Um dia após promoverem protestos em todo o país reivindicando reposição das perdas salariais, as entidades representativas dos policiais federais e demais servidores da segurança pública lançaram uma nota repudiando declarações do presidente que sinaliza mais uma vez que o governo pretende dar apenas 5% de reajuste, sem negociar as reivindicações específicas das carreiras policiais.
“É de se estranhar a possibilidade de cancelamento da reestruturação por parte do presidente da República. Ele próprio divulgou, de forma exaustiva, o compromisso com a reestruturação em função da importância, complexidade e responsabilidade do trabalho desempenhado pelas forças de segurança pública da União”, diz a nota, assinada pela Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), Federação Nacional dos Policiais Federais (FENAPEF), Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (FENADEPOL) e Sindicato Nacional dos Servidores do Plano Especial de Cargos da Polícia Federal (SINPECPF).
Segundo o texto, divulgado depois que Bolsonaro confirmou, em entrevista à Rádio Metrópole, de Cuiabá (MT), o reajuste de 5% aos servidores, “os policiais federais não receberão esse duro golpe calados”.
Uma das principais bases de apoio de Bolsonaro na eleição de 2018, os policiais sempre esperaram um tratamento especial do governo e, agora, se sentem “traídos”.
Para o delegado federal Luciano Leire, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), a atual postura de Bolsonaro em relação à categoria é um “desrespeito”.
“Caso isso aconteça, o legado do presidente da República deste governo será de completa desvalorização dos policiais federais. Nós não ficaremos calados”, disse.
Segundo a delegada federal Tania Prado, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Federal do Estado de São Paulo (SINDPF-SP), “nunca ocorreu tamanho descaso na esfera federal como agora”, e por isso, o “nível de indignação dos policiais está elevado”.
“O governo se tornou o principal agente de enfraquecimento das polícias. O presidente, com base em falácias, não apoia o projeto de reestruturação das polícias da União, mesmo com o orçamento de R$ 1,7 bilhões aprovado e reservado para tanto. Não há óbices legais, mas simplesmente falta de vontade política do presidente”, diz a delegada.
No documento, as entidades afirmam que “em diferentes governos, a Polícia Federal conquistou avanços institucionais importantes, necessários para a credibilidade do trabalho das categorias que compõem o órgão”, e que “o atual governo, no entanto, se posiciona como exceção, fragilizando a instituição com sucessivas, frequentes e injustificadas trocas em postos de comando e, agora, com o possível cancelamento, também injustificado, da necessária reestruturação”.
E cobram a promessa de Bolsonaro: “O presidente deixa, mais uma vez, de honrar com a palavra quanto à valorização e fortalecimento da Polícia Federal, buscando ainda dividir as forças de segurança”.
“A segurança dos brasileiros não é gasto e nem favor prestado por um governante. É investimento e obrigação do Estado. Dotar as instituições da estrutura adequada para o desempenho das funções não é uma concessão feita às carreiras da PF. É uma necessidade para aprimorar o combate ao crime, evitar prejuízos financeiros ao erário, retornar bilhões aos cofres públicos e melhorar a segurança da população para que o país possa superar crises e dificuldades”, diz o documento.