Renan não indicou quem deve ser atingido com a mudança de condição. Na ocasião, o relator também fez críticas ao presidente da República e disse que Bolsonaro “induz a continuidade desse morticínio”
O relator da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19, no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL) afirmou que a comissão vai “evoluir” de fase e mudar a condição de testemunhas para a de investigados de algumas pessoas que já prestaram depoimento falho, contraditório e/ou falso.
O relator, no entanto, não indicou quem deve ser atingido com a mudança de condição e/ou status dessas pessoas.
A Comissão, instalada em meados de abril, investiga ações, omissões e inações do governo federal no enfrentamento à pandemia. Até o momento, 12 testemunhas já foram ouvidas na CPI, entre elas o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e os ex-ministros da pasta Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Luiz Henrique Mandetta.
Na gestão Pazuello, num nexo temporal, algo em torno de 10 meses, desde que assumiu a pasta (16 de maio, interinamente), a pandemia piorou consideravelmente no Brasil. Em meados de maio de 2020, a média móvel de novas mortes por Covid-19 era de pouco mais de 700 por dia. Em meados de março de 2021, já eram mais de 1.800 mortes diárias pela doença. De lá para cá sou aumentou a média móvel de óbitos.
O Brasil registrou 2.008 mortes por Covid-19 nas últimas 24 horas, totalizando no sábado (12), 486.358 óbitos desde o início da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes nos últimos 7 dias chegou a 1.961. Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de +6%.
EVOLUÇÃO DAS INVESTIGAÇÕES
“Eu queria aproveitar a oportunidade para comunicar que nós estamos ultimando estudos para evoluir de fase na investigação. A partir de agora, nós vamos, com relação a algumas pessoas que por aqui já passaram, tirá-las da condição de testemunha e colocá-las definitivamente na condição de investigadas”, afirmou Renan Calheiros.
A medida, segundo ele, serve para demonstrar “a fase seguinte do aprofundamento da nossa investigação”, disse o relator.
“Nós precisamos saber o que aconteceu e o que poderia ter sido feito diferentemente para diminuir o número de vidas perdidas. Porque esta CPI tem feito a sua parte, cumprido o seu papel, mas do ponto de vista do que é sua obrigação, que é dissuadir, inibir os fatos, ela [essa] não tem conseguido atingir o seu objetivo”, disse o relator.
A declaração foi feita após Renan criticar posicionamentos recentes do presidente Jair Bolsonaro, entre esses, o de defender o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção por vacinados e pessoas que já tiveram Covid-19.
“CONTINUIDADE DESSA TRAGÉDIA”
“Nós temos um Jim Jones na Presidência da República. A diferença é que o americano induziu ao suicídio, e o que está na Presidência da República do Brasil induz a continuidade dessa tragédia e desse morticínio. Isso não pode continuar a acontecer”, afirmou o relator.
Jim Jones era um pastor e fundador do Templo Popular, seita pentecostal cristã. Em 18 de novembro de 1978, 918 pessoas morreram em misto de suicídio coletivo e assassinatos em Jonestown, assentamento fundado por Jones, na Guiana.
DESDOBRAMENTOS DA CPI
Bolsonaro não é alvo formal da CPI — o próprio relator entende que a Comissão de inquérito não tem a prerrogativa de convocar o presidente da República.
No entanto, auxiliares e ex-auxiliares diretos do presidente no enfrentamento à pandemia já prestaram depoimento. Todos eles falaram na condição de testemunha.
Por outro lado, cabe à CPI, ao fim dos trabalhos, caso constate irregularidades, pedir o indiciamento e a responsabilização de entes públicos ao Ministério Público.
M. V.
Com informações do portal G1