Otto Alencar, outro senador processado pela médica, disse que o que fez foi mostrar que a cloroquina, defendida por ela, “não funciona e não é recomendado”
A médica bolsonarista Nise Yamaguchi, que compareceu ao Senado como convidada para defender o uso de cloroquina no tratamento da Covid-19, resolveu processar os senadores Otto Alencar (PSD-BA), integrante da CPI da Pandemia, e o seu presidente, o senador Omar Aziz (PSD-AM) por ter, segundo ela, sido desrespeitada durante seu depoimento.
Integrante do chamado “gabinete das sombras”, que é um grupo de médicos alinhados ao negacionismo e à sabotagem às vacinas de Bolsonaro, e que se reuniu ao menos 27 vezes no Palácio do Planalto, Nise Yamaguchi foi contestada durante a sessão da CPI como uma médica que, apesar de ser uma renomada oncologista, não tinha conhecimento na área de infectologia ou epidemiologia que justificasse o seu papel na formulação paralela de combate à pandemia do Covid-19.
A oncologista interpretou o debate sobre a ineficácia da cloroquina – um consenso na comunidade científica – como sendo um “massacre moral” em relação à sua carreira. Na ação, o advogado de Nise diz que os senadores abusaram do direito da imunidade parlamentar e “perpetraram um verdadeiro massacre moral”.
Uma das alegações de “massacre moral”, levantados pela defesa da médica, se baseou numa pergunta em que o senador Otto Alencar, que é médico, quis saber se a depoente conhecia os conceitos básicos de infectologia. Durante a oitiva, o senador Otto questionou Nise sobre a diferença entre um vírus e um protozoário. “Na grade curricular brasileira, os protozoários são estudados no 4° ano do estudo fundamental, fato este que por si só, demonstra a intenção de Otto Alencar em diminuir e humilhar publicamente Nise Yamaguchi, desprestigiando seu conhecimento científico”, diz a defesa.
Sem responder adequadamente ao questionamento, a médica se desmascarou e sentiu-se ofendida por isso. Ela, como oncologista, não tinha obrigação de conhecer detalhes de infectologia. O objetivo do parlamentar foi exatamente apontar que o fato de uma médica ser uma oncologista respeitada não significava que ela tinha conhecimentos nas áreas de infectologia e epidemiologia que justificassem ter sido convidada pelo presidente da República para aconselhar o governo, no lugar do Ministério da Saúde, sobre os melhores caminhos para a luta contra a pandemia.
O senador Otto Alencar conduziu as perguntas de uma forma que o desconhecimento da médica sobre o Sars Cov-2, sobre a epidemiologia e sobre a infectologia ficou efetivamente explicitado. Em nota, o parlamentar comentou sobre o processo. “Constituição Federal em seu artigo 53, garante a senadores e deputados, o direito a manifestações, opiniões e votos no exercício de suas funções”, disse ele, reforçando que “durante os seus questionamentos se referiu à médica Nise Yamaguchi, com respeito, sempre a tratando como doutora, senhora e Vossa Senhoria”.
“Quanto à pergunta sobre vírus e protozoário, a médica não soube responder a indagação. O questionamento foi feito com o objetivo de indicar, como atestam cientistas e especialistas na área de saúde, que nenhuma medicação evita a contaminação pelo coronavírus e que o tratamento precoce, defendido por Nise Yamaguchi, não funciona e não é recomendado”, acrescentou o senador.
Ainda na avaliação dos advogados, o senador Omar Aziz, presidente da CPI, foi “cúmplice” dos ataques à médica. “Percebe-se do tom de voz e do caráter intimidatório do senador Omar Aziz que esse foi cúmplice da desintegração moral da médica, posto que nada fez para impedir ou minorar a agressiva sanha de seu colega, sendo cúmplice e corresponsável pelos abusos suportados por Nise Yamaguchi.”
O senador Omar Aziz declarou que está tranquilo quanto ao processo e disse que a médica mentiu durante o depoimento aos membros da comissão e que passou da condição de testemunha para investigada. “Ela nos disse que foi a Brasília três vezes e a CPI detectou que ela foi 13 vezes, das quais oito ela pagou com dinheiro vivo. Ela tem muito mais a explicar do que eu”, disse Aziz.
“Eu estou tranquilo”, acrescentou. O parlamentar ainda afirmou que a CPI fará requerimentos aos hospitais em que Nise trabalha para ter acessos aos prontuários médicos de todos os pacientes que ela atendeu. “Acho bom ela não se preocupar comigo e com o senador Otto. E sim com os pacientes que ela atendeu e que morreram. Vamos requisitar dos hospitais que ela trabalha as prescrições que ela fez”, completou o presidente da CPI.