A médica infectologista Luana Araújo, anunciada como secretária de Enfrentamento à Covid do Ministério da Saúde, e que não chegou a ser nomeada, disse à CPI da Covid-19, nesta quarta-feira (2), que discutir o tratamento precoce é o mesmo que debater sobre “de que borda da terra plana vamos pular”.
Luana foi anunciada no cargo pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Dez dias depois, o governo informou que ela não faria mais parte da equipe.
Durante os dias em que a médica atuou na pasta foram reveladas declarações dela contra o chamado “tratamento precoce” e o uso de medicações como a cloroquina, procedimentos defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro, mas que são comprovadamente ineficazes contra a Covid.
“Ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento. É como se estivéssemos discutindo de que borda da terra plana vamos pular. Não tem lógica”, afirmou a médica à CPI.
Ela disse ainda que é favorável à terapia precoce para atacar a Covid, desde esse tratamento efetivamente “exista”. Hoje, ainda não há remédio que comprovadamente cure a doença. A não ser, evidentemente, os imunizantes antivirais.
“Todos nós somos favoráveis a uma terapia precoce que exista. Quando ela [essa] não existe, não pode ser uma política de saúde pública. Essa é uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e antiproducente”, disse a médica.
QUEM É LUANA ARAÚJO
A médica infectologista é crítica em relação ao uso de remédios sem eficácia contra à Covid-19. Indicada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a exercer o cargo de secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19; entretanto, a nomeação foi cancelada após a médica ter atuado por apenas 10 dias na pasta.
O requerimento para convocação de Luana Araújo foi feito pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Humberto Costa (PT-PE) logo após o anúncio do cancelamento da nomeação.
A CPI quer saber da médica as razões pela desistência de sua nomeação no Ministério da Saúde. O depoimento de Luana Araújo foi antecipado como estratégia para coletar novas informações e poder ter novos elementos para confrontar o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que vai prestar depoimento à CPI na próxima terça-feira (8).
NOMEAÇÃO AO MINISTÉRIO DA SAÚDE
Luana Araújo foi anunciada no dia 12 de maio pelo ministro Marcelo Queiroga durante o lançamento da campanha de conscientização sobre medidas preventivas e vacinação contra Covid-19. A Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 foi criada no dia anterior para centralizar as ações de combate à pandemia.
Dez dias após a nomeação, a pasta confirmou que a médica infectologista não exerceria mais o cargo. De acordo com nota publicada pelo ministério na ocasião, a pasta busca outro nome com “perfil profissional semelhante: técnico e baseado em evidências científicas”. Por óbvio, em razão das posições críticas da médica em relação ao chamado “tratamento precoce”, ela foi vetada pelo governo. É importante destacar que “veto” tem caráter ideológico, e não meramente político ou técnico.
“A pasta agradece à profissional pelos serviços prestados e deseja sucesso na sua trajetória”, estava escrito no comunicado do Ministério em relação à dispensa, sem ainda ter formalmente assumido a Secretaria do Ministério da Saúde.
A médica, por sua vez, agradeceu a Queiroga pela oportunidade e disse ter deixado o cargo “pela porta da frente”. Na ocasião, ela não compartilhou o motivo da saída.
“Neste curto período de atuação, ainda que sem nomeação oficial, pude desenvolver trabalhos em várias frentes, incluindo o plano de testagem agora apresentado pelo Ministro da Saúde. Saio desta experiência como entrei: pela porta da frente, com a consciência e o coração tranquilos, ciente de que neste curto período entreguei o melhor da minha capacidade de acordo com os princípios que tenho como profissional especialista na área: ética, cientificidade, agilidade, eficiência, empatia e assistência”, escreveu Araújo em uma publicação no LinkedIn.
ADIAMENTOS
Em princípio, estava prevista para esta quarta-feira audiência pública para ouvir médicos e pesquisadores favoráveis e contrários ao uso de medicamentos como a cloroquina no chamado “tratamento precoce” contra a Covid-19.
Os médicos Clovis Arns da Cunha e Zeliete Zambom haviam sido convocados para falar contra o tratamento. Já para defender o “tratamento precoce”, a comissão ouviria os médicos Francisco Eduardo Cardoso Alves e Paulo Márcio Porto de Melo.
Na reunião da CPI de terça-feira (1º), o senador Marcos Rogério (DEM-RO) apresentou questão de ordem contra a mudança de pauta, alegando ser “intempestiva” e “desrespeitosa” com os depoentes já previstos. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), pediu desculpas pelo transtorno, mas alegou que a CPI “é muito dinâmica” e manteve a oitiva de Luana Araújo.
Os senadores Luís Carlos Heinze (PP-RS) e Eduardo Girão (Podemos-CE) pediram para que os depoimentos cancelados sejam remarcados.
M. V.