Com perguntas técnicas bem elaboradas e encaixadas, o senador Otto Alencar (PSD-AM) deixou a médica oncologista Nise Yamaguchi em situação visivelmente desconcertada diante da comissão de inquérito
Ao questionar a médica oncologista Nise Yamaguchi, nesta terça-feira (1º), na CPI da Covid-19, o senador Otto Alencar (PSD-BA) fez um conjunto de perguntas que deixou a depoente visivelmente desconcertada. O senador questionou os conhecimentos técnicos da médica relacionados ao combate à pandemia da Covid-19.
“A senhora não conhece, então, não estava preparada para ser, participar do ‘gabinete paralelo’ quanto tantos que participaram”, criticou o senador. “Sobretudo curiosos, advogados e empresários, o Wizard, não sei quem lá, tanta gente aí, uma Arca de Noé tratando da ciência no Brasil, só que não tinha Noé na arca para conduzir a arca”, ironizou Otto Alencar.
Alencar perguntou à médica quando foi a “primeira manifestação do coronavírus no mundo”? “Foi em 1964”. “Se manifestava como gripezinha, resfriado que as crianças tinham e depois logo passava. Depois, com a mutação virótica — o vírus tem, certo, muitas mutações, já está agora no P-1, pode ter uma outra que venha, tem a mutação indiana”, acrescentou.
“Depois disso, tem sete tipos de coronavírus que dão doença pulmonar, manifestação pulmonar, a pneumonia virótica”, explicou o senador à convidada. Com as perguntas técnicas, o senador fez a médica, que não estava preparada para respondê-las, suar frio.
MAIS PERGUNTAS DESCONCERTANTES
Convidada para defender o uso de medicamentos chamados de “tratamento precoce”, Nise Yamaguchi foi “demolida” pelo senador baiano, que é médico e se preparou para confrontar, tecnicamente, os depoentes na comissão.
“O primeiro Sars-CoV, doutora, que aconteceu, foi na região da China, em Hong Kong. A senhora sabe em que ano foi que aconteceu isso? Não sabe, eu vou ensinar: 2003. A primeira manifestação do Sars-CoV foi em 2003, e eu estou falando com uma doutora, que deveria entender isso — infelizmente a senhora, como colocou naquela frase que o Renan botou ali, a senhora foi aleatória, simplória, não se aprofundou na matéria.”
“O Sars-CoV”, continuou Otto, “causou a síndrome respiratória, como causou, está causando aqui no Brasil, aguda. Não teve tratamento. Sabe qual foi o tratamento? Isolamento, máscara, isolamento físico para as pessoas. Ninguém usou, em, 2003, máscara, isolamento físico para as pessoas”, acrescentou.
Todos estes questionamentos feitos pelo senador colheram de surpresa a depoente, que ficou calada diante da maioria das perguntas formuladas por Otto Alencar.
“VÍRUS NÃO SE EVITA COM NENHUM MEDICAMENTO”
Sobre os procedimentos mais básicos, Alencar explicou: “Ninguém usou em 2003, em Hong Kong — pode pegar, entra na internet para a senhora aprender — e usou hidroxicloroquina, nenhum medicamento. Sabe por quê? Porque vírus não se evita com nenhum medicamento”.
“Os vírus, quando causam a doença, para a pessoa não ter a doença só pode ser através de vacina para dar imunidade à pessoa. O vírus penetra mesmo tomando medicamentos. Então, em 2003, teve a primeira crise aguda com pneumonia virótica em Hong Kong. Em 2003, na China também.”
“Depois teve a segunda manifestação do Mers-CoV na Ásia menor, na Arábia Saudita, doutora, e as mulheres, inclusive, tinham menos doença porque usam a burca e não se contaminaram tanto. Foi a síndrome aguda respiratória do oriente, também não se usou hidroxicloroquina. Foi isolamento físico, as pessoas ficavam isoladas e o que se conteve porque, apesar desse Mers-CoV ser grave e até levar mais, ser mais letal do que o atual, não se disseminava com tanta facilidade”, asseverou Alencar.
“E agora veio o Cov-19, que além de ser letal, de ter grande letalidade, ele [esse] também se dissemina com muita facilidade”, explicou Alencar.
VÍRUS E PROTOZOÁRIO
“A medicina está atrás agora — e vou explicar à senhora — de um antiviral, como se conseguiu o Tamiflu para controlar o coronavírus”, disse o senador.
“A senhora sabe qual é o laboratório que está cuidando disso [a busca do antiviral] no mundo hoje? Qual é o estudo mais avançado? Laboratório de Boston, que é o Molnupiravir, e um outro laboratório israelense, de Israel, que está usando o MesenCure, na busca de encontrar um antiviral, não um antiprotozoário.”
A cloroquina e a hidroxicloroquina são drogas medicamentosas sem comprovação científica propaladas por Bolsonaro e pelos bolsonaristas como suposto remédio para debelar o vírus da Covid-19.
A primeira, o difosfato de cloroquina é medicamento indicado para o tratamento da malária causada por Plasmodium vivax, Plasmodium malariae e Plasmodium ovale, amebíase hepática, artrite reumatoide, lúpus e doenças que provocam sensibilidade dos olhos à luz.
“Como é que a senhora poderia dizer, como disse ali, doutora, que iria ter imunidade de rebanho, a senhora iria comprovar imunidade de rebanho com que exame? Qual exame e quantos exames a senhora teria disponíveis neste País que já tem 17 milhões de contaminados?”
A segunda é remédio indicado para tratamento da artrite reumatoide, lúpus eritematoso, afeções dermatológicas e reumáticas e também para o tratamento da malária.
“Há uma diferença muito grande entre o vírus e o protozoário. Nem toda medicação que serve ao protozoário serve para o vírus, está certo?”
“Como é que a senhora poderia dizer, como disse ali, doutora, que iria ter imunidade de rebanho, a senhora iria comprovar imunidade de rebanho com que exame? Qual exame e quantos exames a senhora teria disponíveis neste País que já tem 17 milhões de contaminados?”, confrontou a médica.
“A senhora iria ter 17 milhões de exames para comprovar que o paciente teve a doença? E eu pergunto à senhora, qual é o exame de escolha que se deve fazer para mostrar se o paciente desenvolveu imunidade ou não? A senhora vai dizer qual exame… Só dizer, não precisa explicar”, continuou Otto Alencar.
Yamaguchi não disse.
MARCOS VERLAINE (colaborador)