“O Cazaquistão está passando por dias difíceis. O descontentamento popular, que vinha se acumulando durante muito tempo, transformou-se em surtos fortíssimos de indignação e protesto em massa” e esse descontentamento tem que ser atendido, diz a declaração do Presidium do Comitê Central do Partido Comunista da Federação Russa, que também adverte que esta insatisfação está sendo usada por uma “quinta coluna composta por terroristas e extremistas e alimentada por ONGs do Ocidente” e que visa desestabilizar o país.
O documento, assinado por GENNADY ANDREEVICH ZYUGANOV, presidente do Comitê Central do Partido Comunista da Federação Russa e líder da bancada do Partido Comunista na Duma Estatal (a Assembleia Federal da Federação Russa), manifesta seu apoio à decisão da Organização do Tratado de Cooperação e Segurança – de que a Rússia é parte, ao lado de outros países ex-soviéticos do Cáucaso e Ásia Central – de atender ao pedido de assistência feito pelo governo cazaque, o que considerou uma medida “apropriada e oportuna, concebida para apagar as chamas de outro ‘golpe colorido’”.
Adenda que “o Partido Comunista da Rússia condena veementemente as ações da reação internacional e dos elementos criminosos. Consideramos totalmente inaceitável a interferência nos assuntos internos do Cazaquistão e as tentativas de desestabilização da Ásia Central, que representam uma ameaça direta ao nosso país” e ainda que “o PCFR é a favor do regresso do Cazaquistão ao caminho pacífico”, fazendo questão de assinalar as razões centrais do “genuíno descontentamento popular” – entre elas, a duplicação do preço do gás assim como a elevação da idade mínima de aposentadoria, além de outros malfeitos.
SOLIDARIEDADE E ESTABILIZAÇÃO
“Consideramos que a principal tarefa do contingente de manutenção da paz é proteger objetivos estratégicos destinados a assegurar a vida normal dos cidadãos. A população da República deve ser protegida de ataques terroristas por jihadistas, que recorreram a ‘táticas de intimidação’”, sublinhou Ziuganov.
“O PCFR está confiante de que a missão de manutenção da paz da CSTO ajudará a estabilizar a situação na região da Ásia Central”, disse Ziuganov, advertindo, porém, que o contingente de paz só deve ser utilizado para o seu objetivo declarado. “O envolvimento das forças de manutenção da paz nos confrontos internos dos clãs e das facções dominantes é inaceitável”.
Ele pediu, ainda, que o governo cazaque abra imediatamente um diálogo com os trabalhadores e com as forças políticas legítimas.
“PRESENTE DE ANO NOVO”
Como destacou Ziuganov, o estopim dos protestos foi o ‘presente de Ano Novo’ da duplicação do preço do gás, usado para aquecer casas e reabastecer veículos, sob o impacto da eliminação total de subsídios e anúncio da mudança para ‘preços de mercado’.
Não é de espantar que a revolta haja explodido primeiro na região ocidental, exatamente onde o gás é produzido. “Inicialmente, os protestos eram pacíficos. Os participantes nas manifestações exigiam preços mais baixos, salários e benefícios mais elevados, e insistiam no regresso da idade de aposentadoria anterior. Em solidariedade, trabalhadores de vários campos petrolíferos entraram em greve”.
“No entanto, a situação rapidamente mudou e ficou fora de controle. Os primeiros atos de terror e vandalismo foram cometidos nas cidades de Zhanaozen e Aktau, na região de Mangistau, no sudoeste do Cazaquistão. Os distúrbios transformaram-se então em confrontos violentos em Alma-Ata e noutras cidades. Em particular, os aeroportos de Aktobe, Aktau e Alma-Ata foram paralisados. Houve uma ameaça à segurança do Cosmódromo de Baikonur”.
“Grupos de jovens armados atacaram as forças de segurança, apreenderam e destruíram edifícios, atacaram médicos, bombeiros e civis. Uma onda de saques varreu as cidades”.
CÉLULAS ISLÂMICAS RADICAIS
É evidente – assinalou Ziuganov – que os atos destrutivos são cometidos por aqueles que nada têm a ver com a maioria dos manifestantes. “Em primeiro lugar, as células islâmicas radicais. A sua atividade é indicada por uma crueldade mostrada para com as forças de segurança: decapitação das pessoas de uniforme”.
“Os agentes das forças externas também redobraram esforços. Em primeiro lugar, em Alma-Ata, tradicionalmente considerada um bastião de influência neoliberal”, onde opera um número significativo de ONGs pró-Ocidente.
“Finalmente, a criminalidade se espalhou. Ataques direcionados aos edifícios da Procuradoria e serviços especiais, incêndios, roubo de armas, pilhagens de lojas e outros locais públicos falam disso”.
“Não se pode excluir que as ações de todas estas forças tenham sido coordenadas a partir de um centro que ansiava pela desestabilização do Cazaquistão. Mas é impossível eliminar a responsabilidade da liderança da República pelo fato de os funcionários terem tolerado as atividades das forças pró-ocidentais e assumido uma posição conciliatória em relação aos extremistas islâmicos”.
Ziuganov observou que o Comitê de Segurança Nacional do país “rejeitou numerosos pedidos para proibir o Salafismo (Wahhabismo). Pregadores formados na Arábia Saudita e noutros países árabes operavam no Cazaquistão”.
“GOLPE NAS FRONTEIRAS MERIDIONAIS”
O líder comunista russo assinalou que o curso dos acontecimentos deve ser examinado no contexto internacional. “Nos últimos meses, a situação político-militar nas fronteiras ocidentais da Rússia deteriorou-se claramente. A pressão econômica, informativa, diplomática e militar sobre o nosso poder só tem aumentado. Os meios de comunicação ocidentais, diplomatas, políticos, representantes da Otan expressaram repetidamente em voz alta “preocupação” ostensiva com planos para um ‘ataque à Ucrânia’ e ameaçaram Moscou com ‘medidas preventivas abrangentes’”.
Para Ziuganov, “no contexto do agravamento da situação em redor do nosso país, recebemos um golpe nas fronteiras meridionais”, com os adversários da Rússia no palco mundial aumentando as apostas no jogo no “grande tabuleiro de xadrez” dramaticamente.
Ele assinalou como a explosão de indignação com a alta do gás “foi imediatamente aproveitada pela clandestinidade terrorista, cuja liderança se baseia na experiência de combate dos jihadistas na Síria e no Iraque”.
“Até agora, milhares de pessoas foram vítimas de ações criminosas. Centenas de pessoas estão hospitalizadas, dezenas estão nos cuidados intensivos, há mortos. Os amotinados obstruem o trabalho das ambulâncias e instituições médicas, utilizam armas de fogo, intimidam a população, assaltam lojas e saqueiam. A natureza das suas ações é indicativa de medidas planejadas, coordenadas e financiadas pelo estrangeiro”.
DESIGUALDADE FLAGRANTE
Ziuganov também se dedicou a traçar um quadro de fundo das causas da desestabilização em curso do Cazaquistão, cuja raiz é “a tragédia que aconteceu a todos nós há 30 anos atrás, a destruição da União Soviética, do sistema socialista e do poder soviético”, que deu origem a “uma desigualdade flagrante” e tornou “nossos povos extremamente vulneráveis a ameaças externas”.
“Ao contrário das promessas dos liberais, os novos Estados não se tornaram membros de pleno direito do “mundo civilizado””, destacou o líder comunista. Tornaram-se “apêndices de matérias-primas e mercados, fontes de mão-de-obra barata e peões nas aventuras geopolíticas das potências imperialistas”.
“No Cazaquistão, a indústria avançada mergulhou no “no abismo da privatização”. No petróleo e gás, Chevron e Exxon Mobil (EUA), Total (França), Royal Dutch Shell (Reino Unido e Holanda) entrincheiraram-se. O novo proprietário da indústria siderúrgica é a Arcelor Mittal”.
“Como em quase toda a parte no espaço pós-soviético, foi criado no Cazaquistão um sistema comprador oligárquico típico do capitalismo selvagem”.
MIGALHAS PARA O POVO
“A desigualdade tem aumentado de forma constante na República. Da renda nacional, apenas migalhas foram para o povo. A divisão da propriedade e a tensão social aumentaram. Em 2011, uma greve dos trabalhadores do petróleo que durou vários meses em Zhanaozen terminou com confrontos e a morte de 16 pessoas. As autoridades mostraram claramente a sua atitude para com o povo, aumentando a idade da aposentadoria para 63 anos, tanto para homens como para mulheres.
O que se agravou sob a pandemia. “Até a taxa de pobreza oficial aumentou. Se tivermos em conta o padrão mundial de necessidades mínimas de 5,5 dólares por dia, um em cada sete residentes aqui é pobre”.
“A proporção de pessoas que sequer têm alimentos aumentou de 3% para 13%. Outros 44% admitem que só tem dinheiro suficiente para a alimentação. Ao mesmo tempo, o número de bilionários em dólares no primeiro ano da pandemia aumentou de quatro para sete”.
“Nos últimos dois anos, as greves nas empresas do Cazaquistão continuaram sem parar. As ações mais maciças tiveram lugar nas regiões ocidentais. Sendo a principal fonte dos principais produtos de exportação, petróleo e gás, também lideram o nível de desigualdade no país”.
“Milhares de pessoas ficaram indignadas com salários em atraso e demissões, exigindo salários mais elevados em meio a contínuos aumentos de preços. Mesmo de acordo com dados oficiais, a inflação alimentar no país foi de 20 por cento em dois anos”.
RUSSOFOBIA
“Em vez de resolver problemas sociais, a classe dominante preferiu dividir a sociedade, provocando a russofobia e a inimizade interétnica”, denunciou Ziuganov. A partir de livros escolares, os jovens cazaques aprendem sobre o “colonialismo russo” e o “totalitarismo soviético sangrento”. A nível oficial, foi lançada uma campanha de reabilitação as “vítimas da repressão”, incluindo os colaboracionistas de Hitler.
“Ergueram monumentos para figuras como Mustafa Shokai, que cooperou com os fascistas. Ruas e escolas foram batizadas com o seu nome. As autoridades especularam cada vez mais sobre o tema do ‘Holodomor Cazaque’, distorcendo grosseiramente os fatos históricos”, denunciou.
Apesar da amizade oficialmente proclamada dos povos, a liderança do Cazaquistão reduziu constantemente o alcance da língua russa, discriminando os cidadãos de língua russa. As ‘patrulhas linguísticas’ tornaram-se um fenômeno nojento, apontou Ziuganov.
No final do ano passado, o parlamento aprovou um projeto de lei para publicação de informação oficial exclusivamente em idioma cazaque. Até 2025, está prevista a mudança completa do alfabeto cirílico para o latino. Este tipo de política levou a um êxodo maciço da população. A proporção de russos na república diminuiu durante o período pós-soviético de 38% para 18%.
POLÍTICA EXTERNA ‘MULTIVETORIAL’
“O próprio governo, que fala em apoio à integração eurasiática, flertou simultaneamente com as capitais ocidentais. As relações com os EUA atingiram o nível de ‘parceria estratégica alargada’. Todos os anos são realizados exercícios militares conjuntos com a “Águia das Estepes” da Otan. Com a participação dos americanos, foram construídos vários biolaboratórios, cuja investigação suscita muitas questões para peritos locais e estrangeiros”, assinalou Ziuganov.
Para o PCRF, é hora de parar as manifestações da política russofóbica e anti-soviética no Cazaquistão. “Chegou o momento de discutir honestamente e erradicar as causas profundas da divisão social desastrosa, não só no Cazaquistão, mas também na Rússia. Para o nosso país, é outro sinal formidável de que as políticas que geram divisão, desigualdade e pobreza sobrecarregam inevitavelmente a paciência do povo”.
A conclusão mais importante dos acontecimentos no Cazaquistão é que é do interesse fundamental dos povos da Rússia, do Cazaquistão e de todos os outros Estados abandonar “esta política desastrosa”. “Hoje, mais do que nunca, o nosso programa ‘Dez passos para uma vida digna’ e a experiência única das empresas públicas são necessários”, sublinhou Ziuganov.
Segue a íntegra do documento:
Cada movimento amplo contém diferentes componentes. Os eventos no Cazaquistão absorveram o descontentamento social, as atividades de uma “quinta coluna” e as ações de grupos terroristas. A “quinta coluna” inclui, ao mesmo tempo, extremistas comprometidos com o islamismo radical e inúmeras ONGs alimentadas pelo Ocidente, além de funcionários de segurança individuais que buscavam benefícios nas águas turbulentas da instabilidade e clãs oligárquicos, dispostos a protestar em massa na luta pela redistribuição do poder.
Os povos irmãos da Rússia e do Cazaquistão estão intimamente ligados entre si por séculos de uma história comum. Juntos, nós criamos a União Soviética, construímos e vencemos, temos orgulho de realizações econômicas e sociais notáveis. Juntos, revivemos os processos de integração, criando a Comunidade Econômica Eurasiática, EurAsEC, a Organização de Cooperação de Xangai, SCO e a Organização do Tratado de Segurança Coletiva, CSTO.
Hoje nossos camaradas e amigos estão passando por um período de difíceis provações. Protestos massivos se espalharam por todo o Cazaquistão. Na capital do sul – Alma Ata – ocorreram tumultos sangrentos com grande número de vítimas e destruição.
Uma análise precisa e abrangente de eventos tem muito a ser considerado. É totalmente claro que a situação no Cazaquistão foi uma consequência direta da tragédia que aconteceu a todos nós há trinta anos. A destruição da URSS, a rejeição do sistema socialista e do poder soviético colocou várias minas sob os novos Estados “independentes e democráticos”. O capitalismo primitivo em que mergulharam as repúblicas pós-soviéticas condenou inevitavelmente os trabalhadores ao empobrecimento e à falta de direitos, deu origem a uma desigualdade gritante. Ao mesmo tempo, nossos povos mostraram-se extremamente vulneráveis às ameaças externas.
Ao contrário das promessas das melhorias liberais, os novos Estados não se tornaram membros de pleno direito do “mundo civilizado”. O capitalismo globalizado preparou para eles o papel de apêndices de matérias-primas e mercados de vendas, fontes de trabalho barato e peões nas aventuras geopolíticas das potências imperialistas.
O Cazaquistão também seguiu um caminho instável. Os setores avançados da produção desapareceram no redemoinho da privatização. O setor de matérias-primas foi entregue ao capital estrangeiro. No setor de petróleo e gás, estão consolidadas as corporações Chevron e Exxon Mobil (EUA), Total (França), Royal Dutch Shell (Grã-Bretanha e Holanda). A transnacional Arcelor Mittal virou o novo dono da indústria do aço.
Em estreita ligação com o capital estrangeiro, a jovem burguesia do Cazaquistão também lucra com a exploração dos trabalhadores e das matérias-primas. Assim como na Rússia ou na Ucrânia, ela não desprezou nada no processo de “acumulação inicial de capital”. Muitas das pessoas mais ricas basicamente se fundiram com o poder. Como em quase todo o espaço pós-soviético, no Cazaquistão criou-se um sistema oligárquico-comprador típico do capitalismo selvagem.
A desigualdade cresceu constantemente na república. Apenas migalhas dos ingressos nacionais foram para o povo. A divisão da propriedade e as tensões sociais aumentaram. Em 2011, uma greve de trabalhadores de petróleo de um mês em Zhanaozen terminou em confrontos e na morte de 16 pessoas. As autoridades mostraram claramente a sua atitude para com o povo ao aumentar a idade da aposentadoria para 63 anos para homens e mulheres.
A pandemia do coronavírus finalmente destruiu o mito da “paz social” no Cazaquistão. Até a taxa oficial de pobreza aumentou. Se levarmos em consideração o padrão mundial de exigências mínimas de 5,5 dólares por dia, então um de cada sete habitantes aqui é pobre.
De acordo com as pesquisas, a proporção daqueles que não têm nem para a alimentação aumentou de 3 para 13 por cento. Outros 44% admitem que só têm dinheiro para comprar comida. Ao mesmo tempo, o número de bilionários em dólares no primeiro ano da pandemia aumentou de quatro para sete, e sua fortuna acumulada quase dobrou.
Nos últimos dois anos, as greves não pararam nas empresas do Cazaquistão. As manifestações mais massivas ocorreram nas regiões ocidentais. Sendo a principal fonte dos bens básicos de exportação, o petróleo e o gás também lideram no nível de desigualdade do país. Milhares de pessoas ficaram indignadas com o atraso nos pagamentos e com demissões, exigiram aumentos de salários em um cenário de subida ininterrupta dos preços. Mesmo de acordo com dados oficiais, a inflação de alimentos no país foi de 20% em dois anos.
As autoridades ignoraram as justas demandas dos cidadãos descontentes. A assistência social durante a pandemia foi claramente insuficiente. A insatisfação da população também foi causada por medidas de quarentena rígidas. Assim como a Rússia, o Cazaquistão experimentou uma “otimização” devastadora dos cuidados de saúde, que afetou diretamente a preparação para a epidemia.
As pessoas perceberam algumas das medidas tomadas pelas autoridades como zombaria. Assim, no outono, o presidente do país prometeu aos cidadãos que eles poderão usar parte de sua poupança para a aposentadoria. Poucos dias antes do ano novo, porém, foi drasticamente elevado o “patamar de suficiência” – o valor mínimo acumulado, acima do qual os saques são permitidos. Para pessoas de 59 a 62 anos, será de mais de 9 milhões de tenge, ou 1,5 milhão de rublos [cerca de 20 mil dólares]. Mas o número de proprietários dessas “ricas reservas” no Cazaquistão é muito escasso.
Em vez de resolver os problemas sociais, a classe dominante preferiu dividir a sociedade, provocando a russofobia e a inimizade interétnica. Nos livros escolares, os jovens cazaques aprendem sobre o “colonialismo russo” e o “totalitarismo soviético sangrento”. Em nível oficial, foi lançada uma campanha pela reabilitação total de todas as “vítimas da repressão”, incluindo colaboradores que passaram para o lado de Hitler. Monumentos foram erguidos para figuras como Mustafa Shokay, que colaborou com os nazistas. Ruas e escolas receberam o nome deles. As autoridades especularam cada vez mais ativamente sobre o tema do “Holodomor do Cazaquistão”, distorcendo grosseiramente os fatos históricos. Forças nacionalistas próximas ao governo exigiram diretamente o reconhecimento da fome como “genocídio” e propugnam pela implementação da “descomunização final”.
Sob uma gritaria destrutiva no país, os últimos monumentos a Lenin estão sendo demolidos, ruas, bairros, vilas e cidades inteiras tem seus nomes modificados. Uma nova onda dessa sujeira política varreu a república no final do ano passado. Dezenas de ruas foram renomeadas em Uralsk, Semey (anteriormente Semipalatinsk) e outras cidades. Em Karaganda, o distrito de Oktyabrsky [Outubro] recebeu o nome de Alikhan Bukeikhanov, o líder do partido burguês “Alash”, que, em aliança com Kolchak e com o ataman Dutov, lutou contra o poder soviético.
Apesar da amizade oficialmente proclamada entre os povos, a liderança do Cazaquistão tem consistentemente estreitado o uso da língua russa, discriminando os cidadãos russos. No final do ano passado, o parlamento aprovou um projeto de lei que permite a veiculação de informações visuais exclusivamente na língua cazaque. Em 2025, uma tradução completa do alfabeto cazaque do cirílico para o latino está planejada.
Esse tipo de política resultou em uma saída maciça da população. A quantidade de russos na república diminuiu durante o período pós-soviético de 38 para 18 por cento. Assim, em 2019, 45 mil pessoas deixaram o país, 85% das quais são russos, ucranianos, alemães. No Cazaquistão, existe um programa estatal para o reassentamento de cidadãos da nacionalidade titular nas regiões do norte, predominantemente de língua russa.
As “patrulhas linguísticas” tornaram-se um fenômeno repugnante. Humilhando os habitantes da nação “não titular”, seus participantes exigiram “diante das câmeras” um pedido de desculpas por não conhecerem a língua cazaque. As autoridades fecharam os olhos a isso por muito tempo. A lenta condenação de tais ações ocorreu apenas após ampla ressonância na mídia russa.
Esta política foi bem recebida de todas as maneiras possíveis pelas numerosas ONGs pró-Ocidente que se entrincheiraram na república. As próprias autoridades, embora apoiassem a integração eurasiana, flertaram simultaneamente com as capitais ocidentais. As relações com os Estados Unidos alcançaram o nível de uma “parceria estratégica ampliada”. Todos os anos, a república hospeda os exercícios militares conjuntos “Águia da Estepe” com a OTAN. Com a participação dos americanos foram construídos vários laboratórios biológicos, cujas pesquisas suscitam muitas dúvidas de especialistas locais e estrangeiros.
Na verdade, ao agradar aos nacionalistas, o governo do Cazaquistão está destruindo metodicamente a oposição de esquerda. Tanto os comunistas quanto os sindicatos independentes foram submetidos a fortes pressões.
Nesse contexto, ocorreu uma explosão social no país. A razão direta foi o forte – duas vezes e de repente! – aumento do custo do gás liquefeito. Antes disso, as autoridades anunciaram a sua transição para “preços de mercado” e a rejeição total dos subsídios. O oeste do Cazaquistão se tornou um viveiro de descontentamento. Em primeiro lugar, o gás liquefeito é usado especialmente lá, servindo para aquecer casas e reabastecer carros. Em segundo lugar, o combustível é produzido nessa região, com o esforço de muitos de seus habitantes, mas as pessoas foram convidadas a esquecê-lo, “submetendo-se ao mercado livre”. E, em terceiro lugar, as ondas anteriores da crise já haviam desferido o golpe mais sentido no oeste do Cazaquistão, transformando-o no centro das atividades de protesto.
Em questão de dias, a indignação se espalhou para outras regiões da república. Os protestos foram inicialmente pacíficos. Os manifestantes exigiam preços mais baixos, aumento de salários e benefícios, insistiam em retornar à idade de aposentadoria anterior. Em solidariedade aos manifestantes, trabalhadores em vários campos de petróleo entraram em greve.
No entanto, a situação mudou rapidamente e saiu do controle. Os primeiros atos de terror e vandalismo foram cometidos nas cidades de Zhanaozen e Aktau, na região de Mangistau, no sudoeste do Cazaquistão. Então, a agitação se transformou em confrontos violentos em Alma Ata e em outras cidades. Em particular, o trabalho dos aeroportos de Aktobe, Aktau e Alma Ata foi paralisado. Houve uma ameaça à segurança da plataforma de lançamento espacial, o cosmódromo de Baikonur. Grupos de bandidos armados atacaram as forças de segurança, apreenderam e destruíram edifícios, atacaram médicos, bombeiros e civis pacíficos. Uma onda de saques varreu as cidades.
É claro que as ações destrutivas foram cometidas por aqueles que não têm nenhuma relação com a maioria dos manifestantes. Grupos criminosos usam ações populares no Cazaquistão para atingir seus próprios objetivos. Em primeiro lugar, essas são células islâmicas radicais. Sua atividade é indicada pela crueldade explícita para com as forças de segurança. As ações foram até cortar as cabeças de pessoas uniformizadas. Ficaram ativos também agentes de forças externas. Em primeiro lugar, em Alma Ata, tradicionalmente considerada um reduto de influência liberal. É lá que estão localizados os escritórios de um número significativo de ONGs pró-Ocidente. Finalmente, os criminosos associados a grupos nacionalistas se espalharam. Isso foi apoiado por ataques direcionados aos edifícios da Promotoria e serviços especiais, seus incêndios criminosos, apreensão de armas, pogroms em lojas e outros locais públicos.
Não se pode descartar que as ações de todas essas forças foram coordenadas a partir de um centro único, ansioso por desestabilizar o Cazaquistão. Mas é impossível retirar da liderança da república a responsabilidade pelo fato de que os seus funcionários toleraram as atividades das forças pró-Ocidente e tomaram uma posição conciliatória em relação aos grupos islâmicos. O Comitê de Segurança Nacional do país rejeitou vários pedidos para banir o salafismo (extremismo wahhabista, de origem saudita). Havia pregadores no Cazaquistão que foram treinados na Arábia Saudita e em outros países árabes.
Nosso país tem a obrigação de ver toda a trajetória dos eventos em um amplo contexto internacional. Nos últimos meses, a situação político-militar perto das fronteiras ocidentais da Rússia se deteriorou claramente. A pressão econômica, informativa, diplomática e militar sobre nosso Estado só se intensificou. A mídia ocidental, diplomatas, políticos e representantes da OTAN mais de uma vez expressaram em voz alta “preocupação” ostensiva com os planos de um “ataque à Ucrânia” e ameaçaram Moscou com “medidas preventivas abrangentes”.
No contexto do agravamento da situação em torno de nosso país, recebemos um golpe nas fronteiras do sul. Com o início do novo ano, os adversários da Rússia no cenário mundial aumentaram drasticamente as apostas em um “grande tabuleiro de xadrez”. Em 2 de janeiro, a população do Cazaquistão ficou chocada com o “presente de ano novo” das autoridades – um salto nos preços do gás. O surto de indignação foi imediatamente aproveitado pela resistência terrorista, cuja liderança conta com a experiência de combate de jihadistas na Síria e no Iraque. Ações em larga escala foram organizadas para desestabilizar a situação. Os representantes na clandestinidade conseguiram, por um lado, fundir-se com as massas de manifestantes, por outro, contar com elementos desclassificados e criminosos.
No momento, milhares de pessoas sofreram ações criminosas. Centenas de pessoas foram hospitalizadas, dezenas estão em tratamento intensivo, há assassinados. Os bandidos interferem no trabalho de ambulâncias e das instituições médicas, usam armas de fogo, intimidam a população, roubam lojas e saqueiam. A natureza de suas ações atesta as etapas planejadas, coordenadas e financiadas do exterior.
O Presidente do Cazaquistão decretou Estado de Emergência no país e demitiu o governo. Dada a escala dos acontecimentos e a intervenção de forças externas, as autoridades da república recorreram a parceiros em busca de ajuda. O Conselho de Segurança Coletiva do CSTO decidiu fornecer essa assistência para estabilizar a situação na República do Cazaquistão.
Na opinião do Partido Comunista da Federação Russa, a introdução dos soldados de paz do CSTO é uma medida forçada, mas adequada e oportuna, destinada a extinguir as chamas do próximo “golpe colorido”. O PCFR condena veementemente as ações da reação internacional e dos criminosos. Consideramos a interferência totalmente inaceitável nos assuntos internos do Cazaquistão e as tentativas de desestabilizar a Ásia Central, o que representa uma ameaça direta ao nosso país.
O PCFR defende o retorno do Cazaquistão ao curso pacífico. Consideramos que a principal tarefa do contingente de manutenção da paz é a proteção de instalações estratégicas destinadas a garantir a vida normal dos cidadãos. A população da república deve ser protegida de ataques terroristas de jihadistas que recorreram a “táticas de intimidação”.
Estamos convictos de que a missão de paz do CSTO ajudará a estabilizar a situação na região da Ásia Central. Ao mesmo tempo, acreditamos que o contingente de manutenção da paz deve ser usado apenas para os fins declarados. O envolvimento de forças de manutenção da paz em disputas internas de clãs e agrupamentos de poder é inaceitável.
Seria um erro os governantes do Cazaquistão seguir o caminho de perseguir manifestantes pacíficos, registrando a todos como “terroristas” e “combatentes”. Acreditamos que o governo deve iniciar imediatamente um diálogo com os trabalhadores e com políticos de autoridade. Cumprir imediatamente suas justas demandas para melhorar a situação socioeconômica.
O Partido Comunista observa que é chegado o momento de pôr fim às manifestações das políticas russofóbicas e anti-soviéticas na república. Uma análise completa e detalhada das atividades das organizações pró-Ocidente e da mídia é imprescindível. Durante anos, tudo isso transformou o Cazaquistão em uma arena para as atividades das forças anti-russas, incitando a população contra a amizade com nosso país.
Chegou a hora de uma discussão honesta e da eliminação das causas fundamentais da divisão social destrutiva, não apenas no Cazaquistão, mas também na Rússia. Para nosso país, soou outro sinal formidável de que políticas que geram divisão, desigualdade e pobreza inevitavelmente sobrecarregam a paciência do povo. Trabalhando pelos interesses dos oligarcas, jogando “migalhas da mesa do patrão” aos trabalhadores, qualquer governo certamente enfrentará a obrigação de responder por seus atos. Então, não ajudarão nem a repressão dura, nem a embriaguez do nacionalismo, nem as mentiras dos adeptos do anti-soviético e da russofobia.
A conclusão mais importante dos eventos do Cazaquistão é que as tentativas da burguesia nacional de integrar seus povos ao mundo do capitalismo global os tornam fantoches da oligarquia mundial. Os interesses fundamentais dos povos da Rússia, do Cazaquistão e de todos os outros Estados são abandonar esta política destrutiva. Hoje, como nunca antes, nosso programa “Dez Passos para uma Vida Digna” e a experiência única de empreendimentos populares estão em alta. Nem capital internacional nem de procedência doméstica, mas as massas dos trabalhadores devem se tornar os donos de seus países!
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