, o que, “mais do que qualquer outra coisa, é abrir mão das suas funções e responsabilidades”.
Em todo caso, advertiu a publicação, “grande parte do dano já foi feito”. “Com ou sem argumentos, mas definitivamente sem evidências sólidas, tem sido possível tecer dúvidas – que penetram com mais força nos grupos de cidadãos que o resultado da apuração oficial desagradou – sobre a assepsia da eleição. Isso apesar de várias organizações internacionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA), e até um estudo da Ipsos (terceira maior empresa de pesquisa do mundo, presente em 87 países) terem atestado a lisura do dia da votação”.
Ao mesmo tempo, enfatizou o jornal, “as manobras para atrasar o processo, em prejuízo do país, têm que parar e ser denunciadas pelo que são, em vez de serem celebradas”. “E por último, o JNE tem que fazer o seu trabalho com transparência e, de uma vez por todas, vamos virar a página. Já basta!”, concluiu.
Como se não bastasse o descaminho empreendido, na segunda-feira (28) a filha de Fujimori entregou no Palácio de Governo uma carta dirigida ao presidente Francisco Sagasti solicitando a convocação da OEA para que seja feita uma “auditoria internacional” do processo eleitoral. Cada vez mais isolado, o fujimorismo vai perdendo aliados, recorrendo ao golpismo, dizendo que não reconhecerá a vitória de Castillo nem a legitimidade do próximo governo se não for aceita sua demanda por uma auditoria da OEA.